Nas facetas de roqueiro e trovador, Jair Naves leva rock em português ao C6
Figura relevante da cena musical independente brasileira, Jair Naves recebeu uma tarefa ingrata no C6 Festival. Ele abriu os trabalhos no domingo (19), com a apresentação na Tenda MetLife, às duas horas da tarde, quando ainda bem pouca gente se aventurava pelo gramado do Parque Ibirapuera em busca dos shows do dia. Por isso, pouca gente viu, mas ele comprovou mais uma vez que tem muito a dizer.
Jair Naves trabalhou muito tempo com a banda Ludovic, mais um daqueles casos incompreensíveis de um grupo bem bacana e bem resolvido musicalmente que não conseguiu ir além da esfera de uma adoração cult. Quando ainda estava com a banda, ele começou sua carreira solo, em 2012. E, logo de cara, provavelmente ganhou o prêmio de título de álbum mais longo ao lançar "E Você Se Sente numa Cela Escura, Planejando a Sua Fuga, Cavando o Chão com as Próprias Unhas".
De lá para cá foram mais três álbuns solos, o último em 2022, "Ofuscante a Beleza que Eu Vejo", que não teve seu repertório muito contemplado na apresentação no festival. Na verdade, os fãs puderam assistir a uma recapitulação da carreira de canções com letras espertas e reflexivas. E a performance do cantor e compositor no Ibirapuera acabou realmente ganhando uma aura de final de um ciclo.
Jair lançou neste mês um novo single, "Névoas". A canção é puro Jair Naves, com sua letra apontando para a fragilidade humana, as questões existenciais e a inserção do desconhecido que marca todo o trabalho do compositor.
Mas é preciso reconhecer que "Névoas" é um pouco mais melódica do que o habitual. Seria essa uma dica do que vai estar no álbum que ele pretende lançar ainda este ano? No palco do C6, a plateia ganhou a convicção de que ele não precisa mudar seus caminhos musicais para agradar. O rock em português bem agitado que ele produz tem um lugar único na cena. Nas narrativas poéticas, nada é fácil, a trilha é espinhenta e as recompensas quase nunca aparecem no final.
Foi um show curto, de 40 minutos, que não conseguiu contemplar toda a sua produção solo, que inclui também os álbuns "Trovões a Me Atingir" (2015) e "Rente" (2019), para boa parte da crítica seu melhor trabalho, mesmo com os vários prêmios recebidos por "Ofuscante a Beleza que Eu Vejo". Jair Naves fica no meio do caminho entre o roqueiro e o trovador, mas poderiam ser até mais facetas do artista, porque em todos os momentos fica evidente a preocupação intelectual e sentimental que ele dedica à escrita das canções.
Como aconteceu com sua banda Ludovic, a única coisa que falta a Jair Naves é mais visibilidade. A tarefa fica difícil por sua escolha de não enveredar pelas canções fáceis e solares. Mas um festival que busca alternativas na música como o C6 não deixa de ser um caminho para esse maior reconhecimento. Felizes aqueles que assistiram ao show e agora vão esperar alguns meses para ver se a nova proposta musical de Jair Naves será tão nova assim.
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