Francisco, el Hombre explica despedida dos palcos: 'Decisão em conjunto'

A banda Francisco, el Hombre, formada por Mateo, Piracés-Ugarte, Sebastian, Lazúli, Helena e Andrei, está se despedindo dos palcos. Eles se preparam para o lançamento do último álbum juntos, "Hasta el Final", previsto para chegar à plataformas digitais em 8 de maio.

Na última quarta-feira (27), o grupo lançou um single do projeto, "O que Existe É o Agora", em colaboração com Lenine. Todas essas novidades foram, de certa forma, impactadas pela chegada de Lula (PT) à presidência.

Na estrada há 11 anos, eles foram responsáveis por lançarem músicas políticas, que "colocam o dedo na ferida", como descreve Mateo, o vocalista. "A gente passou muito tempo sendo uma banda da oposição, e trazendo nossas músicas para um conteúdo político. Pedindo mudança social para já, apontar tretas", contou em entrevista a Splash.

Francisco, El Hombre levanta bandeira do MST durante show no Rock In Rio 2019
Francisco, El Hombre levanta bandeira do MST durante show no Rock In Rio 2019 Imagem: CLAUDIA MARTINI/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Com o novo trabalho, ele conta que a Francisco, el Hombre se permitiu voltar para temas que marcaram o início da banda: questões existenciais, sobre o dia a dia. "Nós já fizemos muito isso no passado. Nos permitimos tocar em outros temas [no álbum novo]." Ele garante, no entanto, que o disco também conta com faixas politizadas.

Esse momento de se permitir falar sobre outros tópicos, segundo Mateo, é resultado de um Brasil que vive fora do governo Bolsonaro, ex-presidente do país. "A gente não é mais bombardeado todos os dias com notícias absurdas. A gente tem agora um governo centro-esquerda em que existe diálogo, pelo menos", disse.

Trabalhamos muito para eleger [o Lula], colocamos nossa cara a tapa para isso. Claro que existem pontos para criticar, afinal, o papel de um governo é esse, ser cobrado, criticado. O papel do eleitor não é só eleger, é também cobrar. Mas justamente pelo fato de existir um governo que dialoga com a gente, conseguimos falar sobre outras coisas. Mateo, da banda Francisco, el Hombre

A despedida

O vocalista reforçou que a decisão de deixar os palcos não foi causada por nenhuma intriga. "Foi em conjunto. Muita gente quando vê banda parando acha que é porque alguém quer sair. Nesse caso, não. Queremos juntos fazer essa pausa, respirar um pouco", conta.

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Para ele, seu papel enquanto cantor na Francisco —trabalhando, é claro— é diferente da dinâmica corporativa, por exemplo. "Uma banda é feita de paixão, de tesão. A gente precisa prezar por isso acima de qualquer coisa."

A banda Francisco, el Hombre e as cantoras Liniker e Maria Gadú homenagearam Marielle Franco no Lollapalooza 2018
A banda Francisco, el Hombre e as cantoras Liniker e Maria Gadú homenagearam Marielle Franco no Lollapalooza 2018 Imagem: Felipe Gabriel/UOL

Ainda na comparação com a vida numa empresa, ele ressalta que, durante essa mais de uma década, eles não conseguiram tirar "nem duas semanas de férias". "No tesão, a gente acaba topando tudo. Honestamente, a gente precisa desse ócio criativo para poder crescer." Em 2024, o período de descanso veio e, com ele, a percepção de que eles precisavam de mais.

A gente percebeu que não era saudável, precisamos ter esse tempo. A parada de estar tocando todos os fins de semana para chegar na segunda-feira, que é o primeiro dia da semana, é o nosso dia de descanso. Mas a gente começa a trabalhar, reuniões, gravações, produções. Mateo

'Hasta El Final'

Assim como o nome do álbum indica, "até o final", o último disco da banda reflete o sentimento que os motivou para essa despedida. Mateo antecipa que trata-se de um trabalho conceitual e que conta com "mais participações do que faixas".

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É o álbum mais amadurecido nosso. A gente conseguiu se desafiar. Fala muito sobre o que estamos passando, a despedida, abrir espaço para o novo, aproveitar o agora. Mateo

O vocalista, para a alegria dos fãs, descreve o trabalho como um até logo da banda. "Mesmo que a gente pare, vamos continuar aproveitando. A gente vai continuar até o final, isso é uma pausa, não quer dizer que vamos parar para sempre."

Nos bastidores da produção do disco, Mateo conta que o clima de nostalgia também pairou sobre eles. Existem faixas que foram compostas para o trabalho e outras que foram revisitadas. "Serão inéditas para vocês agora, mas para a gente elas têm 8, 9 anos de idade e nunca nasceram." A decisão de revivê-las veio justamente da maturidade que ele citou sobre o conjunto da obra.

Junto com o lançamento do disco, a banda vai dar início a uma turnê para, de fato, se despedir dos fãs. Faltando meses para subir aos palcos e acenar de longe para o público, Mateo se sente saudosista.

Cada show agora já é uma possibilidade de estar naquela cidade pela última vez. Tudo começa a ficar mais emocionante. Mateo

Ele espera passar a essa emoção para a plateia e quer que quem vai prestigiar os shows também se emocione com eles. "É para chorar mesmo."

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