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Morte da mãe, fome: assassinado aos 20, MC Daleste teve infância difícil

MC Daleste morreu em 2013, aos 20 anos, após ser alvejado com dois tiros - Reprodução/Facebook
MC Daleste morreu em 2013, aos 20 anos, após ser alvejado com dois tiros Imagem: Reprodução/Facebook

De Splash, em São Paulo

08/07/2023 04h00

Daniel Pedreira Sena Pellegrini, o MC Daleste, teve infância e adolescência difíceis antes de atingir o auge da fama, quando foi assassinado em julho de 2013, aos 20 anos.

A morte do funkeiro, que completa 10 anos na sexta-feira (7), segue sem respostas.

Infância

Deusimar, a mãe de Daleste, sofreu um aneurisma quando ele tinha 5 anos.

"Ela teve um aneurisma, ficou 11 anos acamada. Ela perdeu os movimentos do lado direito e perdeu a fala também. Voltou um 'bebezinho', usando fralda e tudo. E a gente teve que passar por esse processo. Foi muito difícil na nossa vida", contou a Splash Carolina Sena Pellegrini, irmã do MC.

Aos 15 anos, com a mãe acamada, Carolina assumiu parte da criação dos irmãos Daniel e Rodrigo, de 5 e 10 anos. "Minha mãe sempre foi uma mãe muito presente pra gente. Eu não sabia mesmo fazer nada, porque ela fazia tudo, sabe? Então, eu fiquei meio sem chão, tive que aprender mesmo na raça".

A família morava em um barraco de madeira. "Nossa infância foi de muita pobreza. A casa não tinha um banheiro. Às vezes, a gente não tinha o que comer, muitas vezes minhas primas que levavam as coisas pra gente comer, e eu não tenho problema nenhum em falar isso, muito pelo contrário, tenho muito orgulho do que a gente passou e de tudo que a gente se tornou".

Deusimar morreu em 2009, 4 anos antes do filho. No curto período, Daleste começou a se dedicar à música e se tornou um expoente do funk ostentação, gênero que ganhava espaço na época.

Após a morte do MC, Carolina achou um caderno de anotações do irmão. "Tem uma carta muito linda que ele fez para minha mãe, quando ela faleceu [...] Nessa carta ele falava: 'Ai, mãe, o que mais me dói é ter tudo e não poder te dar nada. Meu grande sonho era poder te ver andando de novo'".

Ele atingiu o auge, eu sou muito feliz por isso, mas ele não tinha ali a pessoa que ele mais queria ajudar, né? Carolina Sena Pellegrini

Morte de Daleste

O artista se apresentava em uma festa julina no CDHU do bairro San Martin, para cerca de 5 mil pessoas. Alvejado de raspão na altura do braço pelo primeiro tiro, seguiu com o show por não perceber pelo que foi atingido.

Alvejado novamente, no tórax, Daleste caiu sentado no palco. O momento foi gravado e publicado nas redes sociais à época.

Socorrido, ele chegou a pedir que uma foto sua fosse tirada, "para mostrar ao povo que estava bem".

O cantor foi levado para o Hospital Municipal de Paulínia, mas morreu no centro cirúrgico à 0h55.

O laudo divulgado pelo Instituto Médico Legal (IML) apontou que o segundo tiro atingiu o tórax e perfurou o estômago, o fígado e o pulmão direito do artista. Segundo o laudo, os ferimentos causaram sangramento e a morte foi provocada por anemia aguda.

Investigação

A polícia realizou a reconstituição do crime na semana seguinte à morte. Na ocasião, a perícia determinou que:

O atirador estava em uma área de 30 a 40 metros de distância do palco.

Os tiros teriam sido dados a uma altura de 1,70m a 1,80m do solo.

A polícia não conseguiu precisar qual arma foi usada, porque não foi encontrado nenhum projétil. "Acreditamos que tenha sido usada uma pistola. O que temos certeza é que o autor sabia atirar bem", disse o delegado Rui Pegolo à época.

"Olhando a cena do crime de cima do palco, o tiro (fatal) veio da esquerda para a direita. A bala atingiu o abdômen do cantor, do lado esquerdo, e transfixou seu corpo".

Hipóteses

A polícia trabalhou com duas principais hipóteses: crime passional ou desavença com o contratante do show.

Uma testemunha afirmou que o funkeiro foi assassinado por ter se envolvido com a namorada de um integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital), segundo o Balanço Geral (Record).

Em 2014, os inquéritos foram transferidos de Campinas para São Paulo. A justificativa para a mudança foi "oxigenar as investigações".

No entanto, devido à falta de provas, o caso foi arquivado em 2015, sem nunca ter apontado um suspeito.

Em entrevista na semana passada a Splash, Carolina Sena Pellegrini critica a investigação da polícia. "A gente lutou muito pro caso vir aqui pra São Paulo, pra DHPP, porque não tivemos respaldo nenhum da polícia de lá, de Campinas", disse.

Splash tentou contato com o delegado Rui Pegolo, mas a reportagem foi informada que ele estava de férias. A SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) enviou nota:

"O caso foi investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), sendo o inquérito relatado e remetido ao Poder Judiciário em 28 de dezembro de 2015. Em julho de 2020 a família da vítima pediu reabertura do inquérito, no entanto, como não foi apresentada nenhuma nova informação ao fato, a solicitação foi indeferida pelo Poder Judiciário".

Música

O artista vivia o auge do sucesso quando foi assassinado. Daleste, cujo nome artístico fazia referência à zona Leste de São Paulo, era um expoente do funk ostentação. Suas letras eram, em maioria, sobre dinheiro, marcas de roupa, carros, bebidas, joias e mulheres.

Deu início à carreira em 2008, incentivado pelo irmão, Rodrigo. Chegou a ser criticado pela música "Apologia", em que dizia "matar polícia é nossa meta".

Entre seus principais hits estão as músicas "Gosto Mais do Que Lasanha", "Mais Amor, Menos Recalque" e "São Paulo".