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Inovação? Demissão de Leão Lobo escancara crise generalizada na TV

Bárbara Saryne

Colaboração para Splash, de São Paulo

18/06/2023 04h00

Não é de hoje que artistas veteranos e profissionais consagrados do jornalismo têm sido dispensados da televisão para que novos talentos, com remuneração mais baixa, ganhem espaço na programação.

Demitido da TV Gazeta no fim do mês passado, o jornalista Leão Lobo, 69, seria apenas mais um na lista. Ao expor os bastidores do seu desligamento, no entanto, o veterano furou a bolha e trouxe luz para um problema que vai além da troca de profissionais experientes por novatos.

A TV aberta passa por uma crise que não se restringe ao setor financeiro. O problema é generalizado. As grades de programação já não atraem mais o público de outrora, e a falta de recursos para investir em um momento como esse resulta em demissões que trazem a falsa sensação de inovação, mas aumentam ainda mais a dor de cabeça dos diretores.

Claudino Mayer, professor e pesquisador de Cinema e Audiovisual na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), chama atenção para essa ilusão que muitas vezes criamos ao acreditar que todas as decisões das emissoras frisam uma busca por algo melhor. Para ele, a demissão de Leão Lobo escancara o corte de gastos que tem acontecido em todos os canais e a falta de consciência dos novos rumos da comunicação.

"Se a Globo, que é a nossa principal emissora, anda fazendo tantos cortes, as outras empresas se sentem ainda mais confortáveis para mexer também. A Globo está quase perdendo a identidade com tantos atores saindo. É claro que as demais vão acompanhar", justifica o especialista para Splash, frisando que a TV não morreu, apenas mudou de tamanho.

Inovação ou enrolação?

Apresentado por Patrícia Abravanel, programa especial vai ao ar neste domingo - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Apresentado por Patrícia Abravanel, programa especial vai ao ar neste domingo
Imagem: Reprodução/Instagram

Apresentar novos rostos ao público da TV, embora não seja uma solução milagrosa para superar a fase ruim, não deixa de ser uma tentativa para atrair o público ao que tem sido produzido atualmente. Só é um equívoco achar que inovar é, necessariamente, trocar profissionais mais velhos pelos mais jovens e engajados na internet. O telespectador valoriza o que já conhece e não gosta de sentir que perdeu em qualidade.

Embora seja um caso específico, a escolha de Patrícia Abravanel para substituir Silvio Santos aos domingos é um exemplo positivo apontado pelo pesquisador Claudino Mayer. A filha do comunicador não tem a mesma bagagem que o pai, mas é um rosto familiar para o público.

"Quem assiste continua sentindo aquela familiaridade, as pessoas já estavam acostumadas com ela no dia a dia", diz ele, frisando que as mudanças não precisam ser tão internas como a que ocorreu neste caso, mas precisam ter sentido para o público.

Trocar um profissional mais velho por um mais novo não é pecado, assim como escalar um jovem para substituir o mais experiente, seja por falta de recursos financeiros ou com a intenção de inovar, nem sempre é negativo. O que as emissoras precisam é ter consciência de que os tempos mudaram e a pior crise não é a financeira, e sim a de identidade.