Topo

Rainha negra em 1800? como nova 'Bridgerton' aborda racismo na realeza

De Splash, em São Paulo

05/05/2023 04h00

Quando "Bridgerton" estreou em 2020, um dos temas mais comentados sobre a série foi a escolha de seus produtores de retratar personagens importantes da realeza britânica da ficção, como a própria rainha Charlotte (Golda Rosheuvel) e o galã Duque de Hastings (Regé-Jean Page), como pessoas negras.

O que veio antes disso no universo da série é tema de um spin-off da série original, que estreou na quinta-feira (4) na Netflix e tem Charlotte como grande protagonista, coroando uma personagem que foi sucesso entre os fãs pelos seus comentários ácidos.

Em "Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton" vemos a jornada da rainha ainda jovem, vivida por India Amarteifio, ao trono britânico. O spin-off vai mostrar a ascensão social da monarca e dos membros negros da realeza da ficção, o que não acontece sem uma tensão, ao menos velada, entre os nobres britânicos.

Coincidência ou não, a estreia da série acontece em um momento sensível para o tema do racismo na monarquia britânica da vida real. Meghan Markle, esposa do príncipe Harry, estará ausente da coroação de Charles 3º, que acontece neste sábado (6), após uma série de desgastes que incluíram uma carta ao novo rei falando sobre racismo na realeza.

India Amarteifio e Corey Mylchreest dão vida à rainha Charlotte e ao rei George - Liam Daniel/Netflix - Liam Daniel/Netflix
India Amarteifio e Corey Mylchreest dão vida à rainha Charlotte e ao rei George
Imagem: Liam Daniel/Netflix

Série atual

Situada entre os séculos 18 e 19, a história é atemporal, e se debruça sobre "temas de hoje", como define a atriz Golda Rosheuvel, questionada por Splash sobre como foi viver a personagem em uma história que se passa mais de 200 anos atrás.

A forma como Shonda Rhimes escreveu as personagens, mesmo que em um drama histórico, faz com que nos identifiquemos com elas. Os temas discutidos na história têm a ver com o mundo em que vivemos hoje. Golda Rosheuvel, sobre a showrunner de 'Rainha Charlotte'

Quando os livros de Julia Quinn foram adaptados para "Bridgerton" estrear na Netflix, os criadores da série se inspiraram em uma investigação genealógica que movimenta (e divide) os historiadores britânicos: a de que a verdadeira Sophie Charlotte de Mecklenburg-Strelitz (1744-1818), rainha consorte enquanto esposa do rei George 3º (1738-1820), seria descendente direta de uma vertente africana da casa real portuguesa.

Essa tese, que se tornou mais conhecida após o casamento do príncipe Harry com Meghan Markle, estimulou que se criasse na história de "Bridgerton" a história em que a rainha Charlotte é uma personagem negra e a sua ascensão ao poder com George 3º tem impacto na vida das pessoas não-brancas do Reino Unido. Na vida real, a escravidão no Reino Unido só foi extinta em 1833, 15 anos após a morte da verdadeira Charlotte.

Outra personagem negra apresentada na nobreza durante as duas temporadas de "Bridgerton" e que volta em "Rainha Charlotte" é Lady Danbury. Na nova série, ela faz de tudo para manter seu título real e ser respeitada pela monarquia.

Quem vive Danbury na juventude é a atriz Arsema Thomas. A Splash, ela vibra com a oportunidade. "É muito raro ter a chance de interpretar uma personagem orgulhosamente preta e, além disso, amada pelos fãs".

Doses de humor

E se engana quem pensa que esses temas tão importantes são tratados sem humor. Assim como "Bridgerton", "Rainha Charlotte" carrega um tom cômico com o enredo — especialmente quando Golda Rosheuvel entra em cena.

"Encontramos comédia nas situações em que ela se envolve. É importante poder rir da vida, das dificuldades e complexidades", diz a atriz. "A escrita é tão sincera que vemos a verdade nela, e isso cria a comédia. Rimos quando vemos algo que nos reflete e se relaciona com nossas próprias vidas."

Com produção e roteiro de Shonda Rhimes e direção de Tom Verica, "Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton" está disponível na Netflix.