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'Pornô de tortura': série do criador de Euphoria tem caos nos bastidores

Série "The Idol" é produzida por Sam Levinson e The Weeknd - HBO/A24
Série 'The Idol' é produzida por Sam Levinson e The Weeknd Imagem: HBO/A24

De Splash, em São Paulo

02/03/2023 09h26

A nova série de Sam Levinson ("Euphoria") e The Weeknd foi citada por muitos veículos e listas especializadas como uma das mais aguardadas para o ano de 2023. A aparente fórmula de sucesso da atração, no entanto, se transformou em uma receita para dor de cabeça graças aos muitos problemas de bastidores, alterações de roteiro e mudança de direcionamento que, segundo algumas fontes, alteraram drasticamente a mensagem da atração.

A série, segundo a sinopse oficial, acompanha Jocelyn (Lily-Rose Depp), uma estrela do pop que tenta sobreviver nos bastidores da indústria da música, e acaba caindo nos encantos de Tedros (Abel Tesfaye, o The Weeknd), um misterioso dono de uma boate que, em segredo, lidera um culto semelhante ao NXIVM e à Cientologia.

Inicialmente, a série teria direção de Amy Seimetz ("The Girlfriend Experience). A cineasta foi afastada do projeto depois de praticamente 80% dos seis episódios já finalizados. A reportagem da revista Rolling Stone ouviu dezenas de fontes ligadas à produção do seriado, que contam que os problemas nos bastidores já existiam antes da demissão de Amy — e só se intensificaram nos meses seguintes.

Quando a demissão de Amy foi anunciada, em abril do ano passado, o Deadline reportou que Abel estava incomodado com o fato de a "perspectiva feminina" estar predominando na atração. Seu personagem também está no centro na trama, mas a maioria dos holofotes estava sobre a personagem de Depp.

Fontes da revista afirmam que Amy Seimetz estava "destinada a falhar desde o início". Sete semanas antes do início das filmagens, ela encontrou roteiros pela metade, uma agenda apertada e expectativas "praticamente inalcançáveis" da HBO.

A mudança drástica de direcionamento teria vindo após Sam Levinson, que já era produtor executivo, assumir o cargo de direção e receber total carta-branca para fazer alterações na história e levá-la para um rumo diferente daquele inicialmente planejado. Além das alterações diárias de roteiros, personagens foram descartados, uma nova leva de astros da música foi adicionada ao elenco e não parecia haver limites.

"Eu assinei contrato para uma sátira obscura da fama e do que é o modelo de fama no século 21. As coisas às quais sujeitamos nossos artistas, as forças que colocam as pessoas sob holofotes e como isso pode ser manipulado no mundo pós-Trump", diz um membro da produção. "[A série] foi de uma sátira àquilo que estava satirizando."

Quatro fontes da revista afirmam que toda a abordagem inicial proposta por Seimetz, que mostraria a personagem de Lily-Rose sendo vítima de uma figura predatória da indústria e lutando para voltar ao controle de si mesma, foi alterada por Levinson. A nova versão seria "uma história de amor degradante com uma mensagem vazia que alguns membros da equipe consideraram ofensiva".

Por que Levinson tinha tanta liberdade?

As fontes afirmam que o sucesso de "Euphoria", um grande atrator de público e de prêmios para Zendaya, fez com que Levinson ganhasse confiança. Em determinado momento, ele supostamente parou de enviar os roteiros para a HBO e para líderes de alguns departamentos.

"Fiquei com a sensação de que o clima no set era 'O que a HBO vai fazer, cancelar tudo? Ah, claro. Se eles querem uma terceira temporada de Euphoria, eles vão me dar o que eu quero. Vamos filmar o que queremos e se [os executivos da HBO] tiverem um problema com isso, é problema deles]", explica uma fonte ligada à produção.

As mudanças promovidas por Levinson teriam sido para intensificar as cenas de sexo e nudez, e torná-las mais "impactantes" e "violentas". Assim que ele assumiu a produção, alguns atores e atrizes iniciantes que estavam no elenco foram descartados, e alguns nomes mais chamativos (como Rachel Sennott, Dan Levy, Hank Azaria e a estrela de k-pop Jennie, do Blackpink) foram adicionados ao elenco. A reportagem avisa, aliás, que a participação de Jennie é "piscou-perdeu": ela tem pouco tempo de tela e três ou quatro falas por episódio.

A maior preocupação de membros da equipe, no entanto, seria a de que a nova versão de Levinson estava se distanciando da mensagem original da série. "Era uma série sobre uma mulher se encontrando sexualmente, e se tornou uma série sobre um homem que abusa dessa mulher e ela ama."

A reportagem dá dois exemplos de cenas que foram comparadas a "pornô de tortura" por membros da equipe. Ambas foram escritas mas, segundo fontes, não chegaram a ser gravadas.

Em uma delas, Tedros (o personagem de The Weeknd) esmurra o rosto de Jocelyn, e a personagem ri e pede para ser agredida novamente, causando uma ereção em Tedros. A outra cena seria um cenário em que a personagem precisaria carregar um ovo em sua vagina e, se ela deixasse cair ou quebrar, Tedros se recusaria a estuprá-la. Isso deixaria Jocelyn em surto e pedindo para ser estuprada, porque ela acreditava que isso era a chave para o seu sucesso.

"Era tipo, 'O que é isso? O que estou lendo aqui? Era pornô de tortura", diz uma fonte.

O clima deixou muitos membros da produção reticentes de trabalhar com Levinson novamente, que eles dizem estar "desenvolvendo uma reputação de criar caos nos bastidores".

"Foi um exemplo forte do quão longe [Levinson] pode forçar a HBO, e eles continuam encobrindo porque ele traz dinheiro", finaliza uma fonte.

Em nota enviada à revista Rolling Stone a respeito da reportagem, a HBO afirmou que The Idol é um de seus programas "mais originais e provocativos", e completou que "o time criativo está comprometido para criar um ambiente seguro, colaborativo e respeitoso".

Já The Weeknd fez uma publicação no Instagram provocando a revista, com um clipe da própria série.

No trecho, o personagem de Dan Levy diz que a Rolling Stone o procurou querendo fazer uma capa com Jocelyn. Tedros, então, responde dizendo que a publicação é irrelevante. "A Rolling Stone tem 6 milhões de seguidores no Instagram, metade provavelmente robôs. E Jocelyn tem 78 milhões, presumo que todos reais. Ela faz uma sessão de fotos, marca o perfil deles, eles ganham os seguidores dela. Mais dinheiro para a Rolling Stone, e nada para Jocelyn."

Na legenda, Abel perguntou: "Rolling Stone, nós irritamos vocês?" O editor-chefe da revista, Noah Shachtman, respondeu em seu Twitter com fotos de duas capas da revista com o próprio The Weeknd, e esclareceu: "De forma alguma!"

Enquanto isso, a estreia de "The Idol" segue planejada para "algum momento" de 2023.