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Bruno Fagundes revelou ser gay aos pais com 15 e sofreu exposição na mídia

Bruno Fagundes - Fábio Audi
Bruno Fagundes Imagem: Fábio Audi

De Splash, no Rio

16/02/2023 04h00

Era uma tarde de 3 de janeiro quando Bruno Fagundes, 33, compartilhou uma foto ao lado do namorado, o também ator Igor Fernandez, no Instagram. Era a primeira vez que ele tornava pública uma relação amorosa. Isso foi suficiente para ele virar um dos assuntos mais comentados das redes sociais.

Apesar de falar publicamente sobre sua orientação sexual apenas agora, o tema não era tabu no seu núcleo familiar. Bruno contou ser gay aos pais, Antonio Fagundes e Mara Carvalho, quando tinha 15 anos.

Em conversa com Splash, Bruno diz se sentir feliz, maduro e realizado — após o término de "Cara e Coragem", ele se prepara para estrear uma nova peça, "A Herança".

No papo, ele abre o coração sobre os dilemas ligados à sexualidade, fala da boa relação com os pais e expõe traumas que envolvem a exposição midiática na adolescência e juventude.

No meu âmbito íntimo, com amigos e família, nunca foi tabu. Não escondi absolutamente de ninguém. Não vivi vida dupla, não tive intenção, nem capacidade de fazer isso. Mas no âmbito público, sempre fui aconselhado a fazer isso (esconder).

Hoje, aos 33, ele se sente leve para falar da sexualidade e acredita que pode influenciar positivamente outras pessoas da comunidade LGBTQIA+, afinal, a representatividade é poderosa. Mas, no início da carreira, não era bem isso. O ator foi pressionado a esconder quem era por agentes e profissionais do meio.

"Sempre me falaram que eu ia fracassar por ser gay. Teve um período que me causei muita dor, me emburaquei, tentei desviar da minha natureza. Nesses momentos, eu me comunicava com quem amava, a minha família. Foi muito cedo quando falei (que era gay), tinha 15 anos, nem sabia me explicar. Falar tão jovem aos meus pais foi, de certa forma, um susto. Agora, está 100% resolvido."

Tabu na sociedade

Bruno e Igor se conheceram nos bastidores da novela "Cara e Coragem", que chegou ao fim no dia 13 de janeiro na Globo. No início do ano, eles aproveitavam momentos em meio à natureza quando tiraram a foto que viralizou.

"Fui configurado minha vida inteira a travar por ver meus pais sendo tão expostos, a parte emocional foi invadida na época do divórcio. Então, fui configurado a guardar o que é meu para mim. Entendi que era uma forma saudável de existir, sabe? Pela primeira vez, eu pensei: 'por que não (postar a foto)? Não tem nada de errado'... De forma alguma foi algo pensado, planejado, foi simplesmente um ato puro."

Bruno e Igor atuaram juntos em "Cara e Coragem" - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Bruno e Igor atuaram juntos em "Cara e Coragem"
Imagem: Reprodução/Instagram

Por que tanto comentário em torno da foto?

  • Descrição de Bruno: "Em qualquer relacionamento, eu sempre fui muito discreto. Já tive relacionamentos héteros e fui discreto com eles também. Gostaria de me proteger da superexposição. Eu gosto de aparecer através do trabalho."
  • Homofobia (nem tão) velada: "É importante prestar atenção em como funciona o sistema de celebridades. Será que não há uma homofobia velada? Eu só postei uma foto beijando o rosto de um homem e isso virou alarde nacional."

A foto gerou muito burburinho, mas a relação dos dois é leve. Bruno diz que a relação nasceu da "mais pura e honesta vontade de estar perto". Igor, que já havia falado da própria sexualidade publicamente há anos, acolheu Bruno após a repercussão.

Fiz amizades importantes na novela, mas ele foi o mais rápido. Virou quase imediatamente meu amigo. A gente só dá risada e não se preocupa muito com o futuro, é a nossa personalidade. A gente simplesmente gosta de estar perto. Meus amigos já são apaixonados por ele.

Descoberta

Bruno conta que descobriu ser gay bem cedo. Como a maioria das vivências LGBTs, não tinha referências gays que o ajudassem a se entender quando criança e adolescente. No entanto, a sua trajetória ainda tinha uma particularidade: a superexposição por ser filho de famosos.

"Enquanto eu mesmo estava tentando entender o que era a minha própria vida e sexualidade, existia uma lupa maior em cima, uma certa pressão gerida pelo sistema de celebridade. Isso me amedrontou muito mais. Me incomodava quando as pessoas sabiam quem eu era sem eu saber quem era aquela pessoa. Eu estava só vivendo a minha vida e todo mundo me observava, eu passava um monte de bullying na escola por ter pais famosos."

Bruno Fagundes se destacou no teatro antes das novelas - Fábio Audi  - Fábio Audi
Bruno Fagundes se destacou no teatro antes das novelas
Imagem: Fábio Audi

Essa lente de aumento causava desconforto dentro da investigação de Bruno sobre a própria sexualidade, mas ele sabia que era gay desde sempre.

"Tinha dificuldade em socializar, ficava amigo das meninas, não conseguia me aproximar delas de uma forma que tivesse a ver com o viriarcado, aquele patriarcado da virilidade"

"Ficava no canto, até que achei um grupinho de minorias e me identifiquei, pessoas que tinham uma sexualidade diferente da norma. Esse grupo me ajudou muito, mas comecei a desenvolver uma máscara social para lidar com isso na escola: ser o engraçadinho, amigo da galera, enquanto meus amigos estavam pegando todas as mulheres."

Pressão midiática

Ao chegar na faculdade, Bruno entendeu que precisava ser feliz e superar os traumas motivados pela homofobia, seja a pressão de agentes profissionais na adolescência — ele entrou em um curso de teatro aos 15 — ou agressão física na rua fruto do preconceito.

Mas era difícil porque se sentia sufocado pelos sites de fofocas.

"Era absolutamente perseguido. Toda semana tinha um site de fofoca falando sobre a minha sexualidade: 'cinco homens que são gays e você não sabe'. Meu nome estava sempre lá. Eu era 200% exposto, mas não estava fazendo um trabalho importante, estava estudando e tentando entender minha sexualidade. Eu só era filho do cara (Antonio Fagundes), entendeu?"

Bruno e Antônio Fagundes em foto de 2020 - Divulgação - Divulgação
Bruno e Antonio Fagundes em foto de 2020
Imagem: Divulgação

Ele se recorda de uma vez que foi entrevistado por um repórter que o questionou se era gay ao vivo.

Não me sentia no lugar de sofrer isso. Eu não alimento o sistema de celebridades, eu não quero aparecer a qualquer custo. Me sentia violentado. Tudo isso me gerou algumas falhas de sistema.