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Ex-repórter da Globo e influenciadora sofrem ataques homofóbicos: 'Dor'

De Splash, no Rio

04/01/2023 16h36

Era para ser apenas uma foto de um casal feliz na virada do ano, mas registro de Nadia Bochi, ex-repórter do Mais Você (Globo), e Silvia Henz, influenciadora de moda, motivou ataques homofóbicos.

Silvia publicou uma foto em que elas dão um selinho para comemorar o Ano Novo no último domingo. Logo depois, a influenciadora recebeu comentários preconceituosos e "uma chuva de unfollow", perdendo mais de 5.000 seguidores em poucos minutos.

Em conversa exclusiva a Splash, Nadia diz que já recebeu outras mensagens homofóbicas ao longo da carreira, mas, desta vez, ficou preocupada com a esposa. Silvia é especialista em moda e estilo atemporal para mulheres e recebeu criticas justamente do público feminino.

Trabalhei no Mais Você, um programa para a 'família tradicional', as pessoas se surpreendiam quando eu postava algo sobre visibilidade lésbica. No caso dela, que trabalha só para mulheres, você perceber uma aversão, traz uma dor profunda.

"É uma rejeição dentro do próprio núcleo do feminino. A gente entende que vive em uma sociedade patriarcal, mas quando isso parte das mulheres, dói mais. Pessoas que se beneficiam dos nossos conteúdos. A gente sente como se fosse obrigada a trabalhar, mas não pudesse existir nos nossos afetos".

Para Nadia, são três tipos diferentes de comentários homofóbicos:

  • Com teor de aversão, com emojis de vômitos e nojo
  • Com teor religioso, dos pseudocristãos, que falam "Jesus não aceita isso", "não é Deus", um discurso bíblico distorcido do que é o amor
  • Com teor de surpresa e desapontamento, que dizem "jura que vocês são lésbicas" ou "gostava tanto de vocês, agora serei obrigada a parar de seguir"

Elas deletaram as mensagens agressivas e bloquearam palavras que pudessem causar gatilhos. Elas pensaram em sair momentaneamente das redes sociais, mas decidiram se manifestar para colaborar com a luta contra o preconceito. Após denunciarem o caso nas redes sociais, receberam mensagens de apoio em uma "rede sororidade".

Silvia Henz e Nadia Bochi estão juntas há seis anos - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Silvia Henz e Nadia Bochi estão juntas há seis anos
Imagem: Reprodução/Instagram

Preconceito na moda

Nadia e Silvia notaram um "viés curioso e triste" no mundo da moda após os ataques homofóbicos. Eles tiveram a percepção de que o machismo ainda atua muito forte na área, além de notarem diferenças dentro da própria comunidade LGBTQIA+.

As pessoas seguem estilistas e influenciadores abertamente gays. Eles podem exercer sua sexualidade abertamente. Dentro da moda, quantas influenciadoras lésbicas existem? Você tem o estigma de lésbica mal vestida, sapatão caminhoneira

"Uma pessoa pode ganhar relevância, mas o mundo vai contra quando ela sai do armário. É como se as lésbicas não pudessem ter voz. A liberdade é tirada até dentro do mundo da moda, universo em que os homens gays são mais livres. As mulheres podem se relacionar desde que estejam em um estigma masculinizado e não ditem tendência de moda".

Ela pensa que os homens têm uma vantagem no mundo da moda. "Por exemplo, Steve Jobs e Mark Zukeberg vestem jeans e camiseta e são bem-sucedidos, uma mulher com jeans e camiseta não chega a lugar algum. Ela ensina às mulheres a terem poucas e boas peças, que as representem e ajudem a ter sucesso e respeito", diz.

Paixão e casamento

Apesar dos ataques homofóbicos, a história de Nadia e Silvia é marcada por amor e afeto. As duas se conheceram há seis anos, ainda quando trabalhavam como repórteres.

Ela fez uma entrevista comigo, a gente se apaixonou e se casou no início da pandemia. Hoje, a gente mora na Paraíba, onde eu tenho uma pousada semeando amor. Vivemos numa comunidade, onde semeamos amor. Tenho projeto social de cinema comunitário, fazendo um trabalho de audiovisual.

Hoje, as duas trabalham como criadoras de conteúdo. Nadia dá cursos de oratória e storytelling com o viés do jornalismo, enquanto Silvia faz treinamentos de moda voltados para o empoderamento feminino. Elas, inclusive, trabalham juntas no Match, projeto que une ensino de oratória e estilo para mulheres. Daqui para frente, pretendem falar ainda mais sobre sexualidade e denunciar judicialmente eventuais ataques homofóbicos.