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MC Trans denuncia transfobia após ter atendimento negado em hotel

MC Trans foi a Blumenau, onde há clínica referência para pessoas trans, para fazer um procedimento e tratar trauma de agressão no rosto - Reprodução/Instagram
MC Trans foi a Blumenau, onde há clínica referência para pessoas trans, para fazer um procedimento e tratar trauma de agressão no rosto Imagem: Reprodução/Instagram

De Splash, em São Paulo

14/10/2022 11h51Atualizada em 15/10/2022 15h41

A cantora e apresentadora MC Trans usou suas redes sociais para denunciar o tratamento transfóbico que recebeu na noite de ontem ao tentar fazer check-in no Hotel Salto do Norte, em Blumenau (SC).

Ela afirma que, ao perceber que ela era uma mulher trans, o atendente se recusou a hospedá-la — atitude que, além de transfóbica, contraria o Código de Defesa do Consumidor. Num vídeo postado pela artista no Instagram, o homem diz que não pode atendê-la porque o dono do estabelecimento é "um senhor de idade" e "conservador", e que o hotel "não tem um espaço separado para isso". O hotel nega as acusações.

Procurada por Splash, MC Trans afirma que está na cidade para fazer um procedimento estético e tratar uma cicatriz no rosto que tem por uma agressão transfóbica que sofreu no passado. A cidade é referência em cirurgias de redesignação sexual e outros procedimentos que têm como público-alvo a população trans.

"Quando a gente chegou, meu esposo entrou na frente porque eu estava demorando para fazer o pagamento para o Uber no pix. Ele foi, já pegou o papel para assinar. Quando eu entrei no hotel... Não vem ao caso, mas eu estava vestida de maneira adequada, eu sou uma mulher instruída. Quando ele me viu, ele falou que não ia me hospedar. Que não tinham avisado que a Ana Vitória era uma mulher trans".

Ela ressalta que, como Blumenau está no meio da Oktoberfest, todos os hotéis da cidade já estavam esgotados. A MC, que apresenta um quadro no programa "HERvolution", da RedeTV!, continua: "Lógico que ele falou isso de uma maneira bem chula, em modo de ataque. Eu acho que ele esperava que eu fosse gritar, mas eu fiquei tão chocada. Eu falei que não tinha para onde ir, e ele falou 'problema seu, eu não posso colocar o meu emprego em risco hospedando uma pessoa assim'."

Eu sou uma mulher trans casada, sou mãe, sou madrasta de duas crianças, uma de cinco anos e uma de sete. Sou militante e nada do que eu lutei, nada do que eu fiz, nada que eu conquistei na minha profissão como cantora, apresentadora e empreendedora, nada do meu dinheiro vale para pessoas transfóbicas, para estabelecimentos transfóbicos. Isso é um crime.
MC Trans

Diego Figueiredo, advogado de MC Trans, explica as medidas legais que serão tomadas: "Minha cliente já foi orientada a registrar um boletim de ocorrência pelo crime de preconceito, a partir da lei de discriminação por raça, na modalidade transfobia. Vale lembrar que em 2019 o Supremo Tribunal Federal decidiu que transfobia é um crime enquadrado no artigo 20 da Lei do Racismo (7.716/1989), estando sujeito à punição de um a três anos de prisão, podendo chegar a 5 em casos mais graves. O crime é inafiançável e imprescritível. Além disso, o hotel poderá responder civilmente pelo abalo emocional e transtorno que causou à artista, podendo até ser condenado a pagar indenização".

O hotel, por sua vez, nega que o atendente tenha mudado de atitude ao ver que a cliente era uma mulher trans. Segundo o estabelecimento, o casal havia feito uma reserva para duas pessoas por uma noite, e na recepção tentou incluir uma terceira pessoa e estender a estadia por mais duas noites.

Em nota, o hotel afirma ainda que o atendente disse que o proprietário é "conservador" para "justificar o respeito da casa pela inviolabilidade das reservas desde o ano de 1996", e que ele "não sabia da politização da expressão".

"O hotel sempre acolheu pessoas trans, e nunca houve em sua história quaisquer incidentes de discriminação. Registra-se, que tanto o atendente quanto o administrador possuem idade acima de 70 anos, sendo que o administrador possuiu quase 90 anos de idade, e nenhum deles possuem antecedentes criminais ou respondem a processos judiciais", diz o texto.