Topo

Quem foi Cláudio Corrêa e Castro, que faliu após fazer mais de 50 novelas?

O ator Cláudio Corrêa e Castro morreu em 2005, aos 77 anos - Reprodução
O ator Cláudio Corrêa e Castro morreu em 2005, aos 77 anos Imagem: Reprodução

De Splash, em São Paulo

12/10/2022 04h00Atualizada em 12/10/2022 13h09

O ator Cláudio Corrêa e Castro está marcando presença nas tardes da TV Globo desde o final do ano passado. Ele morreu há pouco mais de 17 anos, mas deixou um legado extenso na teledramaturgia brasileira.

Em "O Cravo e a Rosa", reprisada de dezembro de 2021 a setembro deste ano, Cláudio interpretou o divertido agiota Normando Castor. "Chocolate com Pimenta" está no ar e, nela, o ator viveu o ambicioso banqueiro Conde Klaus Von Burgo, conhecido por chamar a jovem Celina (Samara Felippo) de "cabritinha".

Ao longo de sua carreira, Cláudio atuou em mais de 50 novelas, a maioria na TV Globo. Mesmo sendo, geralmente, coadjuvante, Cláudio interpretou personagens memoráveis e se destacou com sua versatilidade.

O artista também deixou sua marca no teatro, no cinema e na ilustração. Apesar da carreira profícua, Cláudio faliu no fim da vida e precisou se mudar para o Retiro dos Artistas.

Saiba mais sobre ele:

Início nas artes

Cláudio Corrêa de Castro nasceu em 1928 no Rio de Janeiro. Na juventude, estudou Belas Artes na Escola Nacional de Belas Artes e na França. Ao voltar para o Brasil, começou uma carreira de pintor.

Em 1955, foi o responsável por ilustrar com águas-fortes (gravura feita com metal) o livro "Três Contos", de Lima Barreto, editado pela Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil. A sociedade, formada por 100 personalidades da época e com membros como Roberto Marinho e Walter Moreira Salles, editou 23 obras literárias nacionais em 30 anos, ilustradas por notáveis artistas plásticos.

Nos anos 60, Cláudio foi convidado a ser o primeiro diretor do Teatro de Comédia do Paraná, grupo teatral da Fundação Teatro Guaíra, em Curitiba (PR). Na função, o ator dirigiu cerca de 20 espetáculos, além de levar Nicette Bruno e Paulo Goulart para a capital paranaense para lecionar e atuar em peças como "A Megera Domada" e "Um Elefante no Caos".

Em 1962, atuou em "Cinco Vezes Favela" ao lado de Milton Gonçalves, um dos filmes mais importantes do Cinema Novo no Brasil. Sua participação está no premiado curta "Couro de Gato", dirigido por Joaquim Pedro de Andrade.

Um de seus principais papéis no teatro foi o de Galileu Galilei em peça homônima, produzida pelo Teatro Oficina em 1968.

Carreira frutífera na televisão

Ao longo de sua carreira, Cláudio atuou em mais de 50 novelas entre a Rede Excelsior, a Rede Tupi e a Rede Globo. Só na emissora carioca foram 36 produções.

Na primeira versão de "Cabocla" (1979), interpretou o Coronel Boanerges. Também atuou na primeira versão de "Mulheres de Areia" (1973), no papel de Virgílio.

Suas novelas notáveis incluem "O Profeta" (1977), "Dancin' Days" (1978), "A Gata Comeu" (1985), "Sinhá Moça" (1986), "Vale Tudo" (1988), "Rainha da Sucata" (1990), "Deus Nos Acuda" (1992), "O Rei do Gado" (1996), "Meu Bem Querer" (1998) e "Esperança" (2002), entre muitas outras.

Cláudio também atuou em minisséries globais como "Anos Dourados" (1986), "Engraçadinha" (1995), "A Casa das Sete Mulheres" (2003), além de interpretar Anacleto no humorístico "Zorra Total" no quadro da pensão da Santinha entre 2004 e 2005.

Seus últimos papéis foram Dr. Afonso, advogado de Josefa (Marília Gabriela), em "Senhora do Destino" (2004) e Gamaliel em "Irmãos de Fé" (2004), filme do Padre Marcelo Rossi protagonizado por Thiago Lacerda.

Cláudio Corrêa e Castro no papel de Bartolomeu em 'Vale Tudo' (1988) - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Cláudio Corrêa e Castro no papel de Bartolomeu em 'Vale Tudo' (1988)
Imagem: Reprodução/TV Globo

Separação e falência

Apesar de tantos trabalhos notáveis na televisão, Cláudio foi à falência e se mudou para o Retiro dos Artistas em 2003. Ele havia acabado de se separar de Mirian Ayres, com quem foi casado por 20 anos e teve dois filhos.

De acordo com a revista Istoé, à época, Mirian o acusou de ter um comportamento agressivo e afirmou que o ator foi para o retiro para fugir de agiotas.

Em entrevista ao Jornal de Brasília em 2003, Cláudio falou sobre sua situação. Ele tratava uma hérnia de disco que quase fez com que ele perdesse o movimento das pernas, tinha dificuldade para se locomover e usava uma bengala.

"Tive problemas pessoais graves e não tinha para onde ir. Precisava estar num lugar como o Retiro, onde eu não gastasse nada e cuidassem de mim", contou.

Ele também deu detalhes de sua situação financeira precária.

Sou péssimo administrador. Ganhei muito bem, mas não soube controlar meu dinheiro. Comprava tudo sem pensar. Nunca soube dizer não. As dívidas são as únicas coisas que me atormentam. Cláudio Corrêa e Castro, em 2003

Morte

Cláudio Corrêa e Castro morreu no dia 16 de agosto de 2005, aos 77 anos, no Hospital das Clínicas de Niterói (RJ). Ele estava internado desde 23 de junho daquele ano e morreu em decorrência de falência múltipla de órgãos.

Durante a internação, o ator apresentou complicações decorrentes do pós-operatório de uma cirurgia de ponte de safena, agravadas por diabetes, hipertensão arterial e obesidade excessiva.

Ele deixou três filhos: Guilherme, do casamento com a atriz Ileana Kwasinski, Gabriel e João Pedro, do casamento com Mirian Ayres.

Gabriel tem uma produtora audiovisual e dirigiu o documentário "Palace II - 3 Quartos com Vista para o Mar" (2018). Ele costuma compartilhar registros com os irmãos nas redes sociais e, em agosto do ano passado, fez uma homenagem ao pai.

"Em pensar que já fazem 16 anos que meu pai se foi. Hoje a saudade se mostra de outra forma, um pensamento bom que me enche de orgulho e alegria. Muito grato por tudo", escreveu.