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ANÁLISE

Tributo a baterista morto tem ícones do rock, choro de Grohl e Paul inédito

Foo Fighters: membros da banda se emocionam em concerto tributo a Taylor Hawkins - Scarlet Page/MBC/PA
Foo Fighters: membros da banda se emocionam em concerto tributo a Taylor Hawkins Imagem: Scarlet Page/MBC/PA

De Splash, em São Paulo

05/09/2022 13h39

Quando a morte do baterista Taylor Hawkins foi anunciada, na madrugada de 25 de março deste ano, dois dias antes do que seria a apresentação do Foo Fighters no Lollapalooza do Brasil, o choque tomou conta antes mesmo de o baque realmente ser sentido.

A banda estava em Bogotá, na Colômbia, e se apresentaria no festival Estereopìcnic antes de voar até São Paulo para o show que jamais aconteceu no domingo, 27 de março.

Quase seis meses após a despedida súbita do músico em seus 50 anos, que repercutiu mundialmente em homenagens emocionadas e dolorosas de fãs e amigos, o Foo Fighters e a família Hawkins reúnem forças e muitos talentos para dois concertos em tributo ao baterista.

O primeiro, ocorrido no último sábado (3) no estádio Wembley, em Londres, foi a maior reunião de astros do rock desde o tributo a Freddie Mercury, ocorrido no mesmo lugar há mais de 30 anos, precisamente no dia 20 de abril de 1992.

Sobrou espaço para emoção

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Dave Grohl assume a bateria em alguns momentos durante tributo a Taylor Hawkins
Imagem: Scarlet Page/MBC/PA

Se a energia da trupe liderada por Dave Grohl, Nate Mendel, Pat Smear, Chris Shiflett e Rami Jaffee raramente surpreende ao vivo, esta talvez tenha sido uma das primeiras vezes em que ver o grupo tocar com tanto fervor e tanta bravura tenha sido uma surpresa — uma ótima surpresa. A força na voz de Dave ou a conduta ímpar do grupo já eram a maior demonstração possível de que o show continua, mas a procissão de artistas, amigos, ídolos e fãs de Taylor mostra que o tamanho de seu legado é muito maior do que podia-se imaginar.

Afinal, estamos falando de uma lista eclética de músicos, todos, de uma forma ou de outra, atravessados pela carreira de Taylor Hawkins e pelas batidas surdas de sua bateria no Foo Fighters, que se alternaram no palco durante pouco mais de 6 horas quase ininterruptas de sons e imagens catárticas.

Do passado....

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Paul McCartney canta 'Oh! Darling' ao vivo pela primeira vez em tributo a Taylor Hawkins
Imagem: Scarlet Page/MBC/PA

O desfile de lendas da música passa pelos membros das bandas alternativas de Hawkins (para quando "o Foo Fighters estava de férias") a monstros do rock em todas as suas vertentes. É um bombardeio curioso e divertido de música em suas infinitas formas.

Com tantos grandes momentos, fica até difícil eleger os mais emocionantes ou marcantes, mas alguns saltam aos olhos e ouvidos para entrarem para a História.

Sir Paul McCartney, do alto de seus 80 anos, cantou ao vivo pela primeira vez a canção "Oh! Darling", dos Beatles, e fez isso ao lado de uma potente Chrissie Hynde, líder do The Pretenders.

Afastado do AC/DC desde 2016 por problemas auditivos, Brian Johnson fez um retorno triunfal e muito aguardado, que fez jus não apenas à sua estrondosa carreira mas também ao momento em questão.

Mas Johnson não veio só! Ele se juntou a Lars Ulrich, baterista do Metallica, que também deixou sua marca na homenagem. Aos 74 anos, Brian soltou a voz nos clássicos do AC/DC "Back in Black" e "Let There Be Rock", em uma performance nada menos que icônica.

Entre Brian May encantando com sua versão solo acústica da inesquecível "Love of my Life", do Queen, e Josh Homme, do Queens of the Stone Age, fazendo um cover de David Bowie, um retorno que poucos esperavam era o do Them Crooked Vultures, grupo formado por Homme com Grohl e John Paul Jones, do Led Zeppelin.

O trio se apresentou ao vivo pela primeira vez depois de 12 anos, com uma versão de "Goodbye Yellow Brick Road", de Elton John.

Além disso, houve espaço também para Travis Barker, baterista do Blink-182 conhecido por gerações mais novas como "o marido de Kourtney Kardashian", que tocou bateria para "The Pretender", e uma performance grandiosa de Kesha em um cover visceral de "Children of the Revolution", do T Rex.

Nos intervalos, aqueles que não puderam comparecer ao evento se faziam presentes por mensagens gravadas em vídeo que surgiam nos telões. Duff McKagen e Slash, do Guns'n Roses, Stevie Nicks, Billie Eilish e seu irmão Finneas e Elton John foram alguns dos que fizeram questão de estar marcados de alguma forma.

...ao futuro

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Nandi Bushell toca bateria com o Foo Fighters em tributo a Taylor Hawkins no estádio Wembley, Londres, no sábado (03)
Imagem: Scarlet Page/MBC/PA

Mas talvez o show tenha sido roubado por novas gerações. Mais especificamente, três figuras mais novas que fizeram o frontman do Foo Fighters visivelmente se encher de orgulho.

A primeira delas foi a própria filha de Dave, Violet Grohl, de 16 anos. A garota dividiu o palco com o próprio pai, que assumiu a bateria, para um ela fazer cover sóbrio e encantador de "Grace", de Jeff Buckley.

Violet parece ter herdado do pai a naturalidade com que domina o palco, e embora tenha começado um pouco tímida, com o vocal mais baixo que os instrumentos, ela logo comandou a situação assim que a tecnicalidade foi resolvida.

Outra das provas de que o futuro já está entre nós é Nandi Bushell, de 12 anos. Antes de apresentá-la, Dave contou a história de como foi desafiado para um desafio de bateria pela menina através das redes sociais. Aconselhado a topar e entrar na competição, ele conta ter sido derrotado pela menina, que demonstra alegria e uma naturalidade absurda enquanto toca "Learn to Fly" sem tirar o sorriso do rosto.

Mas um dos momentos mais emocionantes mesmo foi quando Shane Hawkins, filho de 16 anos de Taylor, se uniu à banda e assumiu o instrumento de seu pai para tocar "My Hero". Dave encarava o garoto com um encantamento que se misturava com respeito, felicidade e esperança, enquanto a plateia que lotava o estádio entoava junto ao vocalista este que é um dos hinos do Foo Fighters.

Por tudo isso, mesmo com tantas atrações e tantas histórias que se misturavam, dificilmente o próprio Dave Grohl saía de cena. Alternando entre os microfones, a bateria e até o baixo, o astro foi a coluna de sustentação de toda a apresentação. Sua voz embargava mais de uma vez durante a performance de "Times Like These", e ele precisou se afastar do microfone para se recompor, secando as lágrimas dos olhos enquanto o público assumia a música por ele.

A mistura agridoce de alegria e tristeza que ficava evidente todas as vezes em que Dave parava para ajeitar os cabelos ou respirava fundo tornou-se a maior representação do simbolismo do concerto. No fim da história, é toda a visceralidade deste tributo que fica na memória junto ao legado de Taylor Hawkins.