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Cantora Marilene Galvão, da dupla sertaneja As Galvão, morre aos 80 anos

Rodolfo Vicentini

De Splash, em São Paulo*

24/08/2022 19h14Atualizada em 25/08/2022 11h27

A cantora Marilene Galvão, da dupla sertaneja As Galvão, pioneiras do sertanejo feminino, morreu hoje aos 80 anos em São Paulo. A informação foi confirmada pelo fã-clube oficial do grupo.

A causa da morte não foi revelada. O velório e o sepultamento da artista serão realizados amanhã em Paraguaçu Paulista

"É com grande pesar que através dessa mensagem, comunicamos o falecimento, às 14h30 em São Paulo, da nossa rainha soberana Marilene Galvão. Em breve traremos mais notícias. Para agora, contamos com as orações e apoio de vocês! Nós cremos na ressurreição e acreditamos que nossa menina descansou, e em um bom lugar desfrutará do seu descanso", diz a nota.

Entre os principais sucessos de As Galvão — que usaram o nome Irmãs Galvão por décadas e nos anos 2000 mudaram de nome — estão "Carinha de Anjo" e "Beijinho Doce", que posteriormente fez sucesso em uma regravação por Patrícia Pillar na trilha da novela "A Favorita" (2008), atualmente reprisada no "Vale a Pena Ver de Novo" (TV Globo).

As irmãs encerraram as atividades em 2021 e foram a dupla sertaneja com mais tempo de atividade no país: 74 anos. O início se deu quando as irmãs tinham apenas 7 e 5 anos de idade. Hoje, Mary tem 83 anos.

Ano passado, Mary contou que a irmã sofria de Alzheimer, chegando a um ponto em que ela não se lembrava mais das letras das músicas.

"Amo muito a minha irmã, muito, muito. Vou sempre visitá-la. Um amor muito grande, por tudo o que nós passamos juntas, sempre uma dando apoio para a outra. Esse amor não vai acabar, não. Infelizmente não lembra mais as letras, não lembra mais nada. É muito triste", afirmou em entrevista ao youtuber André Piunti, em 2021.

Marilene era, junta com a irmã, embaixadora da Associação Brasileira do Alzheimer e se apresentava em hospitais e casas de recuperações para pessoas que lidam com a doença, antes do quadro dela se agravar.

Carreira

Embora nunca tenha enriquecido ou recebido os maiores holofotes, a dupla feminina mais antiga em atividade no país disse para o UOL, em 2016, que não se ressentia de quase nada na vida, a não ser da persistente falta protagonismo de mulheres na música.

Hoje reverenciadas por mais de uma geração, elas foram uma espécie de Sandy & Júnior dos anos 1940. Incentivadas pelo pai, um alfaiate amante da música, começaram cantando tangos e serestas com sete e cinco anos, em programas de rádio da região de Paraguaçu Paulista.

Passaram pela rádio Difusora de Assis (SP) e a Cultura de Maringá (PR), antes de virem com a família em 1952 para a cidade de São Paulo. Na sonhada capital, tiveram de lutar por espaço em gravadoras então pouco afeitas às melodias do campo. Ainda mais cantadas por mulheres. As irmãs Galvão e a Inezita Barroso eram exceções de um universo restrito.

Soma-se a isso o preconceito sobre o próprio estilo, que só veio a mudar nos anos 1980. Segundo as Galvão, antes disso, era comum ver sertanejos se mudando para a cidade, enriquecendo, e, na hora de comprar um disco do gênero, dizendo ao vendedor que aquilo, na verdade, era um presente para sua empregada.

Ao lado de Tonico & Tinoco e outros artistas de raiz, as Galvão têm seu nome gravado na história da música popular brasileira. Elas, que possuem um memorial mantido pela Prefeitura de Paraguaçu Paulista, ajudaram a criar não somente a música, mas também o que hoje conhecemos como o Dia do Sertanejo, celebrado anualmente em 3 de maio.

*Colaboração de Leonardo Rodrigues, do UOL