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Repórter se diz impactada após mulher negra resgatada temer segurar sua mão

Bahia Meio Dia: mulher negra revela receio de pegar na mão de repórter branca - Reprodução/Instagram
Bahia Meio Dia: mulher negra revela receio de pegar na mão de repórter branca Imagem: Reprodução/Instagram

Colaboração para Splash, em São Paulo

28/04/2022 10h10

O telejornal "Bahia Meio Dia", afiliada TV Globo em Salvador, trouxe ontem uma matéria sobre o trabalho escravo na Bahia para tratar do Dia das Trabalhadoras Domésticas. Entre as vítimas ouvidas, uma mulher negra resgatada de trabalho análogo à escravidão confessou à repórter Adriana Oliveira que temia pegar em sua mão por ela ser uma mulher branca.

A doméstica Madalena Silva foi resgatada em março passado após passar 54 dos 62 anos de vida escravizada. Ela, que hoje mora em Lauro de Freitas, não tinha salário, era maltratada e sofria com roubos da filha dos ex-patrões — que fazia empréstimos no nome da doméstica e ainda ficou com R$ 20 mil sua aposentadoria.

Na entrevista, Madalena exibiu a casa em que passou a morar após ganhar ajuda de uma amiga para mobiliá-la e mostrou ter ficado com marcas profundadas dos maus-tratos recebidos. "Fico com receio de pegar na sua mão branca", desabafou ela.

"Mas por quê? Tem medo de quê?", indagou à repórter Adriana Oliveira, estendendo as mãos. "Por que ver a sua mão branca. Eu pego e boto a minha em cima da sua e acho feio isso", explica Madalena.

"Sua mão é linda, sua cor é linda. Olhe para mim, aqui não tem diferença. O tom é diferente, mas você é mulher, eu sou mulher. Os mesmos direitos e o mesmo respeito que todo mundo tem comigo, tem que ter com você", destacou a jornalista, que ainda deu um abraço em Madalena.

Nas redes sociais, a repórter do "Bahia Meio Dia" declarou que viveu uma das cenas mais emocionantes em seus 27 anos de profissão. "Ainda tô impactada com o encontro com Dona Madalena. Hoje vivi um dos momentos mais emocionantes nos 27 anos de profissão", escreveu.

A jornalista também desabafou sobre estarmos em 2022 e ainda termos de tratar de temas como a escravidão. "Me senti tão pequena, tão impotente diante da dor de Dona Madalena. Vontade de acolher e nunca mais ter notícia de monstruosidades assim", escreveu.