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ANÁLISE

CNN demite Alexandre Garcia por mentir, mas passou pano por muito tempo

Alexandre Garcia deixou a CNN hoje - Reprodução/Instagram
Alexandre Garcia deixou a CNN hoje Imagem: Reprodução/Instagram

Leandro Carneiro

De Splash, em São Paulo

24/09/2021 21h11

A CNN demitiu o apresentador Alexandre Garcia hoje e justifica que a queda foi por ele defender o tratamento precoce contra a covid-19. Por mais que pareça uma atitude boa da emissora, não podemos esquecer que o canal ignorou por meses o que o apresentador fazia em sua programação.

Até então, a CNN pensava na audiência que Alexandre Garcia dava, afinal, ele carrega um público que não vai acompanhar a GloboNews, principal adversária da emissora na programação. Trazia ali um público se vangloriando de dar espaço para a "liberdade de expressão", ainda que isso fosse mentira.

Hoje, Alexandre Garcia, ao comentar as denúncias contra a operadora Prevent Senior, afirmou que "remédios sem eficácia comprovada salvaram milhares de vida". Mentira do jornalista que foi desmentido pela apresentadora Elisa Veeck.

O comentário aconteceu no "Liberdade de Opinião", quadro que já teve em sua apresentação Rafael Colombo. O jornalista, que segue na CNN, desistiu de fazer parte da atração porque Garcia mentia no ar. Naquela ocasião, ele defendia a cloroquina, como no episódio que rendeu sua demissão.

Poucos meses separaram argumentação semelhante de Alexandre Garcia, o que agora foi considerado motivo de sua demissão.

E Garcia não defendeu só o tratamento precoce na bancada da CNN. Ele também se posicionou contra o isolamento social. Queria que fosse respeitado o "direito de ir e vir" quando o país atingia o auge de morte por covid.

Não podemos esquecer que o jornalista chegou a ter mais de 126 vídeos removidos do YouTube esse ano por disseminação de fake news, dados desses enviados pelo Google à CPI da Covid.

Ao tirar Alexandre Garcia da programação, a CNN abre mão de uma parcela de sua audiência, formada por eleitores conservadores que flertam com a extrema-direita, assim como aconteceu com a saída de Caio Coppola em dezembro de 2020. Desde então, apoiadores fiéis do governo — que atualmente representam 11% da população, segundo a última pesquisa DataFolha — afirmam que não acompanhavam mais o canal.

A decisão da CNN não é por acaso, e sim estratégica: a saída de Alexandre Garcia ocorre justamente quando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) atinge os níveis mais baixos de sua popularidade segundo pesquisa do Datafolha, que mostra reprovação em 53% e apenas 22% de aprovação.