Por que torcemos tanto para os 'revivals' das séries que amamos?
O hábito de contar e recontar uma história é antigo. Para ser mais específica, é pré-histórico: os chamados contos populares estão na base da cultura. Essa prática foi adaptada com o passar do tempo, conforme a indústria do entretenimento se desenvolvia. Até que chegamos no fenômeno dos "revivals".
Sim, a ressurreição de um sucesso da TV com seu elenco original (ou parte dele) anos após seu fim.
Um exemplo é o tão alardeado (e adiado pela pandemia) especial de "Friends"'. Ainda sem data de estreia e nem muitos detalhes divulgados, o reencontro do grupo só ganhou firmeza no ano passado, 16 anos após o término da série, com o anúncio feito pela HBO Max.
Após o fim da série, surgiram inúmeras sitcoms similares em sua essência, na tentativa de ocupar a lacuna deixada por ela. O mesmo rolou com "Sex and the City", "Um Maluco no Pedaço" e até "Dexter", que vai voltar.
Afinal, será que esse desejo de reviver ao invés de criar algo novo não demonstra uma certa "'preguiça"' por parte de Hollywood?
A indústria cultural vive da reciclagem de ideias, às vezes usando nada além de uma nova embalagem. Não é falência criativa porque a execução sempre é distinta. Além disso, nostalgia é uma ferramenta poderosa —narrativa e comercial.
Pensando em termos comerciais, será que não seria mais fácil e vantajoso simplesmente começar um novo projeto do zero em vez de reunir atores consagrados com cachês milionários? A resposta é "não".
É mais vantajoso vender um conceito familiar do que começar uma ideia do zero. Inclusive os executivos dos estúdios e das redes de TV buscam ativamente conceitos já testados —é mais fácil justificar um fracasso assim. Historicamente, funciona!
Roberto Sadovski
E só funciona por causa do saudosismo dos fãs, que seguem resilientes no amor pelos seus personagens favoritos e sempre querem mais. Com a palavra, Mauricio Stycer, crítico de TV e colunista de Splash:
As pessoas têm essa compulsão pelo novo, mas os produtos velhos bem-sucedidos ficam guardados numa gaveta afetiva dos fãs e no cofre da indústria, que precisa sempre estar renovando. Os 'revivals', 'reboots', 'remakes' e 'spin-offs' dão uma nova embalagem a coisas velhas.
Mauricio Stycer
Além da saudade de personagens amados, há também a curiosidade de ver como cada um deles se comportaria atualmente. Quando o retorno de "Sex and the City" (1998-2004) foi anunciado, um dos principais questionamentos levantados foi a falta de representatividade, além das cenas que envelheceram mal.
As pessoas sonham que aquele personagem vá corrigir algum rumo, vá acertar contas, mas às vezes a graça é justamente gostar de um personagem porque ele é errado. Como, por exemplo, em 'Seinfeld'. Deus queira que nunca tenha uma volta, imagina se o George voltasse melhorado? Isso ia estragá-lo.
Stycer
O hábito de procurar escape da pandemia em séries leves que já acabaram deu a elas o apelido de "séries conforto".
"A reprise é um mercado já consolidado. Não sei se isso se dá apenas por conforto, mas sim porque você tem prazer em ver aquilo acontecer de novo"
E, com tudo isso, percebemos que a sensação de familiaridade e de mínima certeza perante as incertezas do período em que estamos vivendo é o que prevalece em muitos casos. A coordenadora do curso de Rádio e TV da FAAP, Nathalie Hornhardt, afirma:
Tem o processo de assistir a uma série. O fim dá um aperto no coração... E quando você aventa a possibilidade de um 'revival', rola um misto de apego e nostalgia. Temos muitas escolhas para fazer, e diante de tantas opções que os streamings nos dão, é muito mais fácil ver aquilo que já gostamos.
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