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Guilherme Ravache

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Audiência de Loki em queda pode evidenciar o preconceito com sexualidade

Loki (Tom Hiddleston) e Sylvie (Sophia Di Martino) em episódio da série - Reprodução / Internet
Loki (Tom Hiddleston) e Sylvie (Sophia Di Martino) em episódio da série Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

01/07/2021 04h00

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Resumo da notícia

  • Diferentemente dos antecessores "WandaVision" e "Falcão e o Soldado Invernal", "Loki" está perdendo audiência
  • As buscas em torno da série diminuíram no mesmo compasso em que aumentaram os comentários negativos com relação à bissexualidade do personagem
  • Tornar Loki bissexual é ser fiel à história, visto que nos quadrinhos o personagem já tinha essa orientação sexual
  • O mercado LGBTQIAP+ é gigantesco e move bilhões do chamado "pink money"
  • Mas ainda há uma grande distância entre o discurso das marcas e como elas atuam no dia a dia em seus investimentos em mídia

Esse mês vimos empresas e pessoas no mundo inteiro celebrando o dia do Orgulho LGBTQIAP+, que aconteceu ontem. Com poucos dias de diferença, Loki, protagonista da série de mesmo nome no Disney+, revelou sua bissexualidade.

Foi de uma forma leve e natural. Durante um diálogo entre Loki (Tom Hiddleston) e Sylvie (Sophia Di Martino), ela perguntou se Loki, como príncipe de Asgard, já tinha encontrado "uma candidata a princesa... ou um outro príncipe". Ao que ele respondeu: "Um pouco dos dois".

Apesar do furor nas redes sociais com a novidade (que nem é tão novidade assim, já que nos quadrinhos o personagem é bissexual há mais de uma década), aconteceu um fenômeno estranho. Diferentemente dos antecessores "WandaVision" e "Falcão e o Soldado Invernal", "Loki" sofreu uma brusca queda de audiência no terceiro episódio.

Segundo dados do serviço de medição de audiência Samba TV, 890 mil TVs sintonizaram a estreia de "Loki" no primeiro dia, mas apenas 727 mil assistiram ao terceiro episódio. Isso significa que "Loki" começou com números maiores do que os antecessores da Marvel Studios, "WandaVision" (759.000 espectadores no primeiro dia) e "O Falcão e o Soldado Invernal" (655.000 espectadores no primeiro dia), mas sofreu uma brusca queda de audiência.

Mensurações e números de audiência são problemáticos, como já discuti aqui. A Samba TV, por exemplo, mede uma amostra limitada de lares americanos onde o software da empresa está ativo nos aparelhos de TV.

Buscas em queda e desconforto

O site de notícias We Got This Covered traz outro dado importante: as pessoas estão procurando por "Loki" menos do que antes e dizem que a sexualidade do personagem seria o motivo.

Obviamente, a série pode estar perdendo audiência apenas porque não caiu no gosto do público. "O Legado de Júpiter", na Netflix, decepcionou apesar da grande expectativa em torno dos heróis do celebrado Mark Millar.

Mas o preconceito está aí para quem quiser ver. Dos apresentadores e políticos espumando raiva aos comentários nos fóruns de fãs. Sikêra Jr. é um exemplo, como aponta meu colega Leandro Carneiro. Nas redes sociais não falta gente atacando a Disney e Loki pelo simples fato do personagem ter assumido sua bissexualidade. É um lembrete importante de que a luta pela diversidade não se limita a um dia e que ainda estamos muito distantes do minimamente aceitável.

"É notório que as pessoas gostam de LGBTs quando esses não balançam seus status quo ou mexem com lembranças que elas criaram para si, sem levar em consideração o que a obra queria dizer com aquilo? 'Star Wars' e 'Star Trek', que são franquias longevas e que têm personagens com sexualidade fluida ou já discutiram temas como racismo e preconceito contra a mulher, vivem essa dicotomia", diz Hilário Júnior, publicitário e um dos criadores do podcast POC de Cultura.

A Disney tomou uma atitude corajosa ao levar para as telas a bissexualidade de Loki em um de seus principais produtos e deve ser louvada por isso. Também vale ressaltar o histórico da empresa e seu know-how em criar negócios multibilionários.

"O pink money é um mercado muito lucrativo. A comunidade é muito carente de exemplos e figuras públicas que normalizem o seu dia a dia e que não necessariamente aparecem só levantando uma bandeira. É muito legal um vilão aclamado numa superprodução ser bissexual? e também mostrar que ele tem vulnerabilidades e afins", diz Júnior.

Ou seja, se a sua empresa, ao contrário da Disney, ainda ignora a comunidade LGBTQIAP+, há boas chances de ser um péssimo negócio. Mas não adianta a marca colorir o perfil e patrocinar influenciadores e causas LGBTQIAP+ somente alguns dias do ano, essa é uma luta constante e do ano inteiro.

E se você ainda não assiste a uma série porque a orientação sexual do personagem te deixa desconfortável? desculpe informá-lo, você não entendeu nada.

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