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Proibição de mostra drag em SP prova: LGBTs voltarão a ser alvo na eleição

A drag queen Silvetty Montilla seria uma das retratadas na exposição "Duo Drag", de Paulo Vitale - Reprodução / Internet
A drag queen Silvetty Montilla seria uma das retratadas na exposição "Duo Drag", de Paulo Vitale Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

29/04/2022 18h34

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No final desta sexta-feira (29), na véspera do evento de abertura, a exposição "Duo Drag", de Paulo Vitale, teve de ser adiada. Uma decisão judicial pedindo o fechamento do Museu da Diversidade Sexual, em São Paulo, obrigou a mostra a suspender seus trabalhos. O processo, movido por deputado conservador, que decidiu questionar a gestão do Museu e um projeto de ampliação orçado em R$ 9 milhões. A decisão liminar acatada pela juíza Carmen Cristina Teijeiro.

O governo de São Paulo, que administra a instituição, está tentando reverter a decisão para marcar nova data de abertura da exposição e lançamento do livro. A mostra, que teria entrada gratuita, nada mais era que a compilação de imagens de drag queens icônicas como Kaká Di Polly, Silvetty Montilla, Marcia Pantera, Miss Judy Rainbow e Lysa Bombom.

É muito curioso que só agora, em ano de eleição, o Museu da Diversidade Sexual tenha virado alvo de controvérsia promovida por políticos conservadores. Em 2017, ano véspera das últimas eleições para Câmara, Senado e Presidência, a exposição "Queermuseu" sofreu censura no Rio de Janeiro. Não faltaram políticos opinando sobre o assunto e moralizando a abordagem artística de questões de orientação sexual. Agora, a história parece se repetir. Exatamente por isso, para não colaborar com qualquer tipo de estímulo a quem questiona a legitimidade de direitos da comunidade LGBT, a coluna não citará o deputado que motivou a ação. Aqui ele não terá palanque.

Procurada, a Secretaria de Cultura de São Paulo confirma a suspensão da mostra. Diz a nota da instituição:

"A Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo informa que a exposição Duo Drag, do Museu da Diversidade Sexual, foi adiada por decisão judicial que solicitou o fechamento da instituição. A pasta destaca que irá recorrer da decisão liminar, pois considera essencial o desenvolvimento de políticas de visibilidade da cultura LGBTQIA+. A expansão do Museu da Diversidade Sexual (MDS), dos atuais 100 m² para 540 m² no mesmo local, na estação República do Metrô, irá permitir a realização de exposições multimídia de longa duração, exposições temporárias e eventos. Com isso, será possível aumentar o público visitante, promovendo o resgate histórico, a transformação social e o desenvolvimento pleno da comunidade. O Museu da Diversidade Sexual é a primeira instituição do tipo na América Latina e irá completar 10 anos em 2022.

A Secretaria ressalta que a seleção da organização social responsável pela gestão do Museu da Diversidade Sexual seguiu a legislação vigente e todas as normas de convocação pública. Ela aconteceu entre outubro e dezembro de 2021 e a organização social escolhida apresentou toda a documentação necessária".

Como pode se observar, a suspensão de "Duo Drag" parece simbolizar uma prévia do que vem por aí nas campanhas eleitorais. Mais uma vez, a comunidade LGBT será usada como bode expiatório, assim como foi em histórias fictícias como a "mamadeira de piroca" ou o "kit gay". Bobo será quem comprar essa narrativa mais uma vez.