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'Coming Out Day': Tirar famosos (ou anônimos) do armário é grande violência

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Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

11/10/2020 15h32

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Resumo da notícia

  • Há décadas a imprensa de celebridades costuma especular sobre a orientação sexual de famosos
  • Com as redes sociais, fenômeno foi potencializado e linchamento virtual se instaurou
  • Apesar de avanços, ainda há quem tenha prejuízos ao ser afirmar parte da comunidade LGBTQIA+

Nos últimos anos, o avanço tornou-se inegável. Afirmar-se como parte da comunidade LGBTQIA+ deixou de ser uma sentença para muitos famosos. Nomes como Bruna Linzmeyer, Maria Casadevall, Maria Gadu e Reynaldo Gianecchini, por exemplo, professaram seus amores, abriram um pouco de sua intimidade e seguiram trabalhando. Apesar do progresso, é importante lembrar, especialmente neste domingo (11), quando se celebra o "Coming Out Day", que arrancar pessoas do armário, anônimas ou célebres, segue sendo uma grande violência.

Desde que o mundo é mundo, a vida sexual de artistas desperta interesse. Não raro, ouve-se que fulano ou ciclano é gay, que tem namoro de fachada ou que tem de medo de "se assumir" - como se houvesse algum tipo de crime para que ele assumisse. Na imprensa, por décadas e mais décadas, notas cifradas sobre a orientação sexual de famosos viraram uma constante nos anos 80 e 90. Não raro, hoje ainda depara-se com alguma insinuação do tipo em redes sociais, que fizeram com que o fenômeno fosse potencializado e o linchamento virtual por vezes vire rotina.

Na virada para o século XX, tamanha devassa na vida alheia teve consequências trágicas: Oscar Wilde, um dos maiores escritores da língua inglesa, foi julgado e preso por "atos libidinosos com rapazes". Morreu pouco depois da soltura, doente e deprimido. Seu túmulo é até hoje tomado por marcas de batom, de pessoas de todo o mundo que tentam homenageá-lo e, de certa maneira, reconhecer a injustiça de que foi vítima. Em 1952, Alan Turing, responsável por fazer os nazistas serem derrotados na Segunda Guerra Mundial, depois de criar um sistema que decifrava seus códigos, foi quimicamente castrado por ser homossexual. Ou seja: o homem que basicamente inventou o computador - e graças a ele você lê esse texto - não teve o direito a viver como queria. Morreu dois anos depois.

Estas histórias devem ser sempre lembradas para entender que: não importa sua importância para a sociedade - se fez uma guerra ser vencida ou se era um dos maiores intelectuais de seu país -, ser tirado do armário a força traz duras consequências para muitos. Um dos primeiros a se afirmar nessa recente onda, Leonardo Vieira, por exemplo, não ganha um papel nas novelas desde 2016. Por que será?

Ao anunciar ao mundo - ou especular - a orientação sexual de alguém - famoso ou anônimo -, cria-se uma onda de repercussões imprevisíveis. Cada LGBT tem um contexto específico. Muitos apanham, são assassinados (em 2014, por exemplo, o pequeno Alex, de apenas 8 anos, foi espancado até a morte pelo pai por ser "afeminado" e gostar de lavar louça), perdem o emprego ou são expulsos de casa. Com algumas celebridades não é diferente. Todas têm famílias que talvez não aceitem bem, carreiras que podem ser interrompidas e contratos encerrados.

Há que se perceber: sempre que há uma insinuação sobre a homossexualidade alheia, normalmente ela ocorre como se fosse demérito, como se algo de ilícito ou proibido estivesse sendo feito por baixo dos panos. O que ocorre, única e exclusivamente nestes casos, é o direito a exercer a liberdade para amar. É preciso respeitar o tempo de cada um. Depois que eles saem do armário, aí sim, fofoque-se à vontade.