As máscaras caem: o que acontece quando um avião perde a pressão na cabine?

Se você utiliza os serviços de avião comercial provavelmente já viu um dos comissários de bordo realizarem aquela clássica instrução de segurança. Munido de uma máscara de oxigênio e parado no meio do corredor, alguém da equipe sempre ressalta que, se ocorrer perda repentina de pressão na cabine, máscaras iguais àquela cairão na parte de cima dos assentos. Enquanto isso, simula colocar a peça na região entre a boca e o nariz, mostrando o modo correto de utilizar a peça.
Mas, afinal, o que acontece quando você realmente precisa fazer uso dos conhecimentos teóricos aprendidos pouco antes da decolagem? O jornal britânico The Telegraph foi pesquisar e descobriu que a maior parte das cabines das aeronaves são pressurizadas utilizando refrigeração e um complicado sistema que mantém o ambiente com uma pressão equivalente a uma altitude de 8 mil pés - embora aviões comerciais, muitas vezes, voem a até 40 mil pés de altitude (algo em torno de 12 mil metros).
Com isso, todos lá dentro são capazes de respirar sem ajuda, assistir um filme ou tomar um suco enquanto usam os céus para ir de um lugar ao outro do mundo. No entanto, tudo pode mudar quando há uma perda de pressão na cabine - seja lenta ou súbita.
Sem ar
A situação pode acontecer por uma série de razões. Problemas técnicos com o sistema de pressurização são uma das causas, mas rachaduras em janelas ou na fuselagem, portas incorretamente seladas, e violações na aeronave devido a uma explosão também são gatilhos em potencial, permitindo que o ar escape.
Mesmo com tudo em ordem, uma queda na pressão da cabine que faça o sistema do avião acreditar que está acima de 14 mil pés pode levar as máscaras de oxigênio a caírem dos painéis localizados acima das poltronas. Contudo, se um dispositivo explosivo de repente bateu na fuselagem e causou uma rápida queda na pressão da cabine, por exemplo, você pode ter apenas alguns segundos para tomar alguma atitude, especialmente se a brecha aberta for grande.
Em 2007, a fabricante de aeronaves Airbus emitiu uma nota admitindo que "um relatório de acidente recentemente publicado envolvendo um caso de descompressão lenta sugeriu que a indústria global de aviação não fornece treinamento suficiente para a sua tripulação quando ocorre uma situação assim".
A nota explica que, a 40 mil pés de altitude, as pessoas têm menos de 18 segundos de "consciência útil" antes de serem privadas do oxigênio. Também salientou-se que os riscos de hipóxia - falta de oxigênio - são tamanhos que geralmente nem se percebe que está sofrendo com isso até que já não se pode mais respirar. Por fim, a pessoa cai inconsciente.
Preste atenção
Entre os sintomas da falta de oxigênio, estão náuseas, dores de cabeça e euforia. Por isso, é fundamental colocar a máscara primeiro, antes até de ajudar alguém menos capacitado (como uma criança), além de também se segurar no item fixo mais próximo. "Durante um evento de descompressão da cabine, um tripulante foi salvo da ejeção para fora da aeronave por um passageiro, que segurava o tornozelo deste", ressalta a nota.
Nenhuma das companhias aéreas contatadas pelo jornal concordou em dar declarações sobre o tema, embora a Autoridade de Aviação Civil informe que as empresas têm procedimentos "muito claros" a serem seguidos pela tripulação da cabine em caso de despressurização súbita ou gradual.
Casos
Em 2005, um avião da Helios Airways, que ia de Chipre para Atenas, caiu em uma montanha após a perda de pressão na cabine, matando todos os 115 passageiros e seis tripulantes a bordo. A investigação oficial sobre o acidente descobriu que o sistema de pressurização tinha sido deixado em velocidades manual, fazendo com que a pressão da cabine caísse e os pilotos ficassem inconscientes. O suprimento de oxigênio para os passageiros acabou em 15 minutos e, quando o avião, - que estava no piloto automático - ficou sem combustível, acabou caindo a cerca de 33km do aeroporto de Atenas.
Em outro acidente, Payne Stewart, um praticante de golfe em ascensão, morreu com outras cinco pessoas, quando um avião Learjet 35 caiu em outubro de 1999, no caminho entre Orlando e Dallas, nos Estados Unidos. O relatório oficial não conseguiu identificar a causa específica do acidente, mas credita o fato ao provável resultado de uma perda de pressão na cabine e a incapacidade de obter oxigênio de emergência, levando os dois pilotos a perderem a consciência.
Incidentes não fatais também foram documentados. Em 2008, 16 passageiros de um voo da Ryanair que ia de Bristol (Inglaterra) a Barcelona (Espanha) precisaram ir para o hospital depois que queda na pressão da cabine causou um pouso de emergência.
Por fim, em janeiro deste ano, uma porta fechada de forma incorreta em um avião coreano fez com que os passageiros começassem a exibir sinais de hipóxia leve, incluindo dores de cabeça e no ouvido, além de náuseas. Como você pode perceber, existem uma razão pela qual as instruções de segurança estão lá. Por isso, em sua próxima viagem, melhor parar o que estiver fazendo e prestar atenção nos comissários de bordo.
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