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Obra de Niemeyer é declarada Patrimônio da Humanidade em Perigo

Pavilhão Libanês da Feira Internacional Rachid Karami, em Trípoli, no Líbano - Wassim Naghi/Unesco
Pavilhão Libanês da Feira Internacional Rachid Karami, em Trípoli, no Líbano
Imagem: Wassim Naghi/Unesco

De Nossa

27/01/2023 04h00

A Feira Internacional Rachid Karami, no Líbano, o centro da cidade ucraniana de Odessa, e os Marcos do Antigo Reino de Saba, no Iêmen, foram colocados na lista de Patrimônios da Humanidade em Perigo.

A decisão foi tomada pelo Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco — Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura — durante a 18ª Sessão Extraordinária que aconteceu em Paris nesta quarta (25).

Enquanto Odessa se vê ameaçada pelos bombardeiros russos em meio à guerra na Ucrânia, o complexo da feira em Trípoli corre riscos pelos altos custos de manutenção — que é atualmente insuficiente justamente por falta de recursos — e construções em seus entornos.

Já os Monumentos do Antigo Reino de Saba estão em situação bastante similar a Odessa e correm o risco de desaparecer devido aos conflitos recorrentes no país.

Construções são 'excepcionais'

O objetivo da medida, segundo a agência da ONU, foi reconhecer o "excepcional valor universal" dos locais e o "dever da humanidade em protegê-los".

A Feira Internacional Rachid Karami foi considerada um bastião da modernização do Líbano nos anos 1960. Desenhada em 1962 pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, ela ocupa um terreno de 70 hectares no centro histórico de Trípoli, estendendo-se até o porto de Al Mina.

O Pavilhão Libanês, seu prédio principal, consiste em um espaço de 750 metros por 70 metros que recebe exposições internacionais e é um símbolo da cooperação entre países e do modernismo brasileiro no mundo árabe.

Já o centro histórico de Odessa foi colocado na lista também para possibilitar "assistência reforçada técnica e financeira internacional que a Ucrânia possa solicitar para garantir proteção de propriedade ou, se necessário, auxiliar em sua reabilitação".

Odessa é uma cidade livre, globalizada, um porto lendário que deixou sua marca no cinema, na literatura, nas artes e por isso é colocada sob a proteção reforçada da comunidade internacional. Enquanto a guerra continua, sua inscrição dá corpo à nossa determinação coletiva de garantir que esta cidade, que sempre superou convulsões sociais globais, seja preservada de mais destruição."

Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco

O centro histórico de Odessa está localizado na costa do Mar Negro e próxima ao estuário do rio Dniester. Foi fundada em 1794 por uma decisão estratégica da Imperatriz Catarina 2ª para construir um porto de águas quentes ao fim da guerra entre Rússia e Turquia de 1787 e 1792 no local de uma fortaleza turca.

A Unesco frisa a importância de uma cidade que evoluiu de seu planejamento militar durante o século 19, incorporando elementos da cultura do Império Austro-Húngaro e de outros povos e etnias do Leste Europeu e da Ásia no período. Seu centro seria "uma cápsula do tempo" da prosperidade da Revolução Industrial e de um urbanismo heterogêneo e diverso.

Por fim, os Marcos e Monumentos do Antigo Reino de Saba — um complexo de sete sítios arqueológicos — seriam preciosos por guardarem tecnologias, arquitetura e estética desde o primeiro século antes de Cristo à chegada do Islã no Iêmen, por volta do ano 630 d.C.

Suas construções são testemunhas e resultado direto da rota comercial do incenso na Península Arábica e tiveram papel-chave nas trocas culturais entre porções do Mediterrâneo e do Leste da África, frisou a Unesco.

Localizados em uma paisagem árida de vales, montanhas e desertos, as propriedades incluem resquícios de templos monumentais, muralhas e prédios. O sistema de irrigação de Ma'rib, uma das cidades do reino, é um exemplo de proeza tecnológica para a agricultura em escala sem precedentes nas Arábias — que resultou no maior oásis feito por homens na Antiguidade.