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Sexo na cozinha, morte, traições: o hotel que guarda segredos de Hollywood

O hotel Chateau Marmont, em Los Angeles - Anne Czichos/Getty Images
O hotel Chateau Marmont, em Los Angeles
Imagem: Anne Czichos/Getty Images

De Nossa

21/12/2022 04h00

Um símbolo da "decadência chique" que permeia a indústria do cinema, o quase-centenário Chateau Marmont se confunde com a história da sétima arte e da cidade de Los Angeles — e segue atraindo as mais interessantes estrelas do show business para sua atmosfera de excentricidades, sempre privadas.

Construído em 1927 no número 8221 do Sunset Boulevard, no coração de Hollywood, ele foi concebido pelos arquitetos Arnold A. Weitzman e William Douglas Lee com inspiração no Château d'Amboise, uma residência real no Vale do Loire, na França, onde descansam os restos mortais de outra figura ilustre: Leonardo da Vinci.

No entanto, o Chateau nem sempre foi um hotel. Quando imaginado pelo primeiro proprietário, o advogado Fred Horowitz, ele seria apenas um prédio de apartamentos residenciais. No entanto, com a Grande Depressão, ele foi vendido e transformado em hotel em 1931, segundo informações da Variety.

Devido à sua localização, não demorou para que figuras do cinema parassem por lá: uma de suas primeiras gerentes, ainda nos anos 30, teria sido a atriz do cinema mudo Ann Little. Em 1933, Jean Harlow — a bombshell original, muito antes de Marilyn — fez do Marmont o seu lar, onde ela frequentemente se encontrava com Clark Gable.

Segundo o livro "The Castle on Sunset: Life, Death, Love, Art, and Scandal at Hollywood's Chateau Marmont", de Shawn Levy, Nicholas Ray, diretor de "Rebelde Sem Causa", também teria vivido lá, nos tempos escandalosos em que se relacionou com Natalie Wood, então com 16 anos.

O ator Anthony Perkins e seu namorado Tab Hunter conseguiam viver seu amor relativamente em público, mas com privacidade no Chateau. Desi Arnaz costumava fazer do hotel seu refúgio toda vez que brigava com Lucille Ball. Também entre os anos 40 e 60, o hotel era conhecido não só pelas indiscrições de seus hóspedes, mas como por ser um dos únicos na cidade que aceitava clientes negros.

"Always a safe haven. Always open", isto é, "sempre um paraíso seguro, sempre aberto" — este é o lema do Marmont. Seus funcionários, ainda de acordo com Levy à L.A. mag, assinam contratos de confidencialidade, que não permitem divulgar o que viram, ouviram ou presenciaram. Foi assim que eles apenas se limitaram a contar "causos" sem nomes ao autor, como o de um ator que foi pego na cozinha recebendo sexo oral.

Aqueles que viveram por lá, no entanto, acabaram tornando suas peripécias mais públicas. O escritor Dominick Dunne teria uma vez esquecido um filme pornô dentro do vídeo de seu quarto. Envergonhado, ligou ao hotel para dizer que "fez algo terrível" e foi surpreso por um assistente do gerente que apenas perguntou se ele gostaria da fita de volta.

Nem todas as histórias do Chateau Marmont são pitorescas ou têm um final feliz. Ao longo dos anos, ele seguiu encantando novas gerações de atores, escritores, diretores, fotógrafos e artistas em geral. Entre eles estão Hunter S. Thompson, Tim Burton, Johnny Depp, Robert Downey Jr., Courtney Love, Lindsay Lohan e Anthony Bourdain.

Mas dois dos incidentes que mais mobilizaram curiosos aos locais envolvem personalidades recentes em circunstâncias trágicas: em 1982, o comediante John Belushi sofreu uma overdose no hotel e morreu. Já em 2004, o fotógrafo Helmut Newton sofreu um infarto quando saía da garagem, bateu o carro e também faleceu.

Lar daqueles que "não se encaixam", a morbidez destes eventos despertou ainda mais fãs. Segundo Levy, o artista Jean-Michel Basquiat chegou a se hospedar no Marmont e pedir para ficar, especificamente, no bangalô onde Belushi havia morrido.

Por que é tão magnético?

Com 63 quartos, suítes, chalés e bangalôs, ele tem desde acomodações mais modestas a espaçosas, mas seu charme não está em amenidades de luxo, descrevem os próprios famosos.

Eu lembro a primeira vez que fiquei aqui. Parecia aquele hotel assombrado da atração da Disneylândia e tinha um ar de glamour gasto — uma sensação de estar perdida e se encontrar ao mesmo tempo. Lembro de me sentar ao piano uma noite, na sala escura, e tive a distinta impressão que todo os corredores do Chateau Marmont e as passagens levavam a quartos que estavam cheios de pessoas brilhantes e caóticas, todos que de alguma maneira convergiram para este único lugar no Sunset Boulevard: meio santuário, meio manicômio". Contou a cantora Florence Welch, da banda Florence and the Machine.

É justamente este clima quase melancólico — e, ao mesmo tempo, sua perpétua movimentação de personalidades singulares em uma espécie de festa sem fim — que o transformou no cenário ideal para obras justamente das estrelas que o perseguiram praticamente desde a fundação.

Além de ser retratado em livros como "Hollywood", de Charles Bukowski, e diversas músicas como "Off to Races", de Lana del Rey, ele ainda fez aparições nos filmes "La La Land" (2016), "Nasce Uma Estrela" (2018), entre outros. Mas o mais completo tour nas telonas do Marmont acontece mesmo é na película "Um Lugar Qualquer", de Sofia Coppola, membro da realeza hollywoodiana.

Quem não quiser vê-lo apenas no sofá ou no cinema, pode ir até Los Angeles. Suas diárias saem por a partir de US$ 725 ou R$ 3.820. Mais informações sobre orçamentos e reservas podem ser obtidas através do site.