Caçadoras de antiguidades dão as dicas de garimpo para decoração vintage
Móveis antigos e objetos de decoração herdados da avó ou ainda achados em antiquários e brechós dão o tom de decorações com uma atmosfera vintage e muito charmosa. Protagonistas na décor, esses artigos são usados com maestria por decoradoras amadoras de casas reais, que criam ambientes atuais e sem aquela cara de museu.
Fãs dos itens retrô, estas caçadoras de achados desenvolveram um olhar apurado para descobrir aqueles itens que se encaixam nessa tendência. E aqui dividem com a gente alguns macetes deste garimpo.
Um caso de amor antigo
A publicitária Helka Martin Velloso conta que tem uma relação antiga com os móveis e objetos vintage: "Aos 4 anos, enquanto visitava uma casa de fazenda com meu pai, uma antiga mesinha de cabeceira, de porta abaulada e com detalhes em marchetaria, me pegou de jeito. De lá para cá, as coisas só se intensificaram".
A tal mesinha é, inclusive, o xodó de Helka até hoje. "A primeira peça a gente nunca esquece. Na ocasião, meu pai negociou o móvel para mim e ele rodou comigo por todas as casas pelas quais passei. Já assumiu inúmeras funções, aguentou os filhos e os bichos de estimação e continua poderoso".
Para ela, a rotina de garimpo se mescla com a sua vida, já que vasculha brechós por aí desde a década de 1980, quando seus pais começaram a construção de uma casa só com peças de demolição, itens afetivos e achados.
Hoje, em sua própria casa, Helka tem objetos garimpados em todos os cômodos.
Essa proposta de decoração rolou ao acaso, quando eu e minha filha fomos morar sozinhas em nosso primeiro apê. Buscava algo que fizesse sentido para aquele momento, que nos trouxesse acolhimento e que tivesse personalidade. Então, juntei esses requisitos à falta de grana e garimpei móveis e objetos na casa da minha mãe e em alguns brechós"
Loucuras de garimpo
Em nome de sua paixão pelos móveis vintage, Helka conta que já fez algumas loucurinhas para ter os móveis dos sonhos em casa. "Já burlei algumas vezes os direitos dos meus irmãos e fiz o arrastão na casa da minha mãe e desafiei muito as leis da Física abarrotando o carro de móveis", diverte-se ela, contando que também sempre volta das visitas a casa de parentes e amigos com novas peças.
Para levar os seus achados para mais pessoas, Helka criou o Garimpo Afetivo, projeto em que compartilha on-line peças com estéticas que curte e que facilmente teria em sua casa. "Muitas vezes, a questão nem é só encontrar uma determinada peça, mas não imaginar as maneiras como ela pode ser usada. São nesses casos que minha casa acaba tendo um papel ilustrativo, o de mostrar formas de ressignificar ou de decorar com peças garimpadas", diz.
Móveis com memória para frear o consumismo
A historiadora, professora e bordadeira Ingrid Ferreira de Souza é mais uma apaixonada por móveis com memória e encontrou neles uma forma de mobiliar a casa com estilo e freando o consumismo típico do nosso tempo.
Comecei a garimpar peças de brechós e antiquários quando fui morar com meu companheiro. Nós dois somos historiadores e, talvez por isso, compartilhamos o gosto por objetos antigos"
Apesar de só ter começado a adquirir essas peças quando foi mobiliar seu primeiro apartamento, esse gosto pela estética vintage vem de bem antes.
"Na casa dos meus pais, tínhamos móveis que foram da minha avó, mas minha mãe foi se desfazendo de vários. Consegui convencê-la a manter guardada uma das poltronas para que eu levasse quando tivesse minha casa e hoje ela está aqui comigo e é o meu xodó", conta. "Esses objetos me trazem memórias muito boas dos tempos de infância, das casas das minhas tias e da minha avó".
Móveis que emocionam e são ato de resistência
Para Ingrid, o que emociona nos móveis antigos é a estética e o afeto que essas peças carregam.
"Muitas vezes eram feitas priorizando a beleza de detalhes e numa época em que o trabalho artesanal era mais valorizado. Então, de certa forma, acho que esse gosto também é uma afirmação política, em favor de uma forma de vida que não naturaliza o consumo desenfreado e o descarte inconsequente de materiais, trabalho e memórias", afirma.
Na hora de decorar, a historiadora aposta em deixar os móveis e objetos garimpados na sua forma mais orgânica, só fazendo pequenos consertos quando necessários.
"Gosto, inclusive, das marcas do tempo, da mancha do copo molhado no tampo de madeira. São elementos que carregam uma história importante de ser contada, mesmo que não seja a minha. Então, acredito que essas peças acabaram criando um estilo desapegado e leve na decoração da casa, sem perfeccionismos ou grandes intervenções, e deixo que sejam as protagonistas", diz.
Caçadora de antiguidades
A produtora audiovisual, Ana Clara Azevedo Figueiredo, também tem na infância o início do seu namorinho com a estética vintage.
Minha mãe sempre garimpava objetos de decoração e para isso me levava muito em feiras de antiguidade. Ela tinha uma coleção de pratos antigos na parede e lembro de ficar vendo os detalhes de cada um"
Adulta, Ana Clara começou a procurar novos bazares, antiquários, lugares escondidos no seu bairro e foi encontrando peças que eram verdadeiros tesouros. "Comprei algumas para mim e acabei despertando o desejo em meus amigos e pessoas próximas de também terem objetos garimpados em casa. Agora, passo a maior parte do tempo falando sobre ou procurando antiguidades", diz.
Assim, ela criou o Velharia, e-commerce de artigos de decoração que passaram por uma curadoria cuidadosa e apaixonada. "Sempre comentei que deveria revender meus achados e, no início da pandemia, criei uma página para postar algumas artes e peças que eu estava pintando nesse tempo em casa. Logo que pude voltar a garimpar fisicamente, comecei a trazer os objetos garimpados e mesclar as duas coisas".
Para Ana Clara, apostar em móveis e objetos vintage na decoração de interiores é um jeito eficaz de criar ambientes com mais personalidade e que fujam das modinhas.
"Vejo um design muito massificado em grande parte das lojas, com peças iguais, feitas em larga escala e que, por mais bonitas que sejam, fazem com que todas as casas tenham a mesma cara. Equilíbrio é a chave e misturar peças novas e antigas enche a casa de personalidade", afirma.
O fator exclusividade também estimula a produtora a decorar seus espaços. "Acho chique demais quando alguém pergunta 'onde você comprou algo' e é uma peça de brechó e que muito provavelmente não terá uma réplica encontrada facilmente. De quebra, a gente ainda colabora para formas de consumo mais sustentáveis", frisa a produtora.
Entre seus achados favoritos, estão um cinzeiro de vidro dos anos 50, um filtro de cerâmica cor-de-rosa que ganhou de presente, um conjunto de chá e pratos da sua bisavó e outras preciosas heranças de família.
Dicas das garimpeiras para arrasar na decoração
Garimpar requer disposição, pois as peças encontradas nem sempre estarão em excelente estado. Às vezes, é preciso uma reforma aqui, um ajuste ali. Por isso, a publicitária Helka Velloso dá a dica: não vale ter preguiça.
Diferente de uma peça completamente nova, um artigo com alguns anos de vida muitas vezes requer uma boa encerada, um novo estofamento, a mudança da cor, enfim, é preciso ter envolvimento e observar bem o que já existe à sua volta"
A vintage hunter aconselha respeitar a idade dos móveis, mas sempre buscar uma releitura na decoração. "A cor poderá transformar um móvel carrancudo em um móvel dos sonhos. Além de ser a permissão perfeita para ousar na decoração", diz.
Já Ingrid aconselha ter uma lista de prioridades, de móveis e peças que são necessárias na decoração, para, a partir disso, ir frequentando brechós cotidianamente.
"Pesquise pelos pequenos brechós do seu bairro e das redondezas, eles guardam boas surpresas. Fique atento às condições da peça — se precisar de muita reforma, avalie se você terá condições de executar os restauros necessários. Como são objetos únicos e com poucas unidades disponíveis, é preciso ter paciência. Para quem ama o vintage, esse processo de procura e restauro faz parte da festa", afirma.
"O segredo é a pesquisa. Normalmente as melhores peças estão perto de você, seja on-line ou no brechó do seu bairro. Olhe as fotos das casas que você gosta e dê um zoom nas prateleiras: o que tem em cima delas? Castiçais, esculturas, livros antigos... Pesquise cada um desses itens, crie uma pasta com essas imagens e faça suas próprias composições", completa Ana Clara.
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