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Sétimo arquiteto a assumir a Sagrada Família segue os passos de Gaudí

Jordi Faulí dentro da Sagrada Família, em Barcelona - Canaan/Wikimedia Creative Commons
Jordi Faulí dentro da Sagrada Família, em Barcelona Imagem: Canaan/Wikimedia Creative Commons

da AFP, em Barcelona

09/12/2021 10h22

Jordi Faulí é o sétimo arquiteto diretor da Sagrada Família depois de Antoni Gaudí e, para muitos, o responsável por concluí-la. Mas a pandemia voltou a alterar os planos desta obra infinita, em construção há quase 40 anos no coração de Barcelona.

"Gostaria de passar muitos anos aqui, sem dúvida, mas seja o que Deus quiser", admite, com uma careta de timidez, este barcelonês, nascido em um bairro próximo, que entrou para a equipe de arquitetos da basílica em 1990. Ele tinha 31 anos então, a mesma idade de Gaudí quando assumiu, em 1883, a construção desta obra, à qual dedicou quatro décadas até morrer atropelado por um bonde em 1926.

"Quando cheguei, destas colunas só estavam construídas três e apenas os primeiros dez metros", conta Faulí em uma galeria da nave principal. "Tive a sorte de projetar e ver construído todo o interior, depois a sacristia, e agora as torres centrais", explica este homem de 62 anos e fala pausada.

A primeira delas, a da Virgem Maria, foi inaugurada nesta quarta-feira (8) com a iluminação da estrela de 5,5 toneladas — e custo de 1,5 milhão de euros —, que a coroa a 138 metros de altura.

A torre, a segunda mais alta das 18 projetadas pelo genial arquiteto modernista, é a maior das nove concluídas, e a primeira inaugurada desde 1976.

Sagrada Família ganhou estrela de 5 toneladas na torre da Virgem Maria (à esquerda) - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Sagrada Família ganhou estrela de 5 toneladas na torre da Virgem Maria (à esquerda)
Imagem: Reprodução/Twitter

Milhares de pessoas assistiram ao evento, organizado no dia da Imaculada Conceição. A inauguração da torre foi celebrada pelo papa Francisco, que prestou uma homenagem em vídeo ao "grande arquiteto Antoni Gaudí".

História conturbada

Com 4,7 milhões de visitantes, a Sagrada Família foi o monumento mais visto de Barcelona em 2019. Mas, como no resto do mundo, precisou fechar as portas em março de 2020 e permaneceu assim por quase um ano em dois períodos, sem poder reabrir.

Sua Junta Construtora, uma fundação canônica privada, calcula que a visitação não será recuperada até, no mínimo, o fim de 2023.Menos de 764 mil pessoas visitaram o templo no ano passado, segundo o Observatório de Turismo de Barcelona.

Devido à queda da receita, o objetivo de concluir a basílica em 2026, centenário da morte de Gaudí, foi descartado.

"Não podemos dar nenhuma estimativa porque não sabemos como os visitantes serão recuperados nos próximos anos", diz Faulí, uma vez que a basílica só se financia com doações privadas e, principalmente, com os ingressos dos turistas.

A Sagrada Familia, em Barcelona, vista de frente - Zhang Cheng - Zhang Cheng
A Sagrada Familia, em Barcelona, vista de frente
Imagem: Zhang Cheng

Esta não é, no entanto, a primeira dificuldade na história desta construção, que viu seu futuro ameaçado durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), quando muitos planos e maquetes deixados por Gaudí foram destruídos.

Para os críticos do templo, esta perda fundamental não permite considerar o que foi construído depois como obra do inovador arquiteto catalão, apesar do trabalho de rastreamento feito por seus sucessores.

A Unesco só inclui em seu Patrimônio Mundial a fachada da Natividade e a cripta da basílica, erguidas quando Gaudí estava vivo. Mas, para Faulí, o projeto é completamente fiel a seu criador.

Gaudí "desenhou claramente a disposição dos diferentes elementos das naves, das árvores estruturais, das abóbadas, das torres, e propunha que aquelas regras geométricas, aquela gramática que deixava em suas maquetes, pudessem ser replicadas", explica a respeito do estudo minucioso de restos, fotos, desenhos e testemunhos nos quais se baseiam.

Conflito

Nomeado arquiteto diretor em 2012, Faulí chegou a chefiar uma equipe de 27 arquitetos e mais de 100 operários antes da pandemia. Agora, são cinco arquitetos e 16 operários.

"É muita responsabilidade porque é um projeto icônico, um edifício que muita gente vê e sobre o qual opina, e além disso estamos construindo um projeto que não é nosso", afirma.

E uma obra destas dimensões dentro de uma cidade de 1,6 milhão de habitantes, em plena reflexão sobre seu modelo turístico, não agrada a todos.

A basílica por dentro - Kristijan Arsov/Unsplash - Kristijan Arsov/Unsplash
A basílica por dentro
Imagem: Kristijan Arsov/Unsplash

Em algumas sacadas da rua onde deve ser erguida a entrada principal, veem-se cartazes com as mensagens: "Minha vida está aqui e querem jogá-la no chão" ou "Chega das mentiras dos guias turísticos".

Os moradores da região mostram, assim, seu repúdio ao turismo de massa que, segundo eles, está destruindo o bairro e contra a construção de uma polêmica escadaria de acesso ao templo, que obrigaria a realocação de centenas de famílias.

Faulí garante respeitar as reivindicações dos moradores e pede que se encontre uma saída "com diálogo com todo mundo, buscando as soluções justas". Ele gostaria, por exemplo, de ver concluída a fachada principal de uma obra da qual nunca se separou mais do que duas semanas seguidas nos últimos 30 anos.

Tanto que não pode evitar sobressaltos quando interrogado sobre o que perguntaria ao mestre se pudesse.

Após refletir por alguns segundos, responde, pensativo: "Perguntaria quais eram suas intenções profundas na arquitetura, não tanto as formas, as quais vemos, mas que sentimentos queria transmitir".