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O jogo por trás do jogo. Com Jamil Chade e Julio Gomes


Futebol sem Fronteiras #32: Copa Africana abre ano em meio a ameaças e equilíbrio

Do UOL, em São Paulo

06/01/2022 16h00

Neste domingo (9), começa mais uma edição da Copa Africana de Nações. O torneio, que se tornou um terror para os clubes europeus, abre um ano de intensas disputas para o futebol de seleções, já que o calendário de 2022 terminará com 'apenas' uma Copa do Mundo. Mas a competição, que reúne alguns dos jogadores da elite mundial, vem carregada de problemas e discussões.

No podcast Futebol sem Fronteiras #32 (ouça na íntegra no episódio acima), o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade conversaram sobre a disputa da Copa Africana de Nações. O torneio, por si só, já gera grande polêmica por conta dos clubes europeus, que reclamam por liberar uma quantidade expressiva de jogadores para suas respectivas seleções. A atual edição da CAN, porém, apresenta problemas ainda mais graves.

Jamil explicou que o torneio sofreu duas mudanças de data. Originalmente, a CAN seria disputada em Camarões entre junho e julho de 2021, mas foi antecipada para janeiro e fevereiro do mesmo ano. O argumento oficial para a decisão foi o de "condições climáticas desfavoráveis" no país no meio do ano, mas a crescente tensão política também influenciou a medida. A segunda alteração foi causada pela pandemia da covid-19.

"São dois adiamentos. O primeiro não foi relacionado com a covid-19, mas o segundo sim. A dimensão, no tempo de duração do torneio, é de uma Copa do Mundo. Camarões, que tenta organizar a competição, é um país que apresenta uma baixíssima taxa de vacinação contra a covid-19 e, obviamente, há uma questão de insegurança muito grande. Vai acontecer a Copa Africana, mas ninguém previa que a ômicron apareceria e teria um impacto gigantesco em muitas das seleções. A lista é impressionante", disse Jamil, citando o caso de Cabo Verde. Ao todo, 21 membros da delegação, entre jogadores e comissão técnica, tiveram testagem positiva para a covid-19.

De acordo com levantamento da Our World in Data, plataforma ligada à Universidade de Oxford e referência mundial em estudos estatísticos sobre a covid-19, Camarões é um dos países com menor porcentagem da população com vacinação completa (ou seja, pessoas que já tomaram as duas doses ou a dose única) contra a doença: 2,42%. Em média, o índice do continente africano é de 9,54%. Para comparação, o Brasil já tem 67,42% de sua população com esquema vacinal completo, como informado ontem pelo consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte.

Diante de um cenário tão desolador, Jamil alertou para o perigo de haver uma competição desse porte, com grande deslocamento de pessoas, em um ambiente onde a proteção contra a covid-19 é quase nula. "O que tem hoje é falta de doses de vacina. E Camarões está no centro desse debate. É um enorme risco um evento desse com uma população não vacinada. Há especialistas dizendo que a África só ter metade da população vacinada em 2024", lamentou.

Covid-19 não é o único problema

Como se já não fosse suficiente a ameaça da covid-19, a CAN-2021 tem outro problema sério para enfrentar: a tensão política em Camarões, principalmente na região de Limbe, que receberá algumas das partidas do torneio. "É uma região que vive uma tensão muito grande. Em 2016, eclodiu um conflito entre separatistas e o governo de Camarões. São três mil mortos e mais de um milhão de pessoas que tiveram que se refugiar", disse o correspondente internacional.

Para demonstrar força e em uma tentativa de provar ter a situação sob controle, o governo camaronês escolheu Limbe como uma das sedes da CAN-2021. Uma decisão que pode ser desastrosa, como explicou Jamil. "Os grupos separatistas avisaram antes: 'não venham para cá'. O exército está nas ruas. É uma Copa que terá a covid-19, mas também uma questão de segurança extremamente delicada", comentou, lembrando do atentado sofrido pela seleção de Togo em 2010, na edição da CAN realizada em Angola. Na ocasião, o ônibus da delegação togolesa foi atacado, em ação que causou três mortes e deixou nove feridos.

Em meio a tantas polêmicas, ainda há a recorrente discussão sobre os desfalques provocados pela CAN nos clubes da Euopa. "Para deleite dos clubes europeus, a Copa Africana é realizada a cada dois anos. Em 2013, passou a ser bienal, em ano ímpar, justamente para não conflitar com Copa do Mundo. A Fifa pediu para ser no meio do ano e os africanos aceitaram. Aconteceu uma no meio do ano, em 2019", contou Julio.

Se por um lado a CAN causa calafrios nos clubes europeus, por outro o torneio é acompanhado bem de perto pelos torcedores de lá. "A Copa Africana, principalmente no Brasil, parece ser muito distante. Na Europa, ela é seguida porque a diáspora dos vários países africanos a assiste. É um torneio muito popular. E muitos jogadores africanos estão nos clubes europeus. É uma situação maior até do que a Copa América. O impacto nos times europeus é bastante grande", completou.

Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também uma análise das seleções participantes da Copa Africana de Nações: os favoritos ao título, quem pode surpreender e os candidatos a craque da competição.

Não perca! Acompanhe os episódios do podcast Futebol sem Fronteiras todas as quintas-feiras às 15h no Canal UOL.

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