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'Ele ia nos quartos tocar violão, incentivar', diz Ado, ex-goleiro do Corinthians e campeão da Copa de 70, sobre Pelé

Esporte News Mundo (redacao@esportenewsmundo.com.br)

29/12/2022 22h01

O Rei Pelé, maior jogador da história do futebol, morreu nesta quinta-feira (29), em São Paulo, aos 82 anos, em decorrência de um câncer de cólon. Em frente ao hospital Albert Einstein, onde Pelé estava internado, o ex-goleiro Ado, ex-Corinthians e campeão da Copa de 70 ao lado do Rei, contou algumas histórias sobre o Atleta do Século e falou sobre como era jogar com ele. O ex-jogador falou sobre um jogo marcante entre Corinthians e Santos:

? Quando eu entrei em campo e vi aquele time do Santos, no Pacaembu, todos de branco, eu era moleque, tinha 21 anos, fiquei olhando, entrei no campo, fixei nele [Pelé] e pensei: “Será que esse cara vai fazer uns 4 gols em mim hoje?”. Mas, olha, se eu tivesse tomado os 4 dele ia ser muita satisfação porque ia me eternizar. O Andrada (goleiro que levou o gol mil do Pelé) até ficou chateado porque tomou aquele gol de pênalti, mas eu tomaria e até abraçaria ele (risos) ? disse o ex-futebolista.

Ado comentou sobre a conversa que teve com o Pelé após o jogo e que foi crucial para sua carreira:

? E ele falou pra mim depois: “Olha, parece que o Saldanha (técnico da Seleção naquele momento) está te vendo, se cuida”. Eu era menino. Essa passagem marcou muito pra mim, tanto é que fui convocado depois ? completou.

Em outra fala, o campeão do mundo citou a humildade que Pelé carregava consigo mesmo:

? Uma vez, aqui no Morumbi, acho que tinha umas 120 mil pessoas, nós perdemos de 4 a 1, ele fez 2 gols naquele dia. Mas o Pelé não era de tirar o sarro, ele era legal, rapaz. Ele fazia o gol e nunca vi ele menosprezar ninguém, e já era tido como rei do futebol naquela época (fim dos anos 60). Os caras do próprio time que davam dura nele, falavam: “Como é que é, Pelé, vai decidir isso aí?”, e ele só fazia sinal com a mão para esperarem. Pô, era muito legal ? explanou.

Ado começou a carreira no Londrina, em 1964, mas ganhou destaque atuando pelo Corinthians, onde chegou em 1968, porém não ganhou nenhum título pelo clube do Parque São Jorge. Além desses dois, também jogou por América-RJ, Atlético-MG, Portuguesa, Santos, Fortaleza e Bragantino, respectivamente.

Perguntado sobre como era o Rei dentro dos vestiários, o goleiro reserva da Copa de 70 deu alguns detalhes sobre as vivências daquela competição:

? Incentivador. Ele ia nos quartos tocar violão, incentivava no treino. Eu treinava contra ele porque era do time reserva e as bolas divididas ele pulava por cima e falava: “Goleirão, fica tranquilo”, e eu agradecia.

? Tinha uma consideração muito grande por todo mundo, nunca vi ele menosprezar ninguém e nem brigar com ninguém, ninguém. Um jogo no México que ia jogar contra a Inglaterra, foi um jogo difícil, e aí ele entrou no vestiário primeiro, ficava ali na mesa da maca, colocou a mão nos olhos e ficou mentalizando ali, os jogos e tudo. Aí o Brito (ex-zagueiro do Vasco, Botafogo e também campeão do mundo) me falou: “não diz nada, ele está mentalizando” ? completou Ado.

O ex-atleta ainda falou sobre as dificuldades que enfrentou ao jogar contra o Eterno Rei: 

? A gente armava um esquema, mas não dava, né, o Santos era muito forte. Eu falava: “Pô, Riva, volta pra marcar que os caras não estão aguentando aqui atrás, estão vindo com tudo”. Pelé era difícil de marcar porque ele era bom na esquerda, bom de cabeça. Nunca vi igual ? disse ele.

O ex-Corinthians ainda contou que quando defendia as cores do Santos, Pelé, que estava no Cosmos, dos EUA, passou pelo CT do alvinegro praiano e disse: “Quero que o Ado vá pro Cosmos ensinar os goleiros lá”. No fim, ele acabou não indo ? por motivos familiares ?, mas ressaltou o arrependimento de não ter ido jogar com o Rei.

Ado encerrou sua carreira em 1982, aos 36 anos, no Bragantino, clube da cidade de Bragança Paulista, no interior do estado de São Paulo.