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Testemunha da II Guerra, Volgogrado quer ser lembrada na Copa pelo futebol

24/08/2017 06h06

Ignacio Ortega.

Volgogrado (Rússia), 24 ago (EFE).- A antiga Stalingrado, atual Volgogrado, não se esquece dos confrontos que presenciou entre o Exército Vermelho e a Alemanha nazista, mas agora quer que seu novo campo de batalha seja o estádio construído no lugar onde aconteceram os combates mais cruéis da Segunda Guerra Mundial.

"Seria um prazer que Rússia e Alemanha ficassem no mesmo grupo da Copa do Mundo, mas para isso é preciso esperar o sorteio", declarou o governador de Volvogrado, Andrey Bocharov, que vê um possível duelo com bons olhos.

Vários jornalistas alemães participaram de uma excursão organizada pela Fifa pelas sedes do torneio e que os levou a essa cidade, coincidindo com o 75º aniversário do bombardeio das tropas de Adolf Hitler que deu início, em 23 de agosto de 1942, a uma batalha que mudou o destino da Segunda Guerra.

"Seria a grande notícia da Copa (uma partida entre as seleções dos dois países), mas teríamos que deixá-los vencer", comentou um dos repórteres, em tom de brincadeira.

Foram 200 dias de combates em várias áreas às margens do rio Volga. As sequelas ainda podem ser sentidas em Volgogrado, onde ainda são encontrados projéteis, minas e armamentos de diversos calibres, além dos restos mortais de soldados dos dois lados.

Exatamente no solo onde foi construído a Volgogrado Arena há mais de 300 bombas e vários corpos de combatentes do Exército Vermelho, segundo informações passadas por representantes da empresa construtora à imprensa internacional.

"Este é um lugar histórico, mas tenho certeza de que não só para os povos da antiga União Soviética, mas também para todos os povos da Europa e do mundo", destacou Bocharov.

O estádio, que tem capacidade para 45 mil espectadores, foi erguido ao lado do Volga e a poucos metros da estátua mais alta da Europa, a Mãe-Pátria, e de um gigantesco memorial que simboliza o alto preço em vidas humanas pago pela cidade na vitória sobre a Alemanha.

De fato, a colina na qual está localizado o famoso monumento - uma mulher com uma espada na mão convocando para defender a pátria do invasor nazista - é uma vala comum com os restos mortais de centenas de milhares de soldados.

A batalha de Stalingrado é um passado muito vivo no cotidiano da cidade de mais de 1 milhão de habitantes, seja nos tanques e peças de artilharia expostas ao ar livre, seja nas chamas eternas em homenagem ao soldado desconhecido e a onipresente simbologia soviética, que inclui estátuas de Lenin.

"Ninguém como nós sabe o que é a guerra, por isso precisamos de paz, não queremos uma guerra", destacou o governador, que lembrou a visita à cidade do então ministro de Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, há dois anos.

Volgogrado tem muitos fãs de futebol. Prova disso é que em 2 de maio de 1943, três meses após a captura do general Friedrich Paulus, o antigo estádio local sediou, entre escombros e ruínas, um jogo entre o Dínamo da cidade e o Spartak Moscou.

O gramado da Volgogrado Arena será colocado no mês que vem, e o estádio será inaugurado em 9 de maio de 2018, coincidindo com o aniversário da vitória na Grande Guerra Pátria contra a Alemanha, com a final da Copa da Rússia.

"A Copa do Mundo abrirá uma nova era na cidade. A batalha de Stalingrado é a nossa história, mas Volgogrado deve criar um novo futuro", disse à Agência Efe o prefeito da cidade, Andrey Kosolapov.

O local receberá quatro partidas da fase de grupos do Mundial e depois será a casa do Rotor, equipe de ponta na Rússia depois da queda da União Soviética, mas que agora disputa a segunda divisão.

"Será uma Copa fantástica. Volgogrado é uma cidade que é louca por futebol. Além disso, não duvido que o estádio fique lotado após a Copa", comentou à Efe o técnico do Rotor, Valery Yesipov.

A principal embaixadora de Volgogrado é a lenda do salto com vara Yelena Isinbayeva, que sempre se orgulhou de ser oriunda da região, conhecida por sua diversidade étnica.

Poucos se lembram que a cidade se chamou Tsartsin desde a fundação, em 1589, até 1925, quando recebeu o nome de Stalingrado em homenagem ao então secretário-geral do partido e futuro líder soviético, Josef Stalin, que em 1920 liderou as tropas do Exército Vermelho que nela derrotaram o general Anton Ivanovitch Denikin, comandante do Exército Branco. Em 1961, ganhou o nome atual após o processo de desestalinização realizado pelo governo de Nikita Khruschev.