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Morador monta aro olímpico com pneus para pedir investimentos em Belford Roxo

29/07/2016 06h00

Manuel Pérez Bella.

Rio de Janeiro, 29 jul (EFE).- Dois conjuntos de aros olímpicos feitos com pneus usados instalados em Belford Roxo, uma das cidades mais pobres e violentas da região metropolitana do Rio de Janeiro, pedem que os benefícios dos Jogos Olímpicos também cheguem às regiões mais desfavorecidas.

Os aros, um deles de pneus de automóveis e o outro de caminhões, recolhidos de um despejo, foram montados e pintados com as cores olímpicas por Jânio Feitosa de Oliveira, morador do bairro Recantus.

Os símbolos olímpicos de borracha recauchutada estão colocados em uma rua poeirenta, dividida por caminhões, carros e carroças, às margens do poluído rio Botas, de onde sai um cheiro forte e que deságua na Baía de Guanabara, a sede das competições de vela.

Oliveira revelou que sua intenção é chamar atenção das autoridades para atrair mais investimentos para seu bairro, que, segundo ele, recebeu "muito pouca ajuda" nas últimas três décadas.

"Eu estou aqui para ajudar o povo, para fazer uma cidade diferente. Do mesmo jeito que eles estão mudando lá, eu também quero mudar aqui", disse ele em entrevista à Agência Efe.

Outro morador do bairro, José Manuel Ferreira Barbosa, declarou à Efe que a região está "totalmente esquecida" e carece de saneamento básico ou de serviços de saúde. Na região, segundo ele, não se viu nenhum benefício ou legado dos Jogos Olímpicos.

"Em Belford Roxo, não vimos nada de Olimpíada. Se não fosse por ele (Oliveira), só saberíamos das Olimpíadas pela televisão", destacou.

O governo estadual do Rio de Janeiro está praticamente quebrado e, em junho do ano passado, decretou estado de "calamidade pública", cedendo a gestão de vários hospitais ao munícipio do Rio de Janeiro por não poder suprir os custos de administração.

O criador dos aros de pneus, que é pastor evangélico, cansou de esperar a ajuda governamental e começou a realizar obras com as próprias mãos em seu bairro, como vários pontos de ônibus e um parque infantil. Ele também tapa os buracos que se abrem na rua onde estão os símbolos olímpicos devido à passagem dos caminhões.

Oliveira também colocou uma rede para segurar o lixo que passa pelo rio e a recolhe para evitar que os objetos acabem na Baía de Guanabara. "Tudo o que eles têm lá, também quero aqui. Se eles têm pontos de ônibus ou ônibus com ar condicionado, nós também queremos", afirmou.

O pastor evangélico questiona a realização dos Jogos Olímpicos, porque considera que o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quis "trazer algo melhor para o Brasil" e fazer com que o Rio de Janeiro "fosse reconhecido".

Oliveira apenas pede que, do mesmo modo que os responsáveis pelos Jogos Olímpicos gastam "R$ 100 milhões por segundo", dediquem um pouco de dinheiro para Belford Roxo. Uma pequena quantia, segundo ele, poderia ser suficiente para melhorar muito a qualidade de vida.

O propósito de Oliveira, que afirma que atua por desejo de Deus, também é levar um pouco do sabor dos Jogos Olímpicos ao seu bairro.

Ele conta que, após fazer o primeiro conjunto de aros, viu pela televisão os turistas tirando fotos junto ao símbolo oficial instalado na praia de Copacabana. Então, Oliveira decidiu fazer um segundo conjunto de aros maior, com rodas de caminhão, para alegrar seus moradores.

Na próxima quarta-feira, Belford Roxo entrará no programa oficial dos Jogos ao receber a passagem da tocha olímpica, que em seu caminho entre a Grécia e o Rio de Janeiro, onde chegará no próximo dia 5 de agosto, cruzou cerca de 300 municípios brasileiros.