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Putin alerta sobre retorno à era de boicotes dos Jogos Olímpicos

18/07/2016 15h44

Moscou, 18 jul (EFE).- O presidente da Rússia, Vladimir Putin, denunciou nesta segunda-feira a politização do esporte e alertou sobre o retorno à época dos boicotes aos Jogos Olímpicos (Moscou 190 e Los Angeles 1984), após a publicação de um relatório que acusa o governo de estar diretamente envolvido em um escândalo de doping.

"O movimento olímpico, que desempenha um grande papel unificador para a humanidade, está de novo à beira da divisão", disse Putin em comunicado divulgado pelo Kremlin.

Putin lembrou que, em 1980, os países ocidentais liderados pelos EUA usaram a invasão da União Soviética (URSS) no Afeganistão para justificar o boicote aos Jogos de Moscou. A URSS decidiu responder na mesma moeda em 1984, quando Los Angeles sediou o evento.

"Por isso, muitos atletas soviéticos, americanos e de outros países se viram arrastados em uma campanha de boicote mútuo. Em resumo, destroçaram a vida das pessoas e as transformaram em reféns do antagonismo político", disse o presidente russo.

"O movimento olímpico enfrentou uma grave crise e acabou dividido. Mais tarde, alguns políticos de ambos os lados admitiram que aquilo foi um erro", completou Putin.

"Agora vivemos uma revisão dessa ingerência dos políticos no esporte. Sim, a forma dessa interferência mudou, mas a essência é a mesma: transformar o esporte em instrumento de pressão geopolítica e para formar uma imagem negativa de países e povos", denunciou.

Sobre o escândalo de doping no esporte russo, Putin criticou o fato de punir todos os atletas de país pela existência de casos de doping, quando eles são submetidos a "exames estritos".

"No último meio ano, por recomendação da Agência Mundial Antidoping (Wada), os atletas russos foram submetidos a exames sob controle da agência britânica e laboratórios estrangeiros", disse.

Putin desqualificou o relatório divulgado hoje pelo advogado canadense Richard McLaren, a pedido da Wada, por se basear nas declarações de um só homem, o ex-diretor do laboratório antidoping de Moscou, Grigori Rodchenkov.

Segundo Putin, Rodchenkov é uma pessoa de reputação duvidosa, como demostra o fato ocorrido em 2012, quando se abriu contra ele um processo penal por violação da legislação antidoping.

O presidente russo criticou a Agência Antidoping Americana (Usada) por pedir a exclusão da Rússia dos Jogos Olímpicos de 2016 dois dias antes da publicação do relatório em Toronto.

"O que há por trás de tanta pressa? A tentativa de criar uma atmosfera informativa, exercer pressões? Dá a impressão que os analistas da Usada tiveram pelo menos acesso a dito relatório confidencial e pode ser que, inclusive, deram o tom e forneceram conteúdo para ele", destacou.

Putin afirmou que todos os funcionários citados pelo relatório do McLaren serão afastados provisoriamente até concluir a investigação. Contudo, Putin ressaltou que, para tomar uma decisão definitiva, a Wada deve "oferecer uma informação mais objetiva e completa, baseada em fatos, para que seja levada em consideração pelos órgãos de segurança e pesquisa russos".

O presidente russo garantiu que essas investigações sobre doping chegarão "até o final", da mesma forma que a adoção de medidas para evitar o doping e o cumprimento das obrigações internacionais assumidas pela Rússia. "Sempre expressamos claramente nossa postura: no esporte, não há lugar para o doping", concluiu.

De acordo com o relatório, o governo russo promoveu um sistema de doping nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sochi, com o claro objetivo de liderar o quadro de medalhas, sob a supervisão do Ministério de Esportes do país e o Serviço Federal de Segurança (FSB, antiga KGB).