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Campeão do ONE há 5 anos, Bibiano Fernandes revela diferencial do MMA asiático

Felipe Paranhos, em Salvador (BA)

Ag. Fight

25/10/2018 14h50

Bibiano Fernandes pode não ser tão conhecido pelo público médio de MMA no Brasil, mas na Ásia ele é uma das principais estrelas do esporte. Campeão do ONE desde 2013, o manauara tem a oitava defesa do cinturão peso-galo (61 kg) marcada para 9 de novembro, em Singapura. Ele concedeu entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight, na qual revelou detalhes da experiência de ser profissional de lutas em uma cultura completamente diferente da ocidental.

A força global do UFC naturalmente ofusca outros eventos pelo mundo. Mas isso não significa que as ligas fora do eixo americano sejam pouco vistas. Muito pelo contrário, aliás. De acordo com o ONE, que utiliza dados da Nielsen, uma das mais importantes empresas especializadas em medição de dados no mundo, a organização deu um enorme salto de popularidade: a audiência média dos eventos saiu de 1 milhão de pessoas em 2015 para 11 milhões em 2018.

Fernandes declarou acreditar que o status imbatível do Ultimate na atualidade pode ser temporário. Segundo o lutador, o fato de que a Ásia tem mais de 4 bilhões de habitantes multiplica o impacto dos eventos esportivos naquele continente. O atleta de 38 anos afirmou, por outro lado, que a publicidade e a divulgação do Ultimate nos Estados Unidos faz a diferença.

"Tudo é marketing. Tudo na vida é marketing. Tudo o que é feito para o UFC faz com que todo mundo fale deste evento. Hoje, ele é o maior evento, mas amanhã não sei. Pode ser o Bellator, pode ser o ONE, e a galera vai voltar a atenção sempre para o maior evento. Se você é realmente um torcedor de MMA, você vai entender realmente sobre MMA. Mas se você for só uma pessoa que assiste uma luta, 'Ah, tem uma luta do McGregor', então todo mundo assiste a essa luta, mas muita gente para de assistir. Estes não são os fãs. São os que estão ali só para ver a briga. Mas, quando a pessoa entende de luta, entende de transições, de quedas, das artes marciais mistas, o cara sabe quem são os lutadores que estão no top. 'Esse cara é bom, esse cara é ruim'. A Ásia é muito grande, tem bilhões de pessoas. Na minha última luta, na Tailândia, foram mais de não sei quantos milhões de visualizações. Nos números, a Ásia ganha do UFC. Mas o UFC é América do Norte, é o Canadá, é o Brasil, e eles trabalham bastante no marketing", opinou.

O ONE recentemente anunciou a contratação de Eddie Alvarez, ex-detentor dos cinturões de Bellator e UFC. E, segundo a emissora americana 'ESPN', está negociando a troca de Demetrious Johnson, lutador com maior número de defesas de título na história do Ultimate, por Ben Askren. E, segundo Bibiano, qualquer atleta que venha do ocidente precisa se adaptar ao MMA asiático. Por experiência própria.

"Quando eu cheguei para lutar na Ásia, as pessoas chegaram para mim assim: 'Bibiano, você veio lutar para nós, mas a gente tem de explicar como o mercado da Ásia funciona: aqui a gente não bota circo, aqui a gente não faz trash talk, tu não fala mal das pessoas, você não fala que vai lutar, fala que vai competir'. Quando eu cheguei na Ásia, eles me educaram, cara. Eles falaram: 'Quando você se apresenta, você vai colocar um blazer, vai se arrumar'. Os caras me guiaram e falaram tudo o que eu tinha que fazer. O cara que tem aquela mentalidade 'Eu vou lutar, eu vou matar' não vai chegar e crescer na Ásia. Na minha visão, o mercado asiático está em outro nível. Na Ásia, você não precisa falar muito. Se você for bom, você vai fazer seu dinheiro na Ásia, vai fazer sua grana lá. Na América do Norte, você tem que falar m**** para os caras poderem te assistir, para poder vender. Lá não funciona desse jeito", contou à Ag. Fight.

Em 9 de novembro, no evento intitulado 'ONE 78: Heart of the Lion', Bibiano vai fazer mais uma defesa do título contra Kevin Belingon, a quem derrotou em 2016. O filipino é o campeão interino peso-galo e vai tentar unificar os cinturões. Fernandes acredita que o adversário vai modificar a postura para a revanche.

"Ele é um striker muito duro. Tem mãos muito boas, um chute muito bom. Da primeira vez que ele lutou comigo, ele veio com tudo para tentar me nocautear. Então, eu interrompi ele, consegui quedar e finalizei. Desta vez, eu acho que ele vai vir com mais cuidado, vai ter cuidado em pé. Acho que ele vai esperar mais, para tentar me nocautear em pé. Ele vai tentar pegar o tempo em pé. E eu vou lá lutar, dar o meu melhor", encerrou.