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Fiel às origens, 'Bate-Estaca' analisa debandada de lutadores brasileiros para os EUA

Felipe Paranhos, em Salvador (BA)

Ag. Fight

29/07/2018 09h00

Thomas Almeida, Ronaldo 'Jacaré', Júnior 'Cigano', Cláudia Gadelha, Renato 'Moicano'... Nos últimos anos, estes e mais muitos outros lutadores trocaram o Brasil pelos Estados Unidos em busca de uma renovação nos treinos e em suas carreiras. Como os intercâmbios se tornaram cada vez mais frequentes, passou a ser raro ver brasileiros no topo do UFC que fazem seus camps inteiramente no país. Jéssica 'Bate-Estaca' Andrade é uma das exceções. Cria da Paraná Vale Tudo, a peso-palha (52 kg) declarou, em entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight, que compreende a decisão de outros atletas, mas que se manterá na PRVT.

De acordo com a brasileira, a melhor estrutura das academias estrangeiras e a facilidade para encontrar patrocínios têm atraído os lutadores para os Estados Unidos. No entanto, aos 26 anos, com uma luta pelo cinturão no currículo e provavelmente a uma vitória de conseguir outro title shot ? ela enfrenta Karolina Kowalkiewicz no UFC 228, em 8 de setembro ?, a paranaense diz não ver motivos para seguir os colegas.

"Se até hoje, estando aqui no Brasil, treinando aqui em Niterói com a minha equipe, fazendo o meu papel fundamental de ser uma das líderes da PRVT Girls, incentivá-las a chegar no UFC ou em outros grandes eventos, eu tive bons resultados, isso me dá ainda mais força e ânimo para treinar, me dedicar e ser melhor na minha profissão. Isso está me motivando a cada vez mais continuar no Brasil. Se até hoje, não tendo uma grande estrutura, mas tendo o material humano, que são as meninas que treinam comigo, eu estou me saindo muito bem, eu com certeza não preciso ir para fora do Brasil para ter melhoria no meu treino ou na minha carreira", afirmou.

"Para eu ir, só se meu mestre falar: 'Olha, vamos morar nos EUA, vou abrir uma filial da PRVT lá e vou levar todo mundo'. Aí eu falo: 'Então vamos, mestre'. Aí a gente vai. Mas abandonar eles aqui e ir para os Estados Unidos buscar uma outra equipe, não. Jamais. No time que está bom não se mexe", completou.

O exemplo próprio faz com que Jéssica tenha experiência para passar a outros atletas que porventura estejam no início de carreira e desconfiem da qualidade dos treinos no país, uma vez que tantas estrelas estão de saída. Bate-Estaca lembrou do discurso que fez após a derrota para Joanna Jedrzejczyk, no qual afirmou que voltaria mais forte e que teria uma nova chance de disputar o cinturão.

"E isso está acontecendo. Mas isso tudo graças à força de vontade e ao apoio das pessoas boas que estão do meu lado. Então, para quem está aqui no Brasil e está seguindo carreira, por mais que seja difícil... Nada vai ser fácil na nossa vida. Até mesmo se você não for lutador, se não trabalhar com esporte, se tiver uma profissão no escritório. Nunca vai ser fácil. Você sempre vai passar por dificuldades, por empecilhos, mas eu acho que o que você tem que ter é força de vontade de crescer", falou.

"Não adianta só eu escutar as pessoas falando 'Nossa, você é foda, você é sinistra', se eu for para o treino e não treinar, se eu chegar no meu trabalho e não me dedicar o quanto eu preciso me dedicar. Meu mestre pode puxar o treino para mim, mas na hora da luta quem vai estar lá dentro sou eu. Ele não vai estar lá para dar porrada na menina. Ele vai estar do lado de fora falando o que eu tenho que fazer. E eu tenho que ter a sabedoria de escutar e fazer. Mas se eu não treinar para meu corpo estar condicionado, não vai adiantar nada. Tenho que estar pronta. Então, para quem está aqui no Brasil, estejam prontos. Uma hora ou outra vai acontecer. E nessa hora você vai pensar: 'Caramba, eu tô chegando'", incentivou.

Andrade chegou ao UFC em 2013, ainda com 21 anos. Até 2015, ainda como peso-galo, fez sete lutas dentro do octógono mais famoso do mundo, com quatro vitórias e três derrotas. Com o advento da categoria palha, cresceu de produção: desde 2016, foram cinco triunfos e só um revés, justamente o citado por Jéssica, contra Joanna Jedrzejczyk.