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Previsível? Neiman Gracie explica dificuldades para adaptar jiu-jitsu ao MMA

Diego Ribas, em Las Vegas (EUA)

Ag. Fight

20/04/2018 06h00

Membro da mais tradicional família de lutadores jiu-jitsu do mundo, Neiman Gracie não contradiz as suas raízes e coleciona múltiplos títulos na arte suave. No entanto, desde o ano de 2013, o lutador trocou o tatame pelos cages e até agora exibe um cartel invicto nas artes marciais mistas. Com duelo agendado para a 198ª edição do Bellator (segunda maior liga de MMA do mundo) no próximo dia 28 de abril, o atleta abordou as principais diferenças entre os dois esportes, além de analisar seus futuros desafios.

Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight, Neiman foi questionado sobre quais seriam os maiores entraves na hora de adaptar o jiu-jitsu Gracie, baseado em lutas sem limite de tempo ou peso, ao MMA, esporte recheado de regras e limitações quando comparado a um combate de rua. Para o carioca, o principal obstáculo é o de aumentar sua agressividade nas competições de artes marciais mistas, embora ele afirme estar habituado a essas diferenças.

"Essa é a parte mais difícil. O jiu-jitsu que a gente aprende na família é um jiu-jitsu para ser usado no seu dia-a-dia. E se for numa luta, que seja numa luta sem tempo. Eles botam regra, peso, tempo e tudo fica mais difícil pra gente. A gente tem que treinar. Na minha academia, treino com essas regras em mente e tento manter o jiu-jitsu um pouco mais agressivo do que o normal. É assim que eu faço meu jiu-jitsu funcionar no MMA", revelou.

Prestes a enfrentar o mexicano Javier Torres pela categoria meio-médio (77 kg), Neiman não escondeu o jogo ao explicar sua estratégia traçada para o combate: a meta é finalizar. De acordo com o atleta, não há motivos para ocultar o que tentará fazer, uma vez que todos já conhecem seu estilo a essa altura do torneio. No mais, Gracie também se comparou a Demian Maia, outro faixa-preta bem-sucedido no MMA.

"Espero o de sempre, derrubar ele e finalizar. Esse é sempre o plano. Meu plano não muda nunca. Não importa com quem eu lutar. A única coisa que vai mudar é que ele é canhoto, aí tenho que treinar com o pessoal canhoto pra ficar acostumado. Mas já tô treinando com canhotos há muito tempo. Com certeza fica mais difícil, já que estou anunciando isso. Mas eles já sabem disso mesmo eu não falando nada. Não adianta esconder. Basta assistir minhas lutas e saber de onde venho. Mas não estou preocupado com o que eles vão fazer, só com o que eu vou fazer", analisou, antes de dar de ombros com a possibilidade de ser taxado como um atleta previsível.

"Previsível com certeza, porque acho que ele vai saber o que eu vou fazer, mas eu quero saber se ele vai conseguir parar isso. Você pode ver caras como o Demian Maia, que você sabe exatamente o que ele vai fazer e ele vai lá e faz. É exatamente o mesmo estilo", ponderou o brasileiro.

Apesar de Torres vir de uma sequência de quatro vitórias consecutivas e nunca ter sido finalizado em sua carreira de 13 lutas, Neiman afirma não se preocupar com as ameaças do adversário. O carioca garantiu que nunca assiste lutas de seus oponentes e que isso não o impediu de vencer todas as suas disputas até aqui.

"O último cara com quem lutei, acho que ele tinha quase 30 lutas e não tinha sido finalizado. Já tinha até finalizado alguns faixas-pretas mesmo não sendo faixa-preta. Eu vou em busca de mais uma finalização e espero conseguir. Não vi muitas lutas dele, não. Eu não olho muitas lutas dos meus adversários, não. Deixo isso pros meus técnicos. Não gosto muito de assistir", ponderou.

Apesar de focado apenas em seu próximo confronto, Neiman também revela ter interesse em disputar o cinturão da categoria, atualmente defendido pelo ex-UFC Rory MacDonald, Em suas contas, tal possibilidade de disputar o título seria possível com mais uma ou duas boas performances dentro da arena do Bellator.

"Tudo depende da maneira como a luta vai caminhar. Se for uma luta muito boa, em que eu consiga finalizar bem, e dar show, isso já me deixa mais perto. Acho que sendo uma boa luta, e com mais uma ou duas depois dessa, contra algum grande nome da categoria, já vão me botar para lutar pelo cinturão", avaliou o atleta de 29 anos.

Neiman Gracie possui sete combates em seu cartel de MMA e finalizou seis oponentes, batendo outro por decisão unânime. No Bellator 198, o carioca tentará sua sexta vitória pela organização. O card, sediado em Rosemont (EUA), será encabeçado por uma disputa de veteranos do peso-pesado entre o lendário Fedor Emelianenko e o ex-campeão do UFC Frank Mir.