Copa do mundo e política, um coquetel clássico e sempre explosivo
Caliningrado, Rússia, 23 Jun 2018 (AFP) - Vitrine simbólica e midiática sem igual, a Copa do Mundo sofreu a invasão da política em diversas ocasiões ao longo de sua história. Último episódio? A comemoração pró-albanesa de dois jogadores suíços na sexta-feira contra a Sérvia, o que reavivou as tensões em torno do Kosovo.
Mera expressão de alegria espontânea ou verdadeiro ato político? Ao fazer com as mãos o símbolo da águia da bandeira albanesa para comemorar seus gols contra a Sérvia (2-1), Granit Xhaka, nascido na Suíça de família kosovar, e Xherdan Shaqiri, natural da antiga província sérvia de maioria albanesa, provocaram a ira da imprensa sérvia, que denunciou neste sábado uma "provocação vergonhosa".
"Não devemos misturar política e futebol", reagiu o técnico da Suíça, Vladimir Petkovic, que nasceu em Sarajevo (Bósnia-Herzegovina). "Está claro que as emoções afloram e foi o que ocorreu, mas todos nós, dentro e fora do campo, devemos nos afastar da política e nos concentrar neste bonito esporte que une as pessoas", declarou.
Um desejo compartilhado pelas entidades esportivas internacionais como a Fifa, organizadora do torneio.
"Essas instâncias defendem uma posição de apolítica, isto é, um distanciamento dos assuntos políticos", segundo o sociólogo Ludovic Lestrelin, professor e pesquisador da Universidade de Caen. Por quê? "Porque a política é percebida como uma fonte de conflito e desacordo, enquanto o terreno do esporte deve ser um lugar de reconciliação", declarou à AFP.
"Esta é, obviamente, uma posição quase impossível. O esporte, especialmente o futebol, adquiriu tal lugar em nossa sociedade que, de fato, é penetrado por múltiplas questões econômicas, mas também sociais e políticas", acrescentou.
- Vitrine -Desde a sua primeira edição em 1930 até esta Copa, que permite melhorar a imagem da Rússia de Vladimir Putin no mundo, como alguns de seus críticos ocidentais acusaram, a Copa do Mundo, de fato, quase nunca escapou às diferentes crises políticas em sua história.
Em 1934, por exemplo, o triunfo da Itália em casa foi usado por Benito Mussolini como vitrine para o fascismo. Porque, para o Duce, não havia outro resultado possível que a coroação da Azzurra: "Temos que vencer ou destruir o adversário".
Idem na Copa do Mundo de 1978, organizada na Argentina em plena ditadura. Em um regime onde 30.000 pessoas desapareceram, 15.000 foram executadas e 1,5 milhão foram forçadas ao exílio entre 1976 e 1983, o sucesso da Argentina era "indispensável" para fazer esquecer as atrocidades diárias. E isso apesar do boicote de vários jogadores, incluindo o astro holandês Johann Cruyff, que não quis endossar o plano da junta no poder.
A política já se aventurou diretamente no gramado, quando o xeque Fahid Al-Ahmad interrompeu a partida entre França e Kuwait no Mudial de 1982. Ele desceu das arquibancadas para contestar um gol de Alain Giresse, ordenando a seus jogadores que deixassem o campo, antes de o árbitro, fora de controle, concordar em cancelar o gol.
- 'Guerra Fria' e EUA-Irã -Os principais conflitos geopolíticos, por sua vez, encontram uma extensão na prestigiada competição. O espectro da Segunda Guerra Mundial perturbou, por exemplo, a edição 1938, na França: Áustria, qualificada para o torneio, mas anexada pela Alemanha no mesmo ano, não pôde disputar a Copa, enquanto sete de seus jogadores foram incorporados à Mannschaft.
A Guerra Fria obrigou vários países soviéticos a boicotar o Mundial de 1950 no Brasil, que foi disputado sem a URSS, Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia e Tchecoslováquia.
A Coreia do Norte competiu na Copa do Mundo de 1966. Mas sua presença embaraçou a Inglaterra, país anfitrião que não reconhecia sua legitimidade e que recusou exibir sua bandeira, antes de finalmente se retratar.
Dividida em duas em 1945, a Alemanha passou por um episódio comovente em 1974, com o jogo RFA-RDA em Hamburgo. A RDA venceu (1-0), mas foi a RFA que levou o caneco em casa.
O jogo entre o Irã e os Estados Unidos (2-1) na Copa de 1998, passível de agitar as tensões diplomáticas, serviu para um esforço de confraternização entre jogadores e torcedores de ambos os campos, mas sem mudar muito no nível político.
Mera expressão de alegria espontânea ou verdadeiro ato político? Ao fazer com as mãos o símbolo da águia da bandeira albanesa para comemorar seus gols contra a Sérvia (2-1), Granit Xhaka, nascido na Suíça de família kosovar, e Xherdan Shaqiri, natural da antiga província sérvia de maioria albanesa, provocaram a ira da imprensa sérvia, que denunciou neste sábado uma "provocação vergonhosa".
"Não devemos misturar política e futebol", reagiu o técnico da Suíça, Vladimir Petkovic, que nasceu em Sarajevo (Bósnia-Herzegovina). "Está claro que as emoções afloram e foi o que ocorreu, mas todos nós, dentro e fora do campo, devemos nos afastar da política e nos concentrar neste bonito esporte que une as pessoas", declarou.
Um desejo compartilhado pelas entidades esportivas internacionais como a Fifa, organizadora do torneio.
"Essas instâncias defendem uma posição de apolítica, isto é, um distanciamento dos assuntos políticos", segundo o sociólogo Ludovic Lestrelin, professor e pesquisador da Universidade de Caen. Por quê? "Porque a política é percebida como uma fonte de conflito e desacordo, enquanto o terreno do esporte deve ser um lugar de reconciliação", declarou à AFP.
"Esta é, obviamente, uma posição quase impossível. O esporte, especialmente o futebol, adquiriu tal lugar em nossa sociedade que, de fato, é penetrado por múltiplas questões econômicas, mas também sociais e políticas", acrescentou.
- Vitrine -Desde a sua primeira edição em 1930 até esta Copa, que permite melhorar a imagem da Rússia de Vladimir Putin no mundo, como alguns de seus críticos ocidentais acusaram, a Copa do Mundo, de fato, quase nunca escapou às diferentes crises políticas em sua história.
Em 1934, por exemplo, o triunfo da Itália em casa foi usado por Benito Mussolini como vitrine para o fascismo. Porque, para o Duce, não havia outro resultado possível que a coroação da Azzurra: "Temos que vencer ou destruir o adversário".
Idem na Copa do Mundo de 1978, organizada na Argentina em plena ditadura. Em um regime onde 30.000 pessoas desapareceram, 15.000 foram executadas e 1,5 milhão foram forçadas ao exílio entre 1976 e 1983, o sucesso da Argentina era "indispensável" para fazer esquecer as atrocidades diárias. E isso apesar do boicote de vários jogadores, incluindo o astro holandês Johann Cruyff, que não quis endossar o plano da junta no poder.
A política já se aventurou diretamente no gramado, quando o xeque Fahid Al-Ahmad interrompeu a partida entre França e Kuwait no Mudial de 1982. Ele desceu das arquibancadas para contestar um gol de Alain Giresse, ordenando a seus jogadores que deixassem o campo, antes de o árbitro, fora de controle, concordar em cancelar o gol.
- 'Guerra Fria' e EUA-Irã -Os principais conflitos geopolíticos, por sua vez, encontram uma extensão na prestigiada competição. O espectro da Segunda Guerra Mundial perturbou, por exemplo, a edição 1938, na França: Áustria, qualificada para o torneio, mas anexada pela Alemanha no mesmo ano, não pôde disputar a Copa, enquanto sete de seus jogadores foram incorporados à Mannschaft.
A Guerra Fria obrigou vários países soviéticos a boicotar o Mundial de 1950 no Brasil, que foi disputado sem a URSS, Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia e Tchecoslováquia.
A Coreia do Norte competiu na Copa do Mundo de 1966. Mas sua presença embaraçou a Inglaterra, país anfitrião que não reconhecia sua legitimidade e que recusou exibir sua bandeira, antes de finalmente se retratar.
Dividida em duas em 1945, a Alemanha passou por um episódio comovente em 1974, com o jogo RFA-RDA em Hamburgo. A RDA venceu (1-0), mas foi a RFA que levou o caneco em casa.
O jogo entre o Irã e os Estados Unidos (2-1) na Copa de 1998, passível de agitar as tensões diplomáticas, serviu para um esforço de confraternização entre jogadores e torcedores de ambos os campos, mas sem mudar muito no nível político.
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