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Campeão de sumô que agrediu rival anuncia aposentadoria

29/11/2017 13h55

Tóquio, 29 Nov 2017 (AFP) - Em lágrimas, o grande campeão do sumô (Yokozuna) Harumafuji anunciou nesta quarta-feira sua aposentadoria do esporte, depois de sua carreira sofrer um duro golpe por sua violenta agressão a um jovem rival durante uma festa entre lutadores.

"Minha conduta não foi digna de um Yokozuna", declarou um emocionado Harumafuji em coletiva de imprensa em Fukuoka (sudoeste do país), antes de se curvar profundamente em pedido de desculpa.

De 33 anos e de nacionalidade mongol, o grande campeão, que alcançou o status suprema de Yokozuna em 2012 e ganhou cinco vezes a prestigiosa Copa do Imperador, afirmou que assume "a total responsabilidade" pelo ocorrido.

"Eu o vi crescer desde os 16 anos e nunca tinha visto esta transformação violenta nem escutado que ele fosse assim", declarou seu mestre, Isegahama, que parecia mais emocionado que seu campeão e secava as lágrimas com um lenço. "Não consigo entender o que aconteceu".

Durante um encontro de lutadores regado a álcool em outubro, Harumafuji brigou com outro sumô mongol, Takanoiwa, enviando o rival ao hospital com fratura craniana e concussão cerebral.

A equipe de Takanoiwa apresentou uma denúncia há duas semanas, pouca depois do vazamento da notícia. A polícia abriu uma investigação, assim como a Associação Japonesa de Sumô.

Harumafuji negou ter quebrado uma garrafa de cerveja na cabeça de Takanoiwa, mas confessou que o socou e golpeou com um controle de uma máquina de karaokê.

O Yokozuna explicou que perdeu a cabeça quando Takanoiwa, de 27 anos, começou a escrever mensagens por telefone à namorada no momento em que Harumafoji o reprimendava por uma atitude errada.

- Imagem ruim para o sumô -O escândalo teve enorme repercussão no Japão. Apesar de previsível, o anúncio da aposentadoria esportiva de Harumafuji disputava nesta quarta-feira a primeira página dos jornais do país com o novo teste de um míssil norte-coreano.

O assunto reabriu as cicatrizes dos bastidores do sumô, que já contou nos últimos anos com acusações de abusos físicos extremos, casos de drogas, apostas ilegais e vínculo com o crime organizado.

Um mestre foi condenado a seis anos de prisão após a morte em 2007 de um jovem aprendiz, que sofria bullying dos mais velhos, supostamente para fortalecê-lo.

O caso Harumafuji lembra de outro Yokozuna mongol, Asashoryu, que encerrou a carreira em 2010 após ser acusado de agredir um homem na entrada de uma boate em Tóquio.

Os campeões de sumô são endeusados no Japão, mas devem teoricamente apresentar uma conduta exemplar, inclusive fora do "dohyo", o ringue deste esporte de luta tradicional, cujas origens remontam a mais de 2.000 anos e que conserva muito dos rituais religiosos shinto.

O caso Harumafuji é "extremamente lamentável", criticou nesta quarta-feira o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, durante sessão parlamentar, prometendo "medidas apropriadas" do ministro dos Esportes quando a investigação sobre estiver concluída.

"As pessoas comprometidas como o sumô devem ter a consciência de que trata-se do esporte mais antigo do Japão. Devem atuar com responsabilidade para evitar que esta violência aconteça novamente, e nunca trair as expectativas dos japoneses", completou o ministro de Educação e Esportes, Yoshimasa Hayashi.

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