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Caso Fifa: testemunha revela oferta de propina em troca de votos para Catar-2022

27/11/2017 19h51

Nova York, 27 Nov 2017 (AFP) - Vários ex-chefes do futebol na América do Sul receberam ofertas milionárias de subornos em troca de apoio à candidatura do Catar como sede da Copa do Mundo de 2022, revelou nesta segunda-feira uma importante testemunha no início da terceira semana do julgamento do caso Fifa.

Luis Bedoya, ex-presidente da Federação Colombiana de Futebol, é um dos 42 cartolas e empresários de futebol acusados de corrupção pelo governo dos Estados Unidos, no caso conhecido como "Fifagate".

Bedoya se declarou culpado, em novembro de 2015, e se tornou o primeiro ex-chefe de federação a participar como testemunha do governo, no processo contra três poderosos cartolas que insistem em sua inocência: os ex-presidentes das federações do Brasil e do Peru, José Maria Marín e Manuel Burga, e o ex-presidente da Conmebol, o paraguaio Juan Ángel Napout.

Bedoya, de 57 anos, contou à corte que viajou para Madri em 2010 com os colegas da Conmebol. Todos foram assistir a final da Liga dos Campeões em convite da Fox Sports, que segundo outra testemunha do processo, o empresário argentino Alejandro Burzaco, também pagou subornos em troca de contratos de transmissão de partidas.

- Um catari "importante" -Na capital espanhola, enquanto conversavam no hall do hotel com Napout - então ex-presidente do futebol paraguaio - e com o ex-presidente do futebol equatoriano, Luis Chiriboga, o argentino Mariano Jinkis, um dos proprietários da empresa Full Play - também acusada de pagar subornos em troca de contratos - apresentou "alguém importante da televisão do Catar" que falava inglês, disse Bedoya.

O catari, que Bedoya disse não poder identificar, "queria saber se a América do Sul estava disposta a apoiá-los" como anfitriões do Mundial de 2022 "e se tínhamos a possibilidade de dar esse voto para eles".

"Mariano (Jinkis) queria saber se tínhamos influência nos votos da América do Sul na Fifa e disse que era uma oportunidade de negócio importante. Ele manifestou que podia pedir de 10 a 15 milhões de dólares para dividir entre o 'Grupo dos seis', que ganharia cada um 1 milhão ou 1,5 milhões de dólares", afirmou Bedoya.

O chamado "Grupo dos seis" na Conmebol estava formado por países sul-americanos que se sentiam eclipsados por Brasil e Argentina e queriam conquistar poder atuando em conjunto.

Mas segundo Bedoya, os cartolas "responderam de maneira muito evasiva", dizendo que "conversariam depois", mas a oferta nunca se concretizou.

Após a reunião, Napout "me disse muito claramente que era um tema muito complicado, que não nos metêssemos neste tema", relatou.

Nenhum dos cartolas presentes no encontro em Madri fazia parte do comitê executivo da Fifa com poder de voto, diferentemente do então presidente da Conmebol, Nicolás Leoz, e dos chefes da CBF e da AFA na época, Ricardo Teixeira e Julio Grondona. A oferta era para pressionar para conseguir votos a favor do Catar.

Burzaco contou no início do julgamento que Teixeira, Grondona e Leoz votaram a favor do Catar-2022 em dezembro de 2010, em troca de mais de um milhão de dólares em suborno para cada um.