Topo

Juiz paraguaio aceita extraditar Leoz, ex-chefão da Conmebol

16/11/2017 18h04

Asunción, 16 Nov 2017 (AFP) - Um juiz paraguaio aceitou nesta quinta-feira dar sequência ao processo de extradição aos Estados Unidos de Nicolás Leoz, ex-chefe do futebol sul-americano, envolvido no escândalo de pagamento de propinas milionárias conhecido como 'Fifagate'.

Contudo, o juiz ordenou que "antes de proceder, deverá constituir-se uma junta médica" para avaliar a saúde do ex-dirigente de 89 anos, que atualmente está em prisão domiciliar em Assunção.

A decisão judicial coincide com a apresentação de provas e declarações incriminatórias feitas nesta semana por um ex-empresário argentino durante o julgamento em Nova York de ex-dirigentes sul-americanos.

Ricardo Preda, advogado de Leoz no pleito pela extradição, declarou à AFP que apelará da decisão em segunda instância. Caso perca o recurso, poderá apelar à Suprema Corte de Justiça do Paraguai.

Leoz é um dos 42 ex-dirigentes de futebol das Américas e empresários esportivos acusados de corrupção pelo governo americano e pela investigação 'Fifagate'. Três deles, que se declararam inocentes de todas as acusações, estão sendo julgados em Nova York.

São eles o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) José Maria Marín, 85 anos, o paraguaio Juan Ángel Napout, 59 anos, ex-presidente da Conmebol e ex-vice-presidente da Fifa, e o ex-chefe do futebol peruano e ex-integrante do comitê de desenvolvimento da Fifa, Manuel Burga, 60 anos.

No julgamento, o argentino Alejandro Burzaco, ex-presidente da empresa de marketing Torneos e Competencias, compareceu nesta semana como testemunha protegida das autoridades americanas e denunciou um amplo esquema de subornos a ex-dirigentes da Conmebol para garantir a concessão dos direitos de transmissão dos torneios internacionais de futebol.

As denúncias de Burzaco geraram grande repercussão na Argentina. O empresário acusou o todo-poderoso ex-chefe do futebol argentino Julio Grondona, falecido em 2014.

Burzaco afirmou que sua empresa e seus clientes Televisa, do México, e TV Globo, do Brasil, pagaram a Grondona 15 milhões de dólares em propina pelos direitos de transmissão das Copas do Mundo de 2026 e 2030.

Ambas as empresas negaram as acusações.

O filho do ex-dirigente argentino acusou Burzaco de estar mentindo.

"Burzaco mentiu. E foi muito grave. O que ele disse dos direitos para 2026 e 2030 é uma loucura, se papai já estava morto. É uma loucura porque os direitos negociados até agora são de 2018 e 2022", afirmou Grondona filho.

Após as acusações de Burzaco, o empresário argentino Jorge Dehlon, envolvido nas acusações, se suicidou na terça-feira, se jogando sobre as vias de trem de um subúrbio de Buenos Aires.

- Parkinson e hipertensão -"O delito de suborno privado não é um delito estipulado no Código Penal do Paraguai", afirmou o advogado de Leoz, que tem como estratégia postergar por tempo indefinido a extradição do ex-dirigente "por motivos de saúde".

Leoz sofre de Parkinson e de hipertensão, entre outros males de sua idade avançada.

"Se houve um suborno entre particulares, não é um delito no Paraguai. Se não é um ato punível no Paraguai, não se pode extraditar", explicou o advogado.

"Além disso, o doutor Leoz tem problemas de saúde há cinco anos. Hoje, tem 89 anos e tem assistência médica 24 horas por dia. Não viaja de avião há quatro anos por motivos de saúde", argumentou Preda.

Proprietário do exclusivo hospital Migone de Assunção, Leoz foi internado pouco após as prisões em massa de dirigentes da Fifa em Zurique, em maio de 2015.

Os médicos reportaram na época um quadra de hipertensão.

Sobre Leoz, pesam as acusações de associação com crime organizado, fraude eletrônica e lavagem de dinheiro entre 2010 e 2013.

Caso seja extraditado, Leoz não poderá ser julgado por outros delitos sem o consentimento das autoridades paraguaias, afirmou o juiz. O ex-dirigente não poderá ser reenviado a outro país.

- 130.000 dólares para escolas -Em declarações à AFP em 2015, Leoz negou ter recibo valores paralelos pela negociação dos direitos de transmissão das partidas organizadas pela Conmebol.

O paraguaio só admitiu ter aceito da ISL (International Sport and Leisure), empresa suíça de patrocínio esportivo vinculada à Fifa nos anos 1990, cerca de 130.000 dólares "em caráter de doação" para "construir escolas para indígenas em diversos pontos do país (Paraguai)", onde fica a sede da Conmebol.

Leoz, com 50 anos de experiência como dirigente esportivo e 27 anos à frente da Conmebol, se desvinculou em 2013 da entidade sul-americana e da Fifa alegando problemas de saúde.

Sua saída coincidiu com as primeiras publicações na imprensa europeia sobre subornos pela concessão dos direitos de transmissão das Copas do Mundo da Rússia-2018 e Catar-2022.

O paraguaio Juan Angel Napout assumiu a Conmebol no lugar de Leoz em dezembro de 2015. Napout, que se declarou inocente, se encontra preso em Nova York.