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União sagrada cai por terra a uma semana dos Jogos do Rio

29/07/2016 16h56

Rio de Janeiro, 29 Jul 2016 (AFP) - A uma semana dos Jogos do Rio, as relações entre autoridades locais e organizadores foram abaladas com o prefeito Eduardo Paes acusando o Comitê Organizador de "problema gravíssima de gestão" na Vila Olímpica, enquanto novos cortes deixam a delegação russa cada vez mais reduzida.

"Foi uma falha inaceitável, é uma pena, porque foi na largada da Olimpíada", lamentou Paes, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo".

"A Vila dos Atletas ficou pronta e, durante três meses que passou sob o comando do Comitê Organizador, teve um problema gravíssimo de gestão. Durante três meses, aqueles apartamentos foram invadidos, e muitas coisas se roubaram", acusou o prefeito.

"As portas ficaram meio abertas, foi uma falha de atenção do comitê organizador, objetivamente", criticou.

Quando a Vila foi entregue pela construtora, "não havia nenhum apartamento sem privada, sem luminária. Isso tudo infelizmente foi roubado ao longo desses três meses", ressaltou.

De acordo com informações de vários veículos locais, depredações nos apartamentos teriam sido causadas por operários inconformados com o atraso no pagamento dos salários.

Na inauguração oficial da Vila, no último domingo (24), a metade dos 31 prédios apresentava problemas, de simples vazamentos a privadas entupidas com blocos de concreto.

De acordo com o comitê organizador, todos os problemas já foram resolvidos, depois da mobilização de 630 trabalhadores para realizar consertos de emergência.

Questionado pela AFP, na manhã desta sexta-feira, para reagir às acusações de Paes, o comitê organizador não forneceu resposta.

A serenidade também foi abalada por um problema de segurança: de acordo com as autoridades chinesas, vários cidadãos desse país, entre membros da delegação olímpica, jornalistas e turistas, foram vítimas de "roubos frequentes, às vezes a mão armada".

Incertezas jurídico-institucionaisEnquanto isso, atletas de todos os países continuam desembarcando no aeroporto internacional Antônio Carlos Jobim, inclusive membros da delegação inédita de refugiados criada pelo COI.

A esperada delegação russa chegou na noite de quinta-feira, juntando-se a um pequeno grupo que já estava no Rio desde domingo.

Em meio ao megaescândalo de doping que abala o país, a dúvida sobre quais atletas russos poderão de fato participar dos Jogos é um dos principais pontos de interrogação, a uma semana do evento.

A nadadora Yuliya Efimova, dona de quatro títulos mundiais e medalhista de bronze dos 200 m peito em Londres-2012, anunciou que pretende recorrer da suspensão diante do Tribunal Arbitral do Esporte (TAS).

Apesar da urgência de tratar o caso, a mais alta jurisdição esportiva revelou à AFP que ainda não recebeu nenhum recurso da parte de Efimova, nem de qualquer outro russo banido dos Jogos.

"Quanto mais rápido o recurso for apresentado, mais rápido o atleta terá uma posição clara sobre sua situação. O TAS do Rio pode julgar o recurso em 24 horas, se for necessário", explicou o secretário-geral do tribunal, Matthieu Reeb.

O TAS abriu uma delegação especialmente no Rio para tratar dos casos com maior agilidade.

O Comitê Olímpico Russo (ROC) inscreveu 387 atletas na semana passada, mas a delegação já foi reduzida para "272, em 30 modalidades", informou na sexta-feira o ministro do esporte, Vitaly Mutko, ressaltando que a decisão final será tomada no sábado (30).

No último balanço da AFP, nesta sexta-feira, 117 atletas russos foram oficialmente excluídos dos Jogos, cerca de um terço do total de inscritos.

Rússia sem levantamento de pesoDesde domingo, com a decisão do COI de não excluir o país como um todo, a decisão ficou por conta das federações internacionais de todas as modalidades, que precisam avaliar cada caso, de acordo com critérios muito rígidos.

Para competir no Rio, os atletas russos não podem ter sido punidos por doping no passado, ter o nome citado no relatório McLaren, que denunciou na semana passada o esquema de "doping de Estado" no país, além da necessidade de apresentar exames negativos efetuados fora da Rússia.

A última a se pronunciar foi a Federação Internacional de Halterofilia (IWF), que tomou tomou uma medida radical: excluiu todos os oito levantadores de peso russos inscritos para a competição.

Dois desses oito levantadores de peso já haviam sido excluídos pelo Comitê Olímpico Russo (ROC), entre eles Tatiana Kashirina, medalhista de prata nos Jogos de Londres-2012.

Outros quatro foram banidos por terem seus nomes citados no relatório McLaren, explicou a IWF.

Para justificar a exclusão dos outros dois, a entidade afirmou ter ficado "extremamente chocada e decepcionada com as estatísticas dos levantadores de peso russos" em termos de doping.

As federações internacionais de boxe e de ginástica ainda não se pronunciaram, e a decisão delas é muito aguardada, por se tratar de esportes nos quais a Rússia sempre costuma conquistar muita medalha.

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