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Presidente da Federação Internacional de Remo justifica medidas contra doping

28/07/2016 15h33

Paris, 28 Jul 2016 (AFP) - "Era preciso bater forte, mas causou estragos", reconhece em entrevista à AFP o presidente da Federação Internacional de Remo (Fisa), justificando a decisão de excluir 22 dos 28 russos inscritos na modalidade para os Jogos Olímpicos do Rio, em meio a denúncia de doping organizado no país.

Dos 22 banidos, 19 foram suspensos por não ter sido submetido a um número suficiente de exames fora da Rússia, "embora não se possa certificar que esse remadores estão dopados", explica Rolland, que seguiu critérios estabelecidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).

-A Fisa foi uma das federações internacionais mais severas em relação aos atletas russos. O remo é mais atingido do que outras modalidades?

"Sempre fomos pioneiros em termos de luta antidoping, com exames fora das competições desde 1983. Até a entrada em vigor do Código Mundial Antidoping, um remador era banido para sempre logo no primeiro exames positivo. Decisões duras em relação ao doping fazem parte da nossa tradição".

-Qual foi o método usado pela Fisa para excluir remadores russos?

"A escolha foi baseada nas regras antidoping e nos critérios estabelecidos pelo COI. Tentamos aplicá-los da forma mais racional possível: cada remador russo precisa ter sido submetido no mínimo a três exames fora do país para ser elegível. Verificamos as amostras uma por uma nos últimos 18 meses, eliminando todas aquelas que foram armazenadas em Moscou (o que levou a Fisa a excluir 19 remadores).

-O senhor não teme que as pessoas achem que todos os remadores excluídos são necessariamente dopados?

"Era preciso bater forte. Batemos forte, mas isso causou estragos, porque não podemos afirmar que os remadores inelegíveis são necessariamente dopados. De jeito nenhum. Existem federações que não colocam o cursor no mesmo lugar. Não estou comemorando qualquer tipo de vitória, mas assumimos nossas responsabilidades, talvez mais do que outras federações".

-O senhor espera reações da parte dos atletas russos?

"Eu imagino que venham a ter recursos jurídicos, com certeza. No momento, só recebi mensagens de insultos de atletas russos, mas quero dizer a eles: 'não é contra a Fisa que precisa se rebelar! É contra o sistema, contra seu ministro dos Esportes'. Os russos precisam fazer limpeza em casa".

-O que o senhor acha da decisão do COI de ter deixado a cargo das federações a responsabilidade de excluir ou não os atletas?

"A decisão do COI teve repercussão negativa. Mas quando é analisada de perto, linha por linha, o que o COI fez foi reverter a presunção de inocência, e isso é uma decisão importante. A Rússia implementou um sistema de doping de Estado inaceitável, que justifica esta lógica. Depois disso, o COI pediu a cada federação, cada uma com suas especificidade, para avaliar se os russos preenchem os critério de elegibilidade. E ainda existe a possibilidade, em último recurso, de o COI reverter uma decisão".

-Qual é sua análise, no seu esporte, da importância do problemas do doping na Rússia?

"Veniamin Bout, presidente da federação russa, realmente tentou mudar as coisas na sua eleição, em 2013. Ele estava decidido a lutar contra o doping. Contratou um técnico canadense, que escreveu à Fisa para explicar que seus atletas trabalham duro e que ele nunca os viu tomar substâncias proibidas. Não queria estigmatizar os russos. As principais críticas vêm de países anglo-saxões, mas não tenho certeza que esse países realmente façam em casa o que exigem dos outros. Se uma remadora russa que já foi punida por doping vem me procurar e me pede: 'você está me excluindo, mas o que vai acontecer com Gatlin?', seu não saberia o que responder.

Declarações colhidas por Françoise CHAPTAL.