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Rio-2016: Brasil entra na ginga do boxe

19/07/2016 16h40

Rio de Janeiro, 19 Jul 2016 (AFP) - Uma medalha olímpica em 1968 e três em 2012: os pugilistas do Brasil, com seu gingado que virou marca registrada, têm esperanças de dar sequência à ascensão do país no esporte para conquistar novas medalhas, desta vez em casa, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro-2016.

Estas são entrevistas cruzadas com três boxeadores com chances de subir ao pódio, todos eles nascidos e criados na Bahia: Adriana Araújo (34 anos, peso leve, única boxeadora brasileira medalhista olímpica com um bronze em 2012), Joedison Teixeira, o 'Chocolate' (22 anos, peso meio-médio), e Robenílson de Jesus (28 anos, peso galo, alcançou às quartas de final em em 2012).

- Medalhas no horizonte -ADRIANA: "Ninguém trata de sair em busca de uma medalha de bronze ou de prata, todo mundo quer ser campeão. O treinamento acaba sendo pior do que a luta, no treinamento a gente sofre muito mais para sermos campeões".

CHOCOLATE: "Fui o primeiro brasileiro a ser campeão dos Jogos Mundiais de Combate, em 2013 em São Petersburgo. Eu fui o primeiro brasileiro campeão mundial e a partir deste momento as expectativas aumentaram. No ano passado, fui medalhista de bronze nos Jogos Pan-Americanos e no final do ano fui campeão do evento teste das Olimpíadas, do qual participaram diversas potencias do boxe, diversos atletas que já estavam classificados, e eu consegui me sobrepor e ficar acima de todos. Eu estou absorvendo isso com a maior tranquilidade, sem muita pressão porque é a minha primeira Olimpíada, então estou indo para dar o meu melhor, mas com boa expetativa de medalha".

ROBENÍLSON: "Cheguei perto da medalha em Londres. A minha expetativa é subir no pódio e quem sabe cantar o hino do Brasil em casa".

- "Cuba do Brasil" -ADRIANA: "A Bahia é a Cuba do Brasil (Cuba tem forte tradição no Boxe). A gente tem amor por esse esporte e os baianos já nascem com esse gingado. Temos o carnaval, a gente usa muito esse gingado através da dança".

CHOCOLATE (apelido que recebeu aos 11 anos de idade pela semelhança física e técnica com o pugilista Kid Chocolate, boxeador cubano dos anos 1930): "O Estado inteiro respira boxe. Em alguns fins de semana são realizados encontros de academias, treinamentos e eventos para testar os alunos".

ROBENÍLSON: "Salvador, na Bahia, é o celeiro do boxe. A cada ciclo olímpico temos três, quatro baianos nos Jogos. A gente faz tudo certinho para chegar na seleção brasileira".

- Profissionais nos Jogos, "uma loucura" -ADRIANA: "No feminino não vai ter essa mudança, Mas, no masculino, acho isso uma loucura. Há uma grande diferença da prática entre boxe profissional e boxe olímpico. Em menos de dois meses não há condição nenhuma de um atleta profissional se adaptar ao boxe olímpico".

CHOCOLATE: "Os profissionais não vão levar vantagem em tudo. Eles estão acostumados a lutar por vários rounds, então costumam aquecer a partir do terceiro ou quarto round, até lá ficam se estudando. No boxe amador não tem todo esse tempo para isso. A observação é rápida, só temos três rounds. Eu acho que nenhum profissional tem condições de chegar à final".

ROBENÍLSON: "Quem está lutando no profissional vai retroceder e não vai conseguir render tudo que sabe. É uma decisão equivocada. Faria sentido se houvesse tempo para se adaptarem. Para 2020, sim, poderiam acostumar o corpo. Agora, em dois meses, não dá".

- Muhammad Ali no coração -ADRIANA: "Muhammad Ali foi, é e vai continuar sendo o ícone da nossa modalidade e do esporte mundial, não só do boxe. Com certeza ele hoje faz muita falta, mas eu tenho certeza que agora ele está feliz nos braços do pai de nosso senhor Jesus".

CHOCOLATE: "Ele teve um impacto muito significativo na minha vida pelo simples fato de ter superado todos os preconceitos. Ele pegou uma época em que o preconceito era maior no mundo. Isso começa por ter conseguido mudar de nome, por não querer levar o sobrenome imposto pela família que tratou a família dele como escrava. Eu acompanhei por muitos anos o que ele falava, o que ele fazia. O falecimento dele me deixou muito abalado, muito triste, fiquei de luto. Espero que Deus tenha acolhido ele de uma forma muito boa, e que possa admirar essas Olimpíadas, que serão show de bola".

ROBENÍLSON: "E um ícone do boxe mundial. Particularmente, peguei muito do gingado, do bailar de pernas dele. Quem me ver lutando nos Jogos vai ver que só luto de lado, gingando. O jeito dele era mostrar a sua qualidade técnica, a velocidade, isso me cativou e vai estar comigo agora nos Jogos".