Há trinta anos, a 'Mão de Deus' e o gol do século de Maradona
Buenos Aires, 22 Jun 2016 (AFP) - Há exatos trinta anos, Diego Maradona marcou para sempre a história do futebol, com dois gols inesquecíveis: a 'mão de Deus' e a obra-prima na qual driblou meia seleção inglesa.
No dia 22 de junho de 1986, no calor sufocante da Cidade do México, o eterno camisa 10 foi o grande protagonista dessa partida de quartas de final da Copa do Mundo, vencida por 2 a 1 pela Argentina e muito mais lembrada do que a própria decisão do torneio.
Naquele mundial, os 'Hermanos' conquistaram o bicampeonato, com triunfo por 3 a 2 na final contra a Alemanha, mas a vitória sobre os ingleses teve um valor simbólico.
Afinal, o jogo aconteceu quatro anos depois da guerra das Malvinas, e foi visto na Argentina como uma revanche da derrota militar sofrida diante dos britânicos em 1982.
O país estava vivendo um período de renovação, com o retorno à democracia depois de uma ditadura sanguinária (1976-1983) que manchou até a conquista do primeiro título mundial, conquistado em casa, em 1978.
Além do contexto, a jogo consagrou um dos maiores craques de todos os tempos, que foi alçado a semi-deus na Argentina com essa mescla de genialidade e malandragem.
No livro "Meu Mundial, minha verdade" (Meu Mundial, minha verdade), publicado em maio, o próprio Maradona lembra que tinha como missão "honrar a memória dos mortos".
"Pensávamos nos tiros, na guerra. Quando a ficha caiu, choramos todos juntos, pelos rapazes que mataram ingleses e também pelos argentinos que foram mortos, porque foi terrível mandar garotos de 17 anos lutar na Malvinas", recordou.
Apesar das feridas abertas, o clima da partida foi bastante cordial.
"Os ingleses se comportaram como gentlemen conosco. Mesmo depois da nossa vitória, foram para o vestiário nos cumprimentar e trocar as camisas", relata 'El Pibe de Oro'.
O pulo do sapoA reação inglesa foi até surpreendente, quando se sabe que o primeiro gol de Maradona nunca deveria ter sido validado, por ter sido marcado com a mão.
O lance foi aos 6 minutos do segundo tempo. O camisa 10 tenta tabelar com Jorge Valdano, mas a bola resvala em um zagueiro inglês e sobe no céu mexicano, na direção do goleiro Peter Shilton.
O 'baixinho' Maradona não se dá por vencido resolve pular junto com o 'gigante'.
"Isso veio sozinho, como se fosse uma pelada de bairro. Eu só tenho 1,67 m e Shilton 1,85 m, não tinha a menor chance de alcançar a bola. Então pulei como um sapo e dei uma tacada com o punho esquerdo", lembra o ex-craque, hoje com 55 anos.
O estádio explodiu de alegria e o toque de mão passou quase despercebido. Nem Shilton viu o camisa 10 colocar a mão na bola. O único a reclamar foi o zagueiro Terry Fenwick, que correu na direção do árbitro tunisiano Ali Bennaceur.
"Eu não vi o toque de mão. Validaria o gol de novo", confessou o juiz depois.
O gol ficou ainda mais lembrado pela justificativa que Maradona deu: "Esse gol marquei um pouco com a cabeça, um pouco com a mão de Deus", explicou, antes de reconhecer que ficou com medo de o árbitro anular a jogada.
O certo é que Shilton ainda não engoliu a malandragem do argentino. "Não existe nenhuma possibilidade de perdoá-lo. Ele nunca pediu desculpas e ainda comemorou o gol como se fosse legítimo. É um o maior jogador que enfrentei, mas não quero mais saber dele, nunca apertaria sua mão", reclamou o goleiro em coluna no jornal Olé.
Em outra coluna publicada no mesmo diário, Maradona rebateu com a mesma irreverência com a qual celebrou o gol de mão.
"Mas quem vai querer sair contigo, Shilton? Você acha mesmo que vou querer sair para beber com um goleirinho como você. Prefiro sair com o último dos reservas da Inglaterra.
Um gol para a eternidadeShilton se sentiu injustiçado pela Mão de Deus, mas teve que se render ao talento do craque quatro minutos depois.
No segundo gol, Maradona não usou a mão, mas parecia tocado com a graça divina. Em uma arrancada antológica desde o meio de campo, o camisa 10 entortou Peter Beardsley, Peter Reid, Terry Butcher (duas vezes), Fenwick e Shilton, antes de empurrar a bola para o gol vazio.
"Foi o único momento da minha carreira em que senti vontade de celebrar um gol do adversário", lembrou Gary Lineker, que acabou anotando o gol de honra da Inglaterra, aos 36.
"Eu sei que sou mais idolatrado na Escócia do que em outros países por causa desse gol", brincou Maradona, referindo-se às provocações escoceses contra o arquirrival inglês.
Além da beleza do gol, o que ficou na história foi a narração de Victor Hugo Morales, da Rádio Continental.
"Quero chorar! Santo Deus, viva o futebol! Golaaaçooo! Diegooooo! É para chorar, me perdoem! Barrilete cósmico! De que planeta você veio! Para deixar pelo caminho tantos ingleses, para que o país seja um punho apertado gritando Argentina? Graças a Deus, pelo futebol, por Maradona, por essas lágrimas, por este Argentina 2, Inglaterra 0!", gritou o narrador uruguaio radicado na Argentina.
Em 2002, a Fifa elegeu a pintura "o gol do século". Um golaço para a eternidade.
No dia 22 de junho de 1986, no calor sufocante da Cidade do México, o eterno camisa 10 foi o grande protagonista dessa partida de quartas de final da Copa do Mundo, vencida por 2 a 1 pela Argentina e muito mais lembrada do que a própria decisão do torneio.
Naquele mundial, os 'Hermanos' conquistaram o bicampeonato, com triunfo por 3 a 2 na final contra a Alemanha, mas a vitória sobre os ingleses teve um valor simbólico.
Afinal, o jogo aconteceu quatro anos depois da guerra das Malvinas, e foi visto na Argentina como uma revanche da derrota militar sofrida diante dos britânicos em 1982.
O país estava vivendo um período de renovação, com o retorno à democracia depois de uma ditadura sanguinária (1976-1983) que manchou até a conquista do primeiro título mundial, conquistado em casa, em 1978.
Além do contexto, a jogo consagrou um dos maiores craques de todos os tempos, que foi alçado a semi-deus na Argentina com essa mescla de genialidade e malandragem.
No livro "Meu Mundial, minha verdade" (Meu Mundial, minha verdade), publicado em maio, o próprio Maradona lembra que tinha como missão "honrar a memória dos mortos".
"Pensávamos nos tiros, na guerra. Quando a ficha caiu, choramos todos juntos, pelos rapazes que mataram ingleses e também pelos argentinos que foram mortos, porque foi terrível mandar garotos de 17 anos lutar na Malvinas", recordou.
Apesar das feridas abertas, o clima da partida foi bastante cordial.
"Os ingleses se comportaram como gentlemen conosco. Mesmo depois da nossa vitória, foram para o vestiário nos cumprimentar e trocar as camisas", relata 'El Pibe de Oro'.
O pulo do sapoA reação inglesa foi até surpreendente, quando se sabe que o primeiro gol de Maradona nunca deveria ter sido validado, por ter sido marcado com a mão.
O lance foi aos 6 minutos do segundo tempo. O camisa 10 tenta tabelar com Jorge Valdano, mas a bola resvala em um zagueiro inglês e sobe no céu mexicano, na direção do goleiro Peter Shilton.
O 'baixinho' Maradona não se dá por vencido resolve pular junto com o 'gigante'.
"Isso veio sozinho, como se fosse uma pelada de bairro. Eu só tenho 1,67 m e Shilton 1,85 m, não tinha a menor chance de alcançar a bola. Então pulei como um sapo e dei uma tacada com o punho esquerdo", lembra o ex-craque, hoje com 55 anos.
O estádio explodiu de alegria e o toque de mão passou quase despercebido. Nem Shilton viu o camisa 10 colocar a mão na bola. O único a reclamar foi o zagueiro Terry Fenwick, que correu na direção do árbitro tunisiano Ali Bennaceur.
"Eu não vi o toque de mão. Validaria o gol de novo", confessou o juiz depois.
O gol ficou ainda mais lembrado pela justificativa que Maradona deu: "Esse gol marquei um pouco com a cabeça, um pouco com a mão de Deus", explicou, antes de reconhecer que ficou com medo de o árbitro anular a jogada.
O certo é que Shilton ainda não engoliu a malandragem do argentino. "Não existe nenhuma possibilidade de perdoá-lo. Ele nunca pediu desculpas e ainda comemorou o gol como se fosse legítimo. É um o maior jogador que enfrentei, mas não quero mais saber dele, nunca apertaria sua mão", reclamou o goleiro em coluna no jornal Olé.
Em outra coluna publicada no mesmo diário, Maradona rebateu com a mesma irreverência com a qual celebrou o gol de mão.
"Mas quem vai querer sair contigo, Shilton? Você acha mesmo que vou querer sair para beber com um goleirinho como você. Prefiro sair com o último dos reservas da Inglaterra.
Um gol para a eternidadeShilton se sentiu injustiçado pela Mão de Deus, mas teve que se render ao talento do craque quatro minutos depois.
No segundo gol, Maradona não usou a mão, mas parecia tocado com a graça divina. Em uma arrancada antológica desde o meio de campo, o camisa 10 entortou Peter Beardsley, Peter Reid, Terry Butcher (duas vezes), Fenwick e Shilton, antes de empurrar a bola para o gol vazio.
"Foi o único momento da minha carreira em que senti vontade de celebrar um gol do adversário", lembrou Gary Lineker, que acabou anotando o gol de honra da Inglaterra, aos 36.
"Eu sei que sou mais idolatrado na Escócia do que em outros países por causa desse gol", brincou Maradona, referindo-se às provocações escoceses contra o arquirrival inglês.
Além da beleza do gol, o que ficou na história foi a narração de Victor Hugo Morales, da Rádio Continental.
"Quero chorar! Santo Deus, viva o futebol! Golaaaçooo! Diegooooo! É para chorar, me perdoem! Barrilete cósmico! De que planeta você veio! Para deixar pelo caminho tantos ingleses, para que o país seja um punho apertado gritando Argentina? Graças a Deus, pelo futebol, por Maradona, por essas lágrimas, por este Argentina 2, Inglaterra 0!", gritou o narrador uruguaio radicado na Argentina.
Em 2002, a Fifa elegeu a pintura "o gol do século". Um golaço para a eternidade.
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