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Mahrez, o novo Rei do futebol argelino

29/02/2016 19h52

Argel, 29 Fev 2016 (AFP) - Nas lojas de esporte de Argel, as camisas do Leicester vendem como água. A paixão repentina pelo surpreendente líder da Premier League tem nome e sobrenome, Ryad Mahrez, cotado para ser eleito melhor jogador da temporada na Inglaterra e venerado como um semi-deus no seu país.

"Já encomendamos um novo lote há quatro dias, mas ainda não recebemos nada", lamentou um vendedor, que não tem a menor dificuldade para se livrar da mercadoria, apesar do preço salgado de 7.000 dinares (60 euros), cerca de 40% do salário mínimo.

Enquanto o uniforme oficial não chega, os compradores podem adquirir camisas falsificadas, vendidas por muito menos no Kasbah, no centro histórico da cidade.

"Al hamdou lilah (louvado seja Deus)", se rende um jovem vendedor: "Mahrez é uma loucura".

O meia de 24 anos nasceu no subúrbio de Paris, foi esnobado por olheiros da base do Olympique de Marselha e da seleção francesa, que poderia ter defendido, mas virou hoje o ídolo intocável de toda uma nação.

Por ter ousado criticá-lo, Rabah Madjer, ícone do futebol argelino na década de 1980, foi ridicularizado nas redes sociais.

Annis, estudante de 23 anos, justifica a desconfiança de Madjer por um "ressentimento da velha geração em relação àqueles que têm dupla cidadania" franco-argelina.

Ele tem dribles desconcertantes, um passe excelente, e sabe ditar o ritmo do jogo", analisa Annis, que não perde um jogo do craque e pode descrever cada um dos 14 gols marcados nesta temporada na Premier League.

Na Argélia, nem tudo foi flores para o meia revelado no Le Havre, na Normandia, convocado para a surpresa de todos para a seleção nacional em 2014, às vésperas Copa do Mundo no Brasil.

Escalado como titular logo na estreia - contra a Bélgica - Mahrez não correspondeu às expectativas do técnico Vahid Halilhodzic e acabou ficando no banco no restante da competição.

"Alguns me acusaram de ter recebido dinheiro para levar Mahrez ao Brasil", lembrou recentemente o treinador, em entrevista ao jornal Compétition.

- 'Amo meu país' -Com a temporada espetacular na Inglaterra, o meia deixou a desconfiança para trás e virou figura carimbada das convocações do novo técnico da seleção argelina, Christian Gourcuff.

Mesmo tendo marcado apenas 4 gols em 21 jogos representando seu pais, Mahrez tem mais prestígio entre os torcedores que Brahimi ou Feghouli, heróis da campanha histórica do país do norte da África no Brasil, que terminou com a derrota na prorrogação (2-1) para futura campeã, Alemanha.

"Antes de Mahrez, o Leicester era desconhecido na Argélia. O time inglês mais popular aqui era o Liverpool", observa Samir Lamari, editor de esportes do jornal Liberté.

"Hoje, é o clube mais querido do país, acompanhado por mais de cinco milhões de telespectadores, e a Premier League tem mais audiência que a primeira divisão local", revela.

"Hoje, um jogo do Leicester acaba sendo uma oportunidade para se encontrar com os amigos", até quando os 'foxes' jogam no domingo, que é um dia útil na Argélia. Estudantes chegam até a matar aula para assistir às partidas.

Os argelinos também apreciam a humildade do jovem craque, que nunca perde uma oportunidade de voltar à cidade de origem da sua família, Beni Snous, perto da fronteira com o Marrocos.

"Amo meu país, amo o povo do meu país, sempre falo isso quando venho aqui", disse o atleta na sua última visita, em junho.

Foi em Beni Snous que Mahrez enterrou o pai, quando tinha apenas 15 anos. "O falecimento do meu pai talvez seja o ponto de partida. Não sei se a partir desse momento me tornei mais sério, mas, quando ele morreu, as coisas começaram a andar", explicou o atacante no início da temporada ao jornal inglês The Guardian.