Topo

Como Messi virou embaixador de 'óculos falantes' que auxiliam cegos

Lionel Messi, embaixador do Orcam MyEye, os "óculos falantes" - Divulgação/Mais Autonomia
Lionel Messi, embaixador do Orcam MyEye, os 'óculos falantes' Imagem: Divulgação/Mais Autonomia

Do UOL, em São Paulo (SP)

02/06/2023 04h00

Lionel Messi é há mais de dois anos o garoto-propaganda do Orcam MyEye, os "óculos falantes" que promovem a inclusão de pessoas cegas por meio da leitura de textos.

O que aconteceu

O astro argentino virou embaixador da Orcam em setembro de 2020. Ele aceitou associar sua imagem à marca israelense e fechou um contrato por três anos.

Desde então, ele estrela campanhas dos óculos que são periodicamente veiculadas nas redes sociais. A mais recente foi publicada no dia 19 de maio, quando ele compartilhou um vídeo da história de Domingos —um estudante cego da Bahia impactado pelo dispositivo— com seus mais de 466 milhões de seguidores no Instagram.

A empresa buscou em Messi a personalidade de quem "tivesse uma repercussão grande no mundo", conforme contou ao UOL Doron Sadka, CEO da Mais Autonomia. A empresa é a representante exclusiva no Brasil do equipamento lançado em 2018.

"Queriam uma pessoa que passasse a característica de alguém que se preocupa com pessoas com deficiência", enfatizou. O atacante, então, tornou-se um "influencer da empresa".

Sadka também foi o responsável por escolher um representante brasileiro para receber, em Barcelona, um exemplar dos óculos falantes das mãos de Messi, em 2020. Ele relatou que procurou alguém que tivesse o "DNA" de Messi para a ação.

O escolhido foi Mizael Conrado, bicampeão paralímpico no futebol de 5 e eleito o melhor jogador do mundo da modalidade em 1998. O ex-jogador é presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) desde 2017.

Achei que era legal que dois jogadores 'bola de ouro' em categorias diferentes se encontrassem. Foi uma emoção grande para os dois." Doron Sadka

Mais acessibilidade, mas ainda não no esporte

Maior medalhista paralímpica brasileira, a ex-velocista Adria Santos tem um Orcam MyEye desde o final de 2021, quando recebeu o dispositivo de presente.

Ela, inicialmente, utilizaria o aparelho emprestado por uma semana, mas a empresa decidiu fazer a doação. "Fiquei muito feliz, foi muito especial para mim", disse ao UOL.

Adria destacou a autonomia que adquiriu com o dispositivo. "Ter independência para fazer algo que antes eu precisava de alguém para estar ao lado, olhando. Com os óculos, não preciso mais".

A ex-atleta ponderou, no entanto, que os óculos ainda não conseguem auxiliar no esporte. Desenvolvido para leitura de qualquer texto, o aparelho também reconhece pessoas e cédulas de dinheiro, mas não identifica objetos ou o ambiente ao redor.

Para o esporte seria legal se identificasse objetos, obstáculos e direcionasse. Por exemplo, para correr sozinho, já pensou!? Se depois da largada os óculos fossem falando 'direita, esquerda'... Seria legal. Se orientasse, aí, sim, ajudaria no treinamento." Adria Santos

Autonomia de alto custo

Cego, Felipe Diogo realizou o sonho de se tornar comentarista esportivo. Ele se formou em jornalismo, atua há dez anos na profissão e afirma que seu caso é a prova de que "é possível uma pessoa com deficiência visual trabalhar com esporte".

Felipe comprou os óculos falantes há mais de três anos e os utiliza, principalmente, para ler livros e adquirir conhecimento, conforme explicou. Ele disse ao UOL que o dispositivo lhe permite ter acesso a obras que não estão disponíveis em braile ou no formato de audiolivro.

Porém, o profissional não faz uso do aparelho durante as transmissões, quando os ouvidos são seu instrumento de trabalho —além da voz do narrador. A equipe que trabalha com o comentarista no estúdio sabe que é preciso detalhar ao máximo as jogadas para que ele consiga embasar seus comentários.

Felipe enfatizou que o preço é um entrave para tornar o Orcam MyEye acessível. Segundo o jornalista, "quase dava para comprar um carro" quando ele desembolsou, na época, cerca de R$ 16 mil para adquirir os óculos.

Em matéria de conhecimento, facilita bastante. Para fazer audiolivro, mesmo que pague, demora muito. A única questão é que acho que deveria ser um pouco mais acessível, mais barato. Vale a pena? Para quem tem algo para fazer com ele, sim, mas é caro." Felipe Diogo

Adria Santos também fez ressalvas sobre o custo do dispositivo. "É um material caro, não é barato e fácil para todos que precisam", opinou a ex-velocista.

CEO da Mais Autonomia, Doron Sadka falou sobre o preço atual dos óculos (R$ 14,9 mil), lembrando o de outros equipamentos, como aparelho auditivo e cadeira de rodas. Ele destacou que o preço é mais barato no Brasil do que no resto do mundo porque a própria Orcam subsidia uma parte do preço para não inviabilizar produto no mercado nacional.