Topo

Filipe Toledo torce por evolução para surfe alcançar 'nível Super Bowl'

Filipe Toledo, o Filipinho, superou Italo Ferreira na decisão da WSL - Thiago Diz/World Surf League
Filipe Toledo, o Filipinho, superou Italo Ferreira na decisão da WSL Imagem: Thiago Diz/World Surf League

Marcello De Vico

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

11/09/2022 04h00

Mais novo campeão mundial de surfe, Filipe Toledo chegou para o WSL Finals com o primeiro lugar do ranking. Desta forma, teve a vantagem de precisar superar apenas um adversário para conquistar o seu primeiro título, e assim foi: confirmou o favoritismo, bateu Italo Ferreira na grande decisão e deu ao Brasil o sexto caneco do surfe mundial.

Na categoria feminina, a história foi bem diferente. Depois de dominar a temporada regular e se classificar com mais de sete mil pontos à frente da segunda colocada (Johanne Defay), a havaiana Carissa Moore não foi páreo para a australiana Stephanie Gilmore na finalíssima — que entrou no WSL Finals como quinta colocada — e acabou deixando o título escapar.

Se até 2019 o campeão mundial de surfe era definido por pontos corridos, a partir do ano passado entrou em campo um novo formato estabelecido pela Liga Mundial de Surfe (WSL) para dar mais visibilidade ao esporte. A entidade criou o WSL Finals, com cinco competidores definindo o título em apenas um dia através de baterias de mata-mata.

A discussão é semelhante à que acontece no futebol quando o assunto é pontos corridos x mata-mata. Para uns, o formato é injusto e não premia o grande merecedor — como pensa Gabriel Medina, que cornetou o formato após o fim do campeonato. Para outros, a vantagem do líder é suficiente e o formato é necessário para oferecer mais emoção ao público. E para Filipinho? Existem os dois lados.

"É complicado. Tem o lado bom e o ruim, obviamente. A Carissa chegou como nº 1, a Stephanie veio como quinta colocada e fez a mala de todo mundo e ganhou. Mas o lado bom é a visibilidade. Coroar o campeão mundial em um dia dentro d'água, surfando pelo troféu, torna tudo mais emocionante e mais fácil de vender", disse Filipe em entrevista exclusiva concedida ao UOL Esporte um dia após a conquista.

Filipe Toledo, no WSL Finals 2022 - Beatriz Ryder/World Surf League - Beatriz Ryder/World Surf League
Imagem: Beatriz Ryder/World Surf League

Compreensivo com a decisão tomada pela WSL, Filipinho espera que o novo formato eleve o nível do surfe mundial, e mostra ambição em seu raciocínio: "Talvez não agora, mas quem sabe a longo prazo sejam grandes oportunidades para o nosso esporte chegar num nível de um Super Bowl. Quem sabe um dia?", complementa, citando a tradicional final da NFL, a principal liga de futebol americano.

Direto da Califórnia, o novo campeão mundial também comentou sobre a depressão que o atormentava há anos e que, nos dias de hoje, quase não aparece mais. Para ele, o título sequer viria caso ele não tivesse aprendido a controlar melhor a sua mente.

"Não [teria sido campeão]. Sem ter passado pelo que passei, sem ter evoluído, acho que não. Foram momentos que tive de passar para poder evoluir, aprender, crescer e me fortalecer para continuar a caminhada. Eu valorizo esses momentos que passei, não foi nem um pouco fácil, mas aprendi, evoluí, cresci, e acho que foi necessário para eu poder estar aqui hoje", disse.

Confira o papo completo com Filipinho:

UOL: E aí, conseguiu parar um pouco?

Filipe Toledo: Ainda não, acho que nem comecei ainda [risos]. Acho que agora que vai começar a loucura. Demora um pouco para cair a ficha.

UOL: Por um bom motivo, né?

Filipe Toledo: Por um bom motivo.

Filipe Toledo com seu filho Koa no colo após o surfista conquistar o título do mundial de surfe - World Surf League - World Surf League
Filipe Toledo com seu filho Koa no colo após conquistar o título do mundial de surfe
Imagem: World Surf League

UOL: Ao longo de toda a sua caminhada, qual foi o maior sacrifício que você fez para chegar até esse título? Algum momento específico...

Filipe Toledo: Acho que não estar presente no dia que meus filhos nasceram. Não tem sacrifício maior que esse. Eu estava no campeonato. A Mahina, quando nasceu [2016], eu estava em Portugal. E quando o Koa nasceu [2018] eu estava no Brasil, mas ele ia nascer aqui na Califórnia... Mas pelo menos o do Brasil eu consegui ganhar [a etapa de Saquarema] e trouxe para ele de presente para casa [risos].

UOL: Depois que você ganha o título, esses momentos vêm na cabeça? 'Valeu a pena fazer tudo isso'?

Filipe Toledo: Todo trabalho, todo sacrifício, no final das contas vale a pena. Às vezes pode demorar, mas sempre vale a pena.

UOL: Você acha que ter controlado a questão da depressão foi decisivo para esse título? Sem esse controle psicológico, você acha que teria conseguido ganhar?

Filipe Toledo: Não. Sem ter passado pelo que passei, sem ter evoluído, acho que não. Foram momentos que tive de passar para poder evoluir, para poder aprender, para poder crescer e me fortalecer para continuar a caminhada. Eu valorizo esses momentos que passei, não foi nem um pouco fácil, mas aprendi, evoluí, cresci, e acho que foi necessário para eu poder estar aqui hoje.

UOL: Depois de bater na trave nos últimos anos e ver Gabriel Medina, Adriano de Souza e Italo Ferreira serem campeões, você chegou a duvidar se um dia realmente seria campeão?

Filipe Toledo: Eu sou muito persistente em tudo que quero fazer, que eu gosto, que me desafia, que tem a ver com competição ou algo do tipo. Eu não desisto fácil. Eu batalhei muito... Demorou um pouquinho, mas acho que veio na hora certa, em momento especial, e ter visto todos meus amigos sendo campeões durante todos esses anos trouxe mais motivação e força de vontade para eu poder conquistar o meu também.

UOL: Imagino que seu maior sonho era ser campeão mundial, e agora você realizou. Qual o próximo grande objetivo: Mundial ou Olimpíadas?

Filipe Toledo: Acho que Olimpíadas é o novo ápice do surfe e, querendo ou não, toda história das Olimpíadas, todo prestígio que tem, é algo muito especial... Acho que o legal é que eu posso focar no título mundial do ano que vem e, de bônus, se der tudo certo, vem a vaga nas Olimpíadas. Estou focado em mais um título no ano que vem e, se der tudo certo, uma vaga olímpica para tentar uma medalha.

Filipe Toledo comemora após conquistar o Circuito Mundial de Surfe de 2022 - Thiago Diz/World Surf League - Thiago Diz/World Surf League
Imagem: Thiago Diz/World Surf League

UOL: Você chegou a comentar em outra entrevista que um dos pontos que queria melhorar é a evolução em ondas grandes. Você pensa em fazer um tipo de intensivão em Teahupo'o para chegar com mais chance nas Olimpíadas?

Filipe Toledo: Eu tenho feito. Todo ano do campeonato eu vou uns 15, 20 dias antes treinando, evoluindo... Mas, sem dúvida, a gente tem tempo suficiente para poder treinar bastante e é uma evolução que eu quero ter a mais, em Teahupo'o, Pipeline... Vou treinar bastante para poder estar 100%.

UOL: Nós vimos o Gabriel (Medina) dando uma cutucada no formato da WSL. Se a sua vitória não viesse, provavelmente mais gente teria criticado, até porque a Stephanie Gilmore foi a quinta colocada no feminino e acabou levando o título. Como você vê esse novo formato da WSL?

Filipe Toledo: É complicado. Tem o lado bom e o ruim, obviamente. A Carissa chegou como nº 1, a Stephanie veio de quinta colocada, fez a mala de todo mundo e ganhou. Mas o lado bom é a visibilidade. Coroar o campeão mundial em um dia dentro da água, surfando pelo troféu, torna tudo mais emocionante e mais fácil de vender. Talvez não agora, mas quem sabe a longo prazo sejam grandes oportunidades para o nosso esporte chegar num nível de um Super Bowl. Quem sabe um dia?