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Fórmula 1

O país em que é 25 vezes mais provável virar campeão de F1 do que no Brasil

País com o 11° maior IDH do mundo, Finlândia é celeiro de pilotos famosos, como Keke Rosberg, Hakkinen e Raikkonen - Getty Images/EyeEm
País com o 11° maior IDH do mundo, Finlândia é celeiro de pilotos famosos, como Keke Rosberg, Hakkinen e Raikkonen Imagem: Getty Images/EyeEm

Do UOL, em São Paulo

21/08/2022 04h00

O que Keke Rosberg, Mika Hakkinen e Kimi Raikkonen têm em comum além dos títulos conquistados na Fórmula 1?

Os três, que juntos somam quatro troféus na categoria, são da Finlândia, pequeno país nórdico cuja população gira, em dados de 2021, na casa dos cinco milhões de habitantes.

A nação é uma das mais tradicionais na F1: além do trio histórico, outros seis pilotos (Leo Kinnunen, Mikko Kozarowitzky, Mika Salo, JJ Lehto, Heikki Kovalainen e Valtteri Bottas) já desfilaram seus carros pelos circuitos mundo afora.

Somados, os nove atletas possuem 56 vitórias e registram a maior proporção de conquistas de GP por nacionalidade da categoria (6,22 vitórias por piloto) — excluindo o principado de Mônaco. O Brasil é o 2°, com um índice de 3,15 (101 vitórias e 32 pilotos).

Matematicamente, finlandeses têm uma chance 25 vezes maior de título em um campeonato de Fórmula 1 em relação a brasileiros, que somam oito troféus diante de uma população que ultrapassa os 200 milhões de habitantes.

No atual grid, Bottas, ex-Mercedes que hoje defende a Alfa Romeo, é o representante local entre os 20 titulares — e vai continuar no esporte até, pelo menos, o fim do ano que vem. Ele, aliás, foi o finlandês mais famoso do mundo em 2021, de acordo com dados do Ministério das Relações Exteriores da nação nórdica.

Mas como um país tão pequeno em termos populacionais consegue fazer tanto sucesso em um dos esportes mais concorridos do mundo? Não há uma fórmula mágica, mas algumas das respostas começam na própria cultura local.

Geografia e mentalidade peculiares

País com o 11° maior IDH do mundo, a Finlândia tem a paixão por carros como uma tradição semelhante ao amor do brasileiro por futebol.

A própria geografia do local, repleta de florestas e lagos, colaborou para a formação desta mística. "Os finlandeses dirigem em diferentes condições. Nosso clima varia muito, então guiamos no calor e no frio, no molhado e no seco", disse Emma Kimiläinen, atual corredora da W Series, ao site do governo nacional — ela iniciou sua vida no esporte dirigindo kart aos três anos de idade.

Vista aérea de uma estrada em meio à floresta na região da Lapônia, na Finlândia - Getty Images - Getty Images
Vista aérea de uma estrada em meio à floresta na região da Lapônia, na Finlândia
Imagem: Getty Images

"Pilotar na neve também é importante, porque você aprende a controlar o carro", completou a atleta de 33 anos.

Países vizinhos, como Suécia e Noruega, também contam com condições naturais similares, mas não possuem grande relevância na Fórmula 1. O primeiro colocou nove pilotos na categoria (com apenas 12 vitórias no total), enquanto o segundo sequer foi representado nas pistas do evento.

Valtteri Bottas brinca com a neve em Kilpisjärvi, vila na Lapônia, norte da Finlândia - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Valtteri Bottas brinca com a neve em Kilpisjärvi, vila na Lapônia, norte da Finlândia
Imagem: Reprodução/Instagram

Bottas ressaltou a personalidade do finlandês como outro fator de sucesso. "A mentalidade dos finlandeses, em geral, é particularmente boa para o automobilismo porque você precisa manter a calma mesmo nas situações mais difíceis. Somos capazes de manter o controle mental e temos muita determinação", disse ele em entrevista ao site DMarge em 2021.

Há até um ditado inglês relacionado à mentalidade citada pelo piloto da Alfa Romeo que diz o seguinte: "If you want to win, hire a Finn" (Se você quer vencer, contrate um finlandês, em português).

Além da Fórmula 1, os nativos do país nórdico são fissurados por esqui e outros esportes que envolvem motores.

Formando campeões

Diante da alta demanda por automobilismo, foi criada a Flying Finn Academy (Academia Finlandesa Voadora, em português), associação que apoia as carreiras de jovens finlandeses no esporte sobre rodas.

Bottas, Kovalainen e Raikkonen, por exemplo, foram alunos da empresa antes do sucesso a nível mundial nas pistas.

Flying Finn Academy foi criada para ajudar carreira de jovens pilotos da Finlândia - Reprodução/Flying Finn Academy - Reprodução/Flying Finn Academy
Flying Finn Academy foi criada para ajudar carreira de jovens pilotos da Finlândia
Imagem: Reprodução/Flying Finn Academy

Astros do rali, Esapekka Lappi e Teemu Suninen também tiveram suas carreiras impulsionadas após participação na academia "voadora", que oferece locais de treino, coaching psicológico, corridas organizadas e planejamento de carreira aos interessados.

"O objetivo do programa de treinamento é garantir uma longa tradição no sucesso do automobilismo finlandês. O programa da AKK tem a melhor infraestrutura de automobilismo que a Finlândia pode oferecer. Os atletas da Flying Finn Academy são os jovens pilotos mais promissores do país e almejam altos níveis internacionais", informa o site oficial da associação.

Efeito Keke

Keke em foto de 1985; finlandês é ídolo do esporte na Finlândia - Reg Lancaster/Daily Express/Hulton Archive/Getty Images - Reg Lancaster/Daily Express/Hulton Archive/Getty Images
Keke em foto de 1985; finlandês é ídolo do esporte na Finlândia
Imagem: Reg Lancaster/Daily Express/Hulton Archive/Getty Images

Pai de Nico Rosberg — que, ao nascer na Alemanha, por pouco não somou mais um título à Finlândia na lista de campeões —, Keke Rosberg é referência no esporte do país branco e azul, servindo como inspiração para seus sucessores.

De origem sueca, mas com cidadania finlandesa desde a infância, Keke participou pela 1ª vez da Fórmula 1 em 1978, pouco depois de Kinnunen e Kozarowitzky aparecerem, sem grande destaque, entre os pilotos do grid no início daquela década.

Em 1982, quando Hakkinen, Salo e Lehto ainda tinham menos de 18 anos, Keke surpreendeu e brilhou guiando sua Williams. O finlandês superou nomes como Alain Prost, Niki Lauda e Nelson Piquet e tornou-se campeão mundial — para delírio dos então jovens sonhadores.

"No começo, as pessoas zombavam dele, mas, no final, ele provou que tudo é possível. O título aumentou a confiança de nossa nação cada vez mais motorizada. As chances de ninguém eram mais postas em dúvida", disse o professor Matti Urrila, especializado no treinamento psicológico de atletas, ao site do governo finlandês.

Hakkinen e Lehto, aliás, tiveram parte de suas carreiras gerenciadas pelo próprio compatriota, que atuou como "mentor" da dupla após encerrar sua carreira, já no fim de 1986.

Keke Robserg gerenciou carreira do compatriota Mika Hakkinen após se aposentar das pistas -  Paul-Henri Cahier/Getty Images -  Paul-Henri Cahier/Getty Images
Keke Robserg gerenciou carreira do compatriota Mika Hakkinen após se aposentar das pistas
Imagem: Paul-Henri Cahier/Getty Images

"[Meu interesse na Fórmula 1] começou na época em que Keke Rosberg estava pilotando e ficou mais forte quando [Mika] Hakkinen estava no grid. É claro que você fica interessado quando vê que alguns de seus compatriotas estão correndo", disse Raikkonen ao portal oficial da categoria.

Atualmente, há dois finlandeses que despontam como promessas de novos títulos no futuro: William Alatalo (20 anos) e Niko Kari (22 anos). Eles já atuaram pela Fórmula 3 neste ano.

Os números da Finlândia na história da F1

  • Pilotos: 9
  • Vitórias: 56
  • Títulos: 4 (um com Rosberg, dois com Hakkinen e um com Raikkonen)

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