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Pior negócio do esporte paga R$ 6 milhões/ano a atleta aposentado em 2001

Bobby Bonilla em ação durante partida do New York Mets na Major League Baseball (MLB), em 1999 - Ezra O. Shaw /Allsport
Bobby Bonilla em ação durante partida do New York Mets na Major League Baseball (MLB), em 1999 Imagem: Ezra O. Shaw /Allsport

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

01/07/2021 04h00

Diz o ditado que todo dia um malandro e um otário saem de casa; quando eles se encontram, sai algum negócio. Pois o dia 1º de julho é a data mais feliz do ano para o ex-jogador de beisebol Bobby Bonilla. Não por aniversário ou algum dia santo, mas por causa do melhor negócio da história do esporte. O melhor para ele, é claro, porque para o New York Mets é um prejuízo: é nesta data que o jogador, aposentado em 2001, ainda recebe R$ 6 milhões todos os anos.

Bonilla foi um destacado jogador de beisebol entre os anos 1980 e 90, campeão da MLB em 1997 pelo Florida Marlins e contratado pelos Mets no ano seguinte. Seria a segunda passagem pelo time de Nova York, e é aqui que a história começa.

Foi uma temporada decepcionante, de muito atrito com o treinador e um episódio infame: Bonilla teria jogado cartas no banco de reservas, com um companheiro, enquanto o time era eliminado dos playoffs a poucos metros dali. Foi a gota d'água para que os Mets decidissem rescindir seu contrato, mas a negociação acabaria sendo terrível para a franquia.

Para mandá-lo embora, os Mets precisariam pagar US$ 5,9 milhões a Bonilla, referente aos salários do ano 2000, o último do contrato então vigente. A franquia dizia não ter este dinheiro, portanto deu um jeito de adiar o pagamento. Em vez de depositar o valor original, à vista, ficou combinado um pagamento de 25 parcelas anuais, cada uma de US$ 1,19 milhão, a começar em 2011.

Bobby Bonilla, então no New York Mets, posa para foto na temporada de 1999 - Matthew Stockman /Allsport - Matthew Stockman /Allsport
Bobby Bonilla teve carreira vitoriosa, foi All-star seis vezes, mas ficou marcado mesmo pelo 1º de julho
Imagem: Matthew Stockman /Allsport

E assim foi: em 2011 os Mets depositaram a primeira parcela, em 2012 a segunda, e desde então o ex-jogador recebe um salário polpudo a cada 1º de julho. Em vez daqueles cerca de US$ 6 milhões, a franquia vai pagar a Bonilla quase US$ 30 milhões quando sanar a última parcela, prevista para 2035. O negócio é tão surreal que os torcedores de beisebol criaram o "Bobby Bonilla Day" para celebrar o infortúnio dos Mets todo ano.

Esquema de pirâmide fez Mets aceitar o acordo

Nunca é boa ideia deixar uma dívida quintuplicar, mas este caso específico foi consequência da maior fraude financeira de que se tem notícia. Os Mets aceitaram adiar o pagamento (e pagar muito mais a Bonilla) porque na época os donos do time, Fred Wilpon e Saul Katz, tinham 10% de rendimento de um negócio nebuloso com um homem chamado Bernie Madoff. Era um esquema de pirâmide, o maior da história.

Para Wilpon e Katz, que alegavam não saber da fraude à época, valia a pena adiar as parcelas a Bonilla e depois pagar com os rendimentos do investimento feito com Madoff. Acontece que tratava-se de um esquema do tipo Ponzi: o "lucro" dos investidores mais antigos não era lucro, mas os depósitos dos investidores mais recentes. Quando bateu a crise de 2007, ninguém conseguiu resgatar o investimento.

O esquema fraudulento foi estimado em US$ 65 bilhões. Wilpon, Katze e outras três milhões de pessoas amargaram o prejuízo, e o New York Mets nunca mais pôde gastar o que gastou até os anos 2000. Bernie Madoff acabou preso, condenado a 150 anos de reclusão e morreu na prisão, em abril deste ano. Já Bobby Bonilla, que não tem nada a ver com isso, ainda recebe seu pagamento milionário mesmo aposentado há 20 anos.