O amor por esse time eu herdei do meu pai, com quem sempre vi os jogos na nossa televisão em Miguelópolis, a cidade de 20 mil habitantes no interior de São Paulo, onde nasci. Em 2008, quando eu tinha oito anos, realizei um sonho infantil quando meu pai encarou a viagem de seis horas até a capital para me levar para ver o Corinthians ao vivo, no Pacaembu — um 0 a 0 contra o Criciúma pela Série B.
Crescendo, eu vi o Corinthians crescer também. Saímos da Série B e ganhamos tudo: Série A, Libertadores, Mundial. Nosso time, conduzido pelo Tite, tinha uma defesa forte. Mas dentro de mim, a doença começou a contra-atacar. Meus pulmões foram ficando cada vez mais fracos, e eu já não conseguia jogar futebol como antes: precisava sempre sair de campo para descansar e recuperar o fôlego.
As internações em um hospital de Ribeirão Preto foram ficando mais frequentes: primeiro dias, depois semanas, cada vez menos tempo em casa, entre uma internação em outra. Em maio de 2015, o Corinthians foi eliminado da Libertadores pelo Guaraní do Paraguai, uma derrota que nenhum corintiano esquece. Em julho, eu fui internado e transferido às pressas para a capital, onde ouvi dos médicos que a única solução para o meu caso seria um transplante dos pulmões.
"Não tem problema", eu disse aos meus pais, um engenheiro agrônomo e uma assistente social. "Aqui é Corinthians!"
Descobri que a fila de transplantes poderia ser longa, e a espera levar até um ano e meio. Até lá, precisaria respirar com a ajuda de um tambor de oxigênio e fazer várias sessões de fisioterapia para tentar melhorar minha capacidade respiratória. Todo meu tratamento foi financiado pelo SUS.