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Carro com lutador capota horas antes da luta, mas ele sobe no cage e vence

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

31/01/2019 04h00

O lutador de MMA Acácio "Pequeno" dos Santos é um homem de sorte, embora a sorte chegue até ele por caminhos tortuosos. O mineiro já havia sido personagem de uma reportagem em 2017 no UOL Esporte relatando seu sacrifício para perder 20 kg em vinte dias e o doloroso processo de dieta e desidratação para chegar ao peso de sua categoria.

Dois anos depois, Acácio se viu diante de um problema ainda mais inesperado e dramático horas antes da luta contra o paranaense Matheus "Buffa" Scheffel, no Future FC, organização estreante no MMA brasileiro.

Na última sexta-feira (25), depois de desidratar cinco litros em três horas, Acácio teve que pegar um carro emprestado por seu treinador para sair de Guarulhos (SP) até Indaiatuba (a 132 km de distância) enfrentar Buffa. Como ele não conseguiu liberação do trabalho como segurança privado de uma empresa, só pôde ir ao ginásio depois do expediente, no fim da tarde.

Acácio dirigia o Celta 2003/2004, acompanhado do também lutador Mohamed Said, quando de repente sentiu o volante puxar bruscamente para esquerda. Ele ainda tentou controlar a direção, mas não pôde evitar que o carro entrasse no acostamento e capotasse duas vezes antes de parar com o lado do passageiro para o chão.

"Foi muito rápido, quando tentei puxar para o lado oposto, ele virou", conta o lutador, que horas antes havia trocado um pneu furado por um estepe. A suspeita é que o estepe tenha também furado, provocando o acidente.

Celta capotado - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

O Celta ficou bastante avariado, mas nem Acácio, nem Mohamed se feriram. Outros motoristas os ajudaram a se desvencilhar do acidente. Uma equipe de emergência da concessionária administradora da rodovia os examinou rapidamente. Preocupado com o compromisso que tinha no cage do Future, Acácio pediu um Uber até o ginásio de Indaiatuba.

Lá, foi examinado pela comissão atlética do Future. Abalado pelo trauma, chegou a chorar intensamente nos bastidores do ginásio. "Eu disse que só precisava de um tempo para me concentrar e voltar a pensar na luta", afirma. Aprovado para subir no decágono (diferentemente do UFC, o cage do Future tem dez lados), Acácio foi à 14ª luta de sua carreira.

Acabou vencendo por decisão dividida dos árbitros laterais, mesmo tendo quase caído durante o primeiro round. Com um ritmo de intenso de troca de golpes nos três assaltos, o combate foi considerado o melhor da primeira edição do Future e, como prêmio, Acácio e Buffa receberam 250 dólares (R$ 921) cada um. Os dois foram aplaudidos de pé pelo público do ginásio.

Acácio diz que jamais pensou em desistir do combate, mesmo após o capotamento. "Não seria justo com meu oponente, que também batalhou muito para estar ali." O Future chegou a anunciar uma punição de seis meses ao lutador, sob o argumento de que ele não teria comunicado a organização sobre o acidente.

Em contato com o UOL Esporte, o presidente Lucas Lutkus afirmou que o anúncio foi um erro de comunicação, e que Acácio realmente informou sobre o acidente e foi habilitado pela equipe médica a lutar. "Havia uma preocupação em relação à saúde dele, mas ele estava bem, lutou e foi aplaudido por todos", afirmou Lucas. "Era a primeira vez do evento, e esses problemas de comunicação vão ser corrigidos para que não se repitam."

O Future pretende contar com Acácio em sua edição de março. Depois do susto e da vitória apertada, a maior preocupação do atleta agora é pagar o conserto do carro de seu treinador. "Se fosse com o meu, eu estaria tranquilo", diz ele.