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Opinião: manutenção dos pontos corridos é uma decisão acertada

08/04/2020 18h17

Com a recente paralisação dos principais eventos e campeonatos esportivos em decorrência da pandemia causada pela COVID-19, não é de se estranhar que "oportunistas de plantão" aproveitem o momento para levantarem o debate sobre temas absolutamente ultrapassados. No futebol brasileiro, por óbvio, isso não é diferente.

Dentre os diversos temas em voga diante deste cenário, um merece especial atenção, afinal, é tema recorrente e praticamente imortal: o clássico debate sobre qual é a melhor fórmula de disputa para o Campeonato Brasileiro, a principal competição nacional - "pontos corridos" ou "mata-mata"?

Em que pese já estar comprovado, por números e projeções, o benefício dos pontos corridos, muitos ainda tendem a reacender esta discussão. Como principal argumento para a volta do mata-mata, temos o fator emoção. Para os defensores desta fórmula, com a adoção do mata-mata, o Campeonato Brasileiro ficaria mais emocionante e imprevisível, ingredientes fundamentais e responsáveis por consolidar o futebol como um dos esportes mais apaixonantes do mundo.

Em contrapartida, pelo lado da razão, temos a fórmula dos pontos corridos disputados em turno e returno, que, além de beneficiar os clubes mais regulares e planejados, beneficia toda cadeia produtiva do futebol, inclusive os próprios torcedores que, por ventura, prefiram o sistema de mata-mata.

Neste sentido, enquanto o último Campeonato Brasileiro disputado no sistema de mata-mata, em 2002, totalizou 204 partidas, sendo 190 delas disputadas na fase de classificação e 14 nos confrontos eliminatórios, atualmente, com a consolidação da fórmula dos pontos corridos em turno e returno com 20 clubes, chega-se ao expressivo número de 380 partidas.

Cabe ressaltar que, nesta hipótese, a quantidade e a certeza do número de partidas que serão disputadas foram fundamentais para os clubes estruturarem os programas de sócio-torcedor e desenvolverem o sistema de pay-per-view, hoje fontes essenciais de receita para as entidades esportivas. Além disso, pelo caráter decisivo que todos os jogos possuem no sistema de pontos corridos, vimos um aumento substancial na média de público nos estádios e, por consequência, na renda das bilheterias, conforme aponta o estudo da CIES Football Observatory (Observatório de Futebol do Centro Internacional de Estudos de Esporte), publicado em abril de 2019.

O cenário atual, de paralisação dos eventos esportivos em razão da pandemia, vem corroborar os argumentos acima expostos. Neste momento de instabilidade, sem previsão e informações concretas de quando o futebol brasileiro retornará, inclusive se retornará com a presença de público, torna-se imperioso saber o número exato de partidas da principal competição do país, principalmente para facilitar em futuras negociações com patrocinadores e televisão.

É importante salientar que o Campeonato Brasileiro, pela sua extensão e magnitude, é o único campeonato por aqui disputado na fórmula de pontos corridos, podendo os amantes do mata-mata se deleitarem com os demais campeonatos disputados neste formato (Campeonatos Estaduais, Copa do Brasil, Sul-Americana e Libertadores).

Diferentemente da emoção, fator primordial para quem justifica a adoção do mata-mata, a fórmula de pontos corridos baseia-se na razão, que se escora em fatores econômicos e produtivos, responsáveis diretos por desenvolver todos os agentes da indústria do futebol nacional.

Ao que parece, tal entendimento foi escolhido por vários agentes do futebol em recente reunião, realizada em 26 de março entre a CBF e os presidentes de 32 agremiações, onde, dentre outros temas, discutiu-se a fórmula de disputa do Campeonato Brasileiro de 2020, optando-se, por unanimidade, pela manutenção do sistema de pontos corridos, demonstrando claramente oferecer maiores benefícios e vantagens a todos.

Vitória do futebol brasileiro!

*Texto por Vantuil Gonçalves, advogado especializado na área esportiva, membro da Câmara Nacional de Resolução de Disputas da CBF e sócio do T.G Advogados Associados.