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"É como se Deus estivesse me pedindo a conta", diz Pelé sobre saúde

Pelé foi a capa do jornal italiano "La Gazzetta dello Sport" - Reprodução/La Gazzetta dello Sport
Pelé foi a capa do jornal italiano "La Gazzetta dello Sport" Imagem: Reprodução/La Gazzetta dello Sport

14/11/2019 09h35

Resumo da notícia

  • Pelé lamentou os recentes casos de racismo no futebol
  • Ex-jogador garante que está bem de saúde e agradece por não ter tido problemas durante a carreira
  • Pelé relembrou seu milésimo gol e a tensão para cobrar o pênalti
  • Pelé lamentou a ausência de Neymar no título da Copa América
  • Ex-jogador desejou sorte ao analisar o sucesso de Rodrygo no Real Madrid
  • Pelé desejou saúde para que Cristiano Ronaldo alcance sua marca de gols

Considerado o maior jogador da história do futebol, Pelé concedeu entrevista ao jornal italiano "Gazzetta dello Sport" e a agência EFE e abordou diversas questões sobre sua carreira, os talentos brasileiros, casos de racismo e sobre seu estado de saúde. O ex-jogador destacou que está bem de saúde e celebrou por ter conseguido manter uma carreira livre de lesões, mas que agora "é como se Deus estivesse pedindo a conta".

"Graças a Deus, já estou bem melhor. Sempre falo para os amigos, os fãs, que tenho que agradecer muito a Deus, porque eu só tive os problemas de contusão, de fratura, depois que eu parei de jogar futebol. Deus só mandou a conta depois que eu parei. Graças a Deus, agora já estou me recuperando, porque eu tive problema na coluna, no quadril, de menisco, no tornozelo, mas agora já estou começando a andar bem. Mas não dá para jogar ainda", brincou Pelé.

Maior jogador da história, Pelé opinou sobre um problema que existe futebol e na sociedade: os casos de racismo. Ao analisar os recentes episódios envolvendo o atacante Taison e o segurança do Maracanã, o ex-jogador disse enxergar dificuldade no combate ao racismo no futebol.

"No meu tempo também existia isso, provocações. Em alguns lugares, que a gente foi jogar, na Argentina, às vezes no Uruguai, eles falavam. Isso, infelizmente, não dá para dizer que vai terminar. É impossível. Isso é coisa do ser humano, do próprio ser humano. Tem é que se estar preparado para isso. Quando nós fomos para a Suécia, na Copa de 58, eu não tinha muita experiência, estava com a seleção. Eu olhava e só tinha loira, gente branca, e falava com outros jogadores: 'não tem nenhum crioulo aqui?'", revelou Pelé, que continuou:

"Depois, todas as meninas suecas, porque acho que nunca tinham visto negro, queriam ser minhas amigas, falar. Eu disse: 'já melhorou'. Elas vinham conversar, brincar, porque eu era negro. Algumas passaram a mão. Na minha vida, graças a Deus, eu nunca tive problema, pelo contrário. Mas, é uma coisa triste", lamentou o lendário camisa 10 da seleção brasileira e do Santos, em entrevista à Agência EFE.

Pelé garantiu estar se recuperando bem dos problemas recentes de saúde e brincou que está pagando "a conta" da carreira bem-sucedida, além de ressaltar que não haverá outro como ele nos gramados, porque seus pais "já fecharam a fábrica".

Na próxima semana, em 19 de novembro, serão completados 50 anos do milésimo gol. Questionado sobre o feito, Pelé disse guardar a data com um carinho especial.

"Realmente, é algo importante, é um marco importante. Eu não sonhava com uma coisa dessas, foi um presente de Deus. Tudo o que aconteceu, com o milésimo gol, como foi o milésimo gol, são coisas que não têm muita explicação. Eu já tinha feito 999 gols, mas porque o milésimo gol deveria ser de pênalti? Eu ficava pensando que poderia ser normal, e foi a pior coisa para mim, a mais difícil. Antes de bater o pênalti eu pensava: 'eu não posso perder', 'o goleiro não pode defender'. Foi uma experiência maravilhosa", explicou o "Rei do Futebol", que acrescentou:

"A minha preocupação, que é uma coisa que ninguém pode estar passando que eu passei, é que todo mundo acha que pênalti é fácil de bater. Mas, quando eu coloquei a bola na marca do pênalti, todo mundo começou a gritar, vibrar, e eu comecei a tremer, a ficar nervoso. Eu arrumei a bola e quando olhei, os jogadores (do Santos) estavam todos perfilados no meio de campo, aí eu pensei 'e se a bola bater na trave?', 'e se o goleiro rebater?', por que não tinha ninguém do time. O mais difícil foi isso."

Pelé também opinou sobre o atual momento da seleção brasileira. O ex-jogador exaltou a conquista da Copa América, mas lamentou a ausência de Neymar, que ficou fora do torneio por conta de uma lesão no tornozelo.

"Para mim, para nós, que somos santistas, foi bem triste. O Neymar é cria nossa, é cria da Vila (Belmiro), e aconteceu o que aconteceu com ele. Eu pensei: em 1966 (na Copa do Mundo), na Inglaterra, eu também machuquei, no primeiro jogo. É difícil para você, que se prepara para um torneio, para uma Copa do Mundo, mas depois acontece um desastre. É muito triste", explicou Pelé, que analisou a situação do astro no PSG:

"É difícil você analisar o que acontece fora do campo. Parece que está sendo difícil para ele se readaptar à equipe, mas isso é coisa que acontece."

Pelé também comentou sobre a carreira de outro jogador formado na vila: o atacante Rodrygo. O brasileiro vem encantando o técnico Zidane, a imprensa e a torcida do Real Madrid com suas atuações recentes, com direito até a um hat-trick na goleada do Real Madrid sobre o Galatasaray pela Liga dos Campeões.

"É um grande garoto, que ainda não conheço pessoalmente, mas muitas pessoas que estiveram com ele, me disseram que é um bom menino, que tem juízo, então espero que tenha muita sorte."

Cristiano Ronaldo recentemente conseguiu alcançar a marca de 700 gols e o agente dele, Jorge Mendes, disse que o astro português irá superar a marca de gols de Pelé. Questionado sobre o tema, o "Rei do Futebol" disse não ter nenhuma preocupação nesse sentido.

"Não, de jeito nenhum. Espero que ele faça muitos gols. Se puder chegar a 1.000, que chegue a 1.000 só (risos). Mas, falando sério, eu espero que ele tenha muita sorte, porque a quantidade de gols que ele tem já é uma quantidade boa. Espero que ele tenha saúde, força, para chegar a 1.283 gols, que foi a minha marca."

Por fim, Pelé respondeu sobre seu próximo aniversário. O ex-atacante completará 80 anos em 23 de outubro do próximo ano

"Sinceramente, eu acho que é melhor esperar vir normalmente. Se eu chegar bem de saúde, já é uma festa", concluiu o maior jogador da história do futebol.