Topo

Invicto há 790 minutos, Weverton se vê mais preciso do que 'mirabolante'

26/08/2018 08h00

A sequência de oito jogos seguidos sem sofrer gols de Weverton já é a quinta maior na história do Palmeiras. Neste domingo, ele deve ser titular contra o Internacional, às 16h, no Beira-Rio, onde o Verdão tenta se reaproximar da briga pelo título brasileiro, e o goleiro busca dar mais um passo para entrar na história do clube.

O recorde ainda é de Zetti, que em 1987 ficou 12 jogos consecutivos sem ser vazado. Mas se não levar gol em Porto Alegre (RS), Weverton vai igualar 1969 e 1973, quando o Verdão ficou nove partidas com a meta "zerada". Essas são as três maiores sequências no Palmeiras.

O titular diz que a estatística precisa ficar em segundo plano, mas não esconde que os números têm lhe ajudado a se firmar. O último gol sofrido pelo camisa 21 foi há um mês, na derrota para o Fluminense por 1 a 0, no dia 25 de julho. Desde então, 790 minutos sem ser vazado, contando acréscimos.

Antes de viajar ao Sul do Brasil, o goleiro conversou com a reportagem do LANCE!. Durante a entrevista, deu detalhes de sua relação com Jailson, o ex-titular, disse o que melhorou no primeiro semestre em que pouco jogou, e por que seu estilo de jogo é mais discreto, sem defesas espalhafatosas.

- Eu sempre tive para mim que não gosto de ser o goleiro que faz defesas mirabolantes. Porque imagina, tu faz uma defesa que poderia segurar, firme, ligar o contra-ataque, criar uma chance de gol. Tu vai dar um escanteio de graça e sai o gol? Aí você fala: 'p... m..., poderia ter segurado a bola'. Se às vezes a gente está sofrendo uma pressão, tudo que os zagueiros e os atacantes querem é que você segure uma bola para respirar - explicou.

LANCE!: Para quem está se firmando no time, como você, qual a importância destes oito jogos sem sofrer gols?

Weverton: Para mim é motivo de muita alegria, porque a gente sabe como é difícil jogar no gol do Palmeiras, pela tradição, por ter dois caras identificados (Jailson e Fernando Prass), com carinho da torcida, com bom trabalho no passado e presente. Para ganhar confiança e credibilidade da torcida é importante mostrar segurança, ficar sem sofrer gols. Importante neste começo de afirmação, a torcida começar a conhecer meu trabalho e eu podendo ajudar está sendo perfeito. Mas não posso ganhar o crédito sozinho, é mérito da equipe toda, porque desde a chegada do Felipão se mantém um rodízio, não joga só um time, são praticamente dois times com padrão. A gente vê que é o estilo da equipe, não só do goleiro. Mérito para todos pelo momento.

O recorde é de 12 jogos seguidos sem sofrer gols, você já está há oito. É um número que almeja, que pauta seu trabalho?

Lógico que pelo momento muita coisa vem à tona, números, mas de todo o coração: se acontecer vai ser muito bacana, vou ficar muito feliz, o clube, também, os jogadores, todos, também. Mas no momento o importante é vencer as partidas. Temos objetivos e sonhos neste campeonato e temos de vencer. Se vencer sem gols e der para chegar nos 12 (jogos), amém. Se não der, a gente saindo com vitória por 2 a 1, 3 a 2, qualquer que seja o placar, importante os objetivos do Palmeiras primeiro.

Muitos torcedores não entendiam a necessidade de sua contratação, por já ter Jailson e Fernando Prass. Você acompanhou a repercussão quando começou a negociar com o Palmeiras?

Eu acompanhei um pouco da repercussão quando meu nome começou a sair publicamente de que poderia jogar no Palmeiras. Para mim foi uma escolha natural, um motivo de grande alegria, independente da opinião das pessoas estava feliz pela escolha de estar nesta grande equipe. Eu sabia o que ia encontrar, dois caras campeões, com boa história no clube, mas veja, eu também queria meu espaço, com humildade e respeitando sempre os dois. Eles são excelentes pessoas, grandes profissionais que querem também jogar e têm condições disso. Mas esta posição é ingrata, joga apenas um e não dá tanta chance para trocar. Como não tive tanta chance para jogar no primeiro semestre e agora estou jogando, sei que preciso manter uma regularidade, um padrão, porque além de uma cobrança natural pela história do Palmeiras no gol, tem dois teoricamente reservas que estão brigando por seu espaço e com totais condições de jogar. Só aumenta minha responsabilidade de que não posso dar mole, preciso manter um bom nível de atuações, quero ajudar, fazer minha parte bem feita para ter sequência e também marcar meu nome na história, com títulos, que é o que dá vida longa ao atleta no clube, credibilidade ao torcedor e respaldo para ter anos no clube, que é o meu plano aqui.

Falar em manter o nível enquanto joga é compreensível. Mas como foi deixar o Atlético-PR, onde fez história, e trabalhar sendo até terceiro goleiro em uma parte do ano no Palmeiras?

Eu gosto de ser muito sincero quando falo disso, eu aliás sou bem sincero. Quando eu vim para o Palmeiras tinha o pensamento de Seleção porque era algo real, pelas minhas convocações com o Tite, por estar perto da Copa (do Mundo). Eu pensei que se chegasse, tinha certeza que o Palmeiras ia começar bem, poderia dar o respaldo para ir à Seleção. Logo de cara meus planos foram frustrados. O Roger, de repente sem chegar e ter uma conversa com os goleiros para falar: 'ó, você é a segunda opção, você é a terceira opção', ele simplesmente foi e falou. Não fui contestar a decisão dele, ele falou e eu continuei trabalhando, só busquei trabalhar, procurar melhorar no que tinha de melhorar e principalmente aprender com os dois. Tenho uma proximidade maior com o Jailson, ele pôde me contar um pouco da história, de como ele chegou aqui, de esperar seu momento. Tem sido um cara muito legal neste sentido. E legal de trabalhar. Muitas vezes eu saía do Allianz Parque sem jogar, ia bem tarde para a academia do prédio para estar bem e manter a forma, porque sabia que a chance ia chegar. Não sabia quando, mas quando viesse eu precisaria estar pronto. Para quem chega, de repente não tem outra chance: se você de cara vai mal, dificilmente vai ter outra oportunidade. Tinha de entrar e mostrar que tinha capacidade. Segui com humildade e a oportunidade chegou. Foi no tempo certo de Deus, as coisas acontecem na minha vida no tempo de Deus e tem fluído naturalmente. Tem sido jogos bons, eu tenho conseguido passar segurança primeiro aos meus companheiros e depois à torcida. Tem sido legal para meu primeiro contato mostrar toda a confiança para a torcida. Tenho recebido mensagens legais e espero seguir nesta pegada, para juntos fazermos um grande ano e colhermos frutos.

Seu estilo de jogo chama a atenção por duas coisas: defesas seguras, evitando o rebote, até na contramão de alguns goleiros no Brasil, e a ligação de contra-ataque com as mãos. Como você criou este estilo?

É um estilo meu, que o Oscar (Rodriguez, preparador de goleiros do Palmeiras) também cobra bastante: 'filho, tenta segurar a bola'. Ele incentiva muito nisso. Então nos seis meses que fiquei praticamente só treinando, abriu meus olhos neste sentido, para tentar dar o mínimo de rebote, sair mais de dentro do gol, dar um passinho quando cruzar a bola na área. Tem me ajudado bastante. Ontem (quinta) mesmo agradeci a ele por cobrar isso, pois me ajudou principalmente na saída do gol, para tentar ligar o contra-ataque e está quase saindo o gol. O Dudu me deveu essa (contra o Botafogo), mas já falei para ele que na próxima ele vai acertar e daqui a pouco vamos conseguir fazer o gol que é difícil de ver, com o goleiro jogando rápido e acabar dentro do gol. Víamos muito antes, mas hoje vemos pouco no futebol, o contra-ataque direto do goleiro ao gol. Trabalho muito neste sentido, é meu estilo de jogo, não gosto de fazer defesas que tenha de saltar muito, gosto de ser um goleiro mais simples, tranquilo, mais preciso e aparecendo com menos defesas mirabolantes. Quando precisar vou fazer, mas meu estilo é de mais firmeza e estou conseguindo passar isso.

Você diz que gosta de ver muitos jogos de futebol. Tem algum goleiro que sirva de espelho hoje em dia?

Eu sou um fanático por futebol. Vejo jogos por 24h se deixar, estou sempre vendo VT da rodada inteira, fico assistindo no computador aos goleiros, mas hoje não tenho nenhum goleiro especificamente que busco como referência. O Marcos foi uma referência, por ser simples, carismático, alguém que não só os palmeirenses gostavam, mas todos os torcedores brasileiros. Foi um cara que eu sempre gostei, pela simplicidade e humildade que ele passava. Era um grande pegador de pênalti, grande goleiro. Uma grande referência, como o Taffarel, que estava sempre bem posicionado. São dois espelhos para mim e que me geram admiração até hoje.

Você chegou no Palmeiras pensando em Seleção, mas perdeu terreno. Agora titular e com um novo ciclo, sonha em ter outra oportunidade com Tite?

Óbvio que é sempre o pensamento, mas o mais importante é meu momento no Palmeiras. Quero estar bem aqui, fazendo bons jogos, com segurança e a atual pegada. Se acontecer mais para frente (a convocação) vou ficar feliz, o que importa é meu trabalho ser bem feito, com qualidade, ajudando o Palmeiras. Todo jogador quer estar na Seleção, mas estou muito feliz no Palmeiras. Se não acontecer vai ser natural e normal. Vou seguir feliz com meu trabalho, procurando o melhor pelo Palmeiras.