Luiz Fernando Gomes: 'Diego, do sonho ao pesadelo no Flamengo'
Uma convocação para a Seleção Brasileira pode fazer mal a um jogador. Sim, a afirmação parece embutir um paradoxo, afinal vestir a camisa amarelinha é o sonho acalentado por todo moleque desde o momento em que passa pelas peneiras das escolinhas. Mas a discussão ganha sentido quando observamos dois casos recentes, por coincidência - ou não - de jogadores do Flamengo. Primeiro, no ano passado, o goleiro Muralha. E agora Diego.
No embarque da delegação rubro-negra para Fortaleza, onde enfrenta neste domingo o Ceará, Diego foi o ?alvo principal dos protestos dos torcedores, insatisfeitos com o seu desempenho e os resultados do time nesse início de temporada. Uma situação extrema, completamente diferente daquele julho de 2016 quando desembarcou no Rio aclamado pela galera, numa recepção como há muito não se via para um jogador do Flamengo. E essa lua de mel durou um bom tempo, ?ele logo assumiu o papel de líder do elenco e levou o Fla à terceira colocação do Brasileirão, chamando a atenção de Tite.
O meia acabou chamado para a Seleção, no ?Jogo da ?Amizade, contra a Colômbia. Mesmo sendo um amistoso, beneficente e sem nenhum valor esportivo, para um jogador de 33 anos, que ficou sete anos afastado das convocações, ter sido lembrado ali foi algo que injetou ?novas ?energias, renovou esperanças - inclusive de disputar a Copa.
Uma esperança reforçada quando voltou a ser convocado para os jogos das eliminatórias contra a Bolívia, em La Paz, e o Chile, em São Paulo. Embora já não vivesse a boa fase dos primeiros meses de chegada ao Flamengo - houve a contusão no joelho direito que o tirou por um bom tempo dos gramados - o nome de Diego foi defendido por Tite:
- É um armador, articulador. Tem essa grande capacidade, fora todo o passado. A camisa do Brasil não fica pesada nele. Temos que aproveitar o tempo. Faltam nove meses, temos que ter jogadores preparados. A qualidade, mesmo o momento não sendo o da sua plenitude, a função que exerce e a capacidade que tem lhe dão condições de desempenhar bem - disse o técnico
Seja por não ter atendido a tantas expectativas do treinador, ou simplesmente por terem surgido opções melhores, o fato é que Diego não foi mais chamado, desde então. E, se a fase no Flamengo já não era boa, a partir daí só piorou. É difícil precisar o quanto o esquecimento nas listas de convocados pode ter influenciado na queda de rendimento. Mas às vezes, de fato, a sensação que ?deixa é ?a de? que jogou a toalha, perdeu o encanto pelo jogo ao ver desfeito seu sonho de disputar a Copa. Não que tenha virado pipoqueiro, não que tenha vestido os chinelinhos da acomodação de forma deliberada. É, explicam os psicólogos esportivos, um processo intuitivo, não intencional e difícil de ser rompido. Conquistar títulos é um bom, talvez o único antídoto.
A situação de Diego, guardadas as proporções - o caso do goleiro foi muitíssimo mais grave - é muito semelhante a que foi vivida por Muralha. Escolhido à época do Figueirense um dos melhores do Brasil, chegou à Gávea como reserva, caiu nas graças do torcedor que cobrou sua efetivação. barrando Paulo Vitor. Teve atuações decisivas que também o levaram à seleção. De onde saiu, preterido nas listas seguintes, da mesma forma sorrateira como chegou. E Muralha nunca mais voltou a ser o mesmo, foi acumulando falhas cada vez mais grotescas até virar chacota. Terá desaprendido a agarrar? Não pode ser. Que peso terá tido o chamamento e o esquecimento de Tite na transformação do sonho em pesadelo?
Muralha foi respirar novos ares no Japão, tentar começar tudo de novo. O futuro de Diego no Ninho do Urubu, depois dos episódios de sexta-feira, é incerto. Protestar é um direito incontestável do torcedor. Qualquer ameaça de agressão é injustificável. Manifestações civilizadas e no tom correto é o que se espera. Diego é craque. É, e sempre foi, um jogador de seleção. A preocupação do Flamengo, o objetivo do torcedor, deveria ser resgata-lo. Fazê-lo reencontrar o bom futebol. Não expulsá-lo, nem culpá-lo por algo que a culpa não é dele. Ou pelo menos só dele.
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